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Empresas & Negócios

- Publicada em 04 de Maio de 2020 às 03:00

RK Partners prevê que mais de 500 grandes empresas terão de se reestruturar

Ricardo K, como é conhecido, foi responsável pela reestruturação do Grupo X e da Odebrecht

Ricardo K, como é conhecido, foi responsável pela reestruturação do Grupo X e da Odebrecht


AVENER PRADO/FOLHAPRESS/JC
Agência Estado
À frente de 120 reestruturações corporativas e da renegociação de R$ 180 bilhões em dívidas nos últimos 10 anos, Ricardo Knoepfelmacher, sócio da consultoria RK Partners, calcula que ao menos 500 grandes empresas brasileiras terão de passar por esse processo, em decorrência da crise detonada pelo novo coronavírus. Ricardo K, como é conhecido, foi responsável pela reestruturação do Grupo X, de Eike Batista, e da Odebrecht, maior recuperação judicial do País.
À frente de 120 reestruturações corporativas e da renegociação de R$ 180 bilhões em dívidas nos últimos 10 anos, Ricardo Knoepfelmacher, sócio da consultoria RK Partners, calcula que ao menos 500 grandes empresas brasileiras terão de passar por esse processo, em decorrência da crise detonada pelo novo coronavírus. Ricardo K, como é conhecido, foi responsável pela reestruturação do Grupo X, de Eike Batista, e da Odebrecht, maior recuperação judicial do País.
Em meados do ano passado, o senhor avaliava que pelo menos 800 empresas médias precisariam passar por reestruturação no Brasil. Qual o cenário agora?
Ricardo Knoepfelmacher - O cenário ficou muito mais complicado depois da pandemia da Covid-19. Setores inteiros tiveram queda abrupta de faturamento, e alguns nunca mais vão voltar a ser o que eram. Das mil maiores empresas brasileiras, 240 foram gravemente afetadas. A situação, que antes estava muito localizada nas empresas médias, agora, perpassa todas. Das pequenas, muitas vão desaparecer. As médias ficaram muito doentes, e as grandes, que, no geral, passavam bem, foram gravemente afetadas em vários setores. Em geral, os pequenos empreendedores têm, no máximo, dois meses de caixa para sobreviver. Está havendo uma epidemia no judiciário de pedidos de liminares para o não pagamento de dívidas.
Essas grandes empresas precisarão se reestruturar?
Ricardo K - Mais de 500 empresas grandes, com faturamento de mais de R$ 500 milhões por ano e dívida acima de R$ 300 milhões, precisarão se reestruturar. Monitoramos empresas com dívida de mais de três vezes em relação ao Ebitda (geração de caixa, antes de lucros, impostos, depreciação e amortização), muito alavancadas. Não descarto que, dessas 500, uma centena tenha pedidos de recuperação judicial.
Quais serão os setores mais atingidos pelo coronavírus?
Ricardo K - Os setores mais afetados e com grandes incógnitas sobre seu futuro - e essa é uma grande diferença - são aviação, entretenimento, restaurantes, turismo e hotelaria. Há um segundo grupo muito afetado, que são empresas de óleo e gás, e usinas de açúcar e álcool. Elas sofreram um problema duplo, com a pandemia seguida da queda de preços do petróleo. No varejo, o aumento do faturamento com comércio eletrônico não compensa a queda nas lojas físicas. É um setor com margem muito baixa e que deve enfrentar grandes problemas. Têxtil, logística, construção e engenharia, empreendimentos imobiliários e venda de veículos também.
Haverá espaço para reestruturação ou muitos irão falir?
Ricardo K - Hoje, o pedido de recuperação judicial não funciona bem para uma empresa pequena. É um processo caro. Estamos discutindo o tema com juristas. Muitas vão fechar. Nas médias e grandes, daqui a três meses, veremos uma enxurrada de pedidos de recuperação judicial.
Qual a diferença da crise provocada pelo coronavírus e de anteriores, como a de 2008?
Ricardo K - A única analogia possível é com a crise de 1918 (gripe espanhola), que ocorreu em um mundo não conectado. Nunca houve algo parecido. A crise do Lehman Brothers (2008) não é igual. Temos, hoje, um choque de ausência de demanda. Por uma decisão dos governos, setores inteiros da economia tiveram de parar durante meses. A única coisa parecida que tivemos no Brasil foi a Lava Jato no setor de infraestrutura e construção, quando as empresas perderam seu principal cliente, o governo, e perderam de 70% a 90% de seu faturamento. A diferença, agora, é que nós não sabemos quando vai acabar.
A crise afetará empresas já em processo de reestruturação?
Ricardo K - Os credores, em geral, reconhecem que esta situação é muito grave e sem precedentes. Quando os pleitos são legítimos, os credores estão abertos a negociar e, em geral, adiam vencimentos de dívidas, com ou sem auxílio judicial. Haverá uma segunda etapa, na qual essas postergações irão machucar os balanços dos bancos.
Como o senhor avalia as medidas de socorro às empresas tomadas pelo governo?
Ricardo K - Apesar de ir na direção certa, o pacote (de ajuda) do governo tem dois grandes problemas. O primeiro é que países desenvolvidos, sem a iniquidade social do Brasil, liberaram entre 8% e 12% do PIB para soluções de diminuição da angústia econômica. Aqui, não chega a 5%. Independentemente da ideologia, o Estado tem de atuar. Aí vem o segundo problema do remédio brasileiro: o País tem, hoje, um governo com aspiração liberal, com dificuldade de entender como ser intervencionista em uma crise.
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