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Empresas & Negócios

- Publicada em 03 de Fevereiro de 2020 às 03:00

Empreendedores negros têm crédito negado sem explicação

Pesquisa mapeou os perfis e dificuldades do afroempreendedorismo no Brasil

Pesquisa mapeou os perfis e dificuldades do afroempreendedorismo no Brasil


/PRESSFOTO VIA FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
No auge de sua agência de comunicação, o empresário Sergio All, 45, percebeu que a tecnologia evoluía constantemente e, portanto, precisava investir mais no seu negócio para acompanhá-la. Decidiu, então, pedir crédito pessoal ao banco do qual era cliente havia dez anos e, para a sua surpresa, teve o não como resposta. "Na hora eu queria entender por que eu não poderia ter esse acesso", afirma o empresário. "Eu tinha uma agência que movimentava muito dinheiro, tinha todo o score [pontuação do Serasa] necessário. Eu não era diferente dos outros."
No auge de sua agência de comunicação, o empresário Sergio All, 45, percebeu que a tecnologia evoluía constantemente e, portanto, precisava investir mais no seu negócio para acompanhá-la. Decidiu, então, pedir crédito pessoal ao banco do qual era cliente havia dez anos e, para a sua surpresa, teve o não como resposta. "Na hora eu queria entender por que eu não poderia ter esse acesso", afirma o empresário. "Eu tinha uma agência que movimentava muito dinheiro, tinha todo o score [pontuação do Serasa] necessário. Eu não era diferente dos outros."
O caso de Sergio All não é isolado. Apesar de movimentarem R$ 1,7 trilhão por ano, 32% dos empreendedores pretos e pardos tiveram um ou mais pedidos de crédito negados por seus bancos, sem que fossem esclarecidas as razões. É o que diz o Estudo do Empreendedorismo Negro no Brasil, levantamento inédito realizado pela PretaHub em parceria com Plano CDE e JP Morgan.
A pesquisa entrevistou 1.220 pessoas negras e brancas em todo o País, de todas as classes sociais, para mapear os perfis e principais dificuldades do afroempreendedorismo.  Publicitário e especialista em finanças, All tomou o episódio como estímulo para criar seu próprio banco, voltado especialmente à população negra e de baixa renda. "Um pouco depois [de ter o crédito negado] eu fui entender que foi uma questão social, racial e seletiva, o que me fez ir além", conta. "Eu me perguntei: quantos caras iguais a mim passam por isso?"
Nascido na periferia de São Paulo, o empresário conhecia as dificuldades financeiras do público que queria impactar. Em 2017, fundou a Conta Black, primeira conta digital criada por negros entre as mais de 500 fintechs -startups voltadas ao serviço financeiro- do Brasil.
A novidade, que por enquanto atua em cinco estados brasileiros, já tem 3.000 contas cadastradas e quer chegar às 50 mil ainda neste ano. Para isso, tem promovido a desburocratização do acesso a serviços financeiros por meio de taxas mais baixas e atendimento transparente.
Querendo se distanciar do termo "banco" e se aproximar do que a equipe chama de pessoalidade, a Black quer ampliar uma nova onda, a das chamadas "comunidades financeiras", na qual é pioneira.
A proposta dessas comunidades é focar na base da pirâmide, ou seja, os desbancarizados. De acordo com o Instituto Locomotiva, 45 milhões de brasileiros são excluídos do sistema bancário de crédito.
A sede pelo impacto social se alia também ao potencial rentável do segmento. Ainda que excluídos, os desbancarizados movimentam R$ 817 bilhões ao ano no Brasil.
Apesar dos benefícios oferecidos a empreendedores negros, como ferramentas de educação e gestão financeira de negócios, são poucos os que concordam com a interpretação que deu vida à fintech.
Isso porque, ainda de acordo com o Estudo, apenas 3% dos empreendedores negros acreditam que a dificuldade de acesso a crédito esteja ligada à questão racial.
Para a empreendedora social Adriana Barbosa, vencedora do Troféu Grão 2019 e fundadora da PretaHub e da Feira Preta, o mapeamento feito pela pesquisa é necessário para que seja atribuída ao empreendedorismo negro uma narrativa de potência no lugar da escassez.
Um exemplo dessa escassez seria a dificuldade de acesso ao crédito, que ela considera uma consequência do racismo institucionalizado no Brasil.
"Os negros estão em desvantagem há muitos anos e de forma sistemática, e essa exclusão faz com que não nos encaixemos nos critérios dos bancos de acesso ao crédito", diz a integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.
O produtor audiovisual e empreendedor Rodrigo Portela, 31, era correntista do mesmo banco havia mais de cinco anos e também teve seu pedido de crédito pessoal negado na primeira vez em que precisou.
O episódio, semelhante ao de Sergio All, o levou a adotar comportamento diferente em relação às finanças. Ele é fundador da Terra Preta Produções -produtora audiovisual voltada ao público negro desde 2017- e, após ser deixado na mão pelo banco, trabalhou para que seu negócio se tornasse completamente sustentável, sem dar passo maior que a perna.
Portela também defende que os pedidos de crédito negados aos empreendedores negros sem explicação estão ligados à questão racial. Ele diz que decidiu pedir empréstimo ao banco, no início da Terra Preta, devido à propaganda do "crédito fácil" feita pelo dono da produtora em que trabalhava antes.
"Ele pegava crédito no banco todo mês para poder pagar a gente, dizia que era 'de boa'. E, logo na primeira vez que tentei, não consegui", diz o empreendedor. "Mas é claro: ele era branco, eu não."
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