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Finanças pessoais

- Publicada em 01 de Dezembro de 2019 às 22:07

Reformas empolgam investidor local, mas estrangeiro resiste a voltar à B3

Câmbio também sofre pressão da saída dos recursos

Câmbio também sofre pressão da saída dos recursos


GERD ALTMANN VIA PIXABAY/DIVULGAÇÃO/JC
O capital de investidor estrangeiro não dá sinais de que vá voltar com força tão cedo à bolsa brasileira. Em 2018, depois de episódios como a greve dos caminhoneiros e as incertezas no período de eleições, o ano fechou com saldo negativo de R$ 5,6 bilhões desses recursos. A expectativa para 2019 era de retomada desses investimentos, fundamentada principalmente na aprovação da reforma da Previdência, que foi promulgada há algumas semanas. Mas o ano tem tido recordes de saídas: no acumulado até 11 de novembro, segundo dados da B3, o saldo está negativo em R$ 5,9 bilhões.
O capital de investidor estrangeiro não dá sinais de que vá voltar com força tão cedo à bolsa brasileira. Em 2018, depois de episódios como a greve dos caminhoneiros e as incertezas no período de eleições, o ano fechou com saldo negativo de R$ 5,6 bilhões desses recursos. A expectativa para 2019 era de retomada desses investimentos, fundamentada principalmente na aprovação da reforma da Previdência, que foi promulgada há algumas semanas. Mas o ano tem tido recordes de saídas: no acumulado até 11 de novembro, segundo dados da B3, o saldo está negativo em R$ 5,9 bilhões.
Em meados de agosto, o acumulado superou as perdas no mesmo período de 2008, ano da crise econômica global. Em outubro, o saldo foi pior do que no mesmo mês de 2018, período eleitoral: R$ 8,4 milhões no vermelho ante R$ 6,2 milhões de um ano atrás. Alguns dos efeitos desse desinteresse estrangeiro pelo Brasil são a desvalorização cambial e a espera adiada de uma valorização mais intensa dos ativos. Para o economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito, a espera da volta do capital que vem de fora do País ainda pode demorar e frustrar expectativas.
"As reformas empolgaram o investidor local. Além disso, os juros mais baixos empurraram esse cliente para a Bolsa em busca de rentabilidade, o que levou à valorização do Ibovespa. Nesse processo, teve gente que comprou na esperança de vender os papéis na alta para o estrangeiro. Mas o estrangeiro não é bobo, não vai comprar o ativo mais caro em um momento em que a América Latina está tão confusa", diz Perfeito. Ele comenta ainda que o investidor estrangeiro está mais reativo. "Eles vão esperar os resultados das reformas e não apostar nas expectativas."
O descolamento entre as altas e quedas do Ibovespa e as entradas e saídas de recursos estrangeiros no País podem ser observadas desde as eleições de 2018. Com a maior presença de pessoas físicas investindo na Bolsa de Valores e a crescente alocação de fundos de investimento em renda variável, a confiança local tem sustentado recordes de valorização do Ibovespa.
Até outubro, eram mais de 1,5 milhão de CPFs cadastrados na B3, e o índice chegou à marca histórica de 108 mil pontos. "O mercado está um pouco decepcionado com a saída do estrangeiro. O fluxo interno tem contribuído para as altas da bolsa. Agora, seria melhor com investidor de fora colocando dinheiro", diz Luís Sales, analista da Guide Investimentos.
Para além da expectativa adiada de um "boom" dos ativos com entrada de capital estrangeiro, o câmbio também sofre pressão da saída dos recursos. "Entre 2011 e 2012, os estrangeiros tinham 22% da dívida brasileira, hoje têm cerca de 11%. Isso se reflete no risco país e na alta do dólar", explica o economista do BTG Digital, Álvaro Frasson. Segundo ele, nesse contexto, novas altas da bolsa não devem ser motivadas pela política monetária (mais cortes na taxa básica de juros da economia): "Os juros já estão precificados na Bolsa."
A Selic está em seu nível mais baixo - 5% ao ano - e é esperada mais uma redução em dezembro.Para ele, o otimismo do estrangeiro em relação ao Brasil deve aumentar quando os indicadores de crescimento do País voltarem a avançar. Frasson afirma ainda que os recordes registrados na Bolsa são frutos de uma visão local: "O Ibovespa, para quem olha os valores em dólar, está longe das máximas."
A falta de empolgação com o mercado brasileiro ficou evidente em eventos recentes, nos quais se esperava maior participação do capital externo. Na última semana, a oferta secundária de ações ("follow on") do Magazine Luiza, que tinha expectativa de vender 60% dos papéis para estrangeiros, terminou com apenas 40% nas mãos de aplicadores externos. O restante ficou com investidor local.
É justamente no aumento de demanda interna e no fato de que o brasileiro ainda investe pouco em ativos de renda variável que está a grande aposta de quem tem expectativas positivas para o mercado local, mesmo sem recursos de fora do País.

Aplicadores apostam em alternativas mais arrojadas

Renda fixa mais conservadora, como a poupança e os fundos DI, deve render menos que a inflação em 2020

Renda fixa mais conservadora, como a poupança e os fundos DI, deve render menos que a inflação em 2020


ZAOZAA09-FREEPIK/DIVULGAÇÃO/JC
Com a queda dos juros ao piso histórico, a renda fixa mais conservadora - de aplicações como a poupança e os fundos DI - deve render menos que a inflação em 2020. Para recuperar a rentabilidade, os investidores estão migrando para investimentos mais arrojados dentro da renda fixa, como títulos de crédito privado. Nesta categoria, estão aplicações como debêntures (títulos de dívida), Letras de Crédito Agrícola (LCA) e Imobiliária (LCI) e Certificado de Depósito Bancário (CDB). Mas especialistas alertam para o risco elevado de alguns desses papéis e lembram que nem sempre o retorno compensa.
A própria migração dos investidores para essas alternativas acabou reduzindo o retorno desses títulos. Com a demanda aquecida, as empresas estavam conseguindo emiti-los com maior prazo e menor prêmio de risco - juros pagos acima daqueles dos títulos públicos de baixo risco.
O resultado foi que os retornos passaram a não compensar o risco, reduzindo o apetite pelos papéis. Isso obrigou à chamada "reprecificação" de algumas emissões, que tiveram que oferecer juros maiores para atrair investidores. "Houve um movimento grande rumo ao crédito privado em busca de rentabilidade este ano. Aí, as empresas aproveitaram para captar barato", explica Daniel Pegorini, da Valora Investimentos. "Agora, o mercado está se reajustando e pedindo mais retorno."
Segundo Arturo Profili, da gestora Capitânia, há poucos meses, as debêntures de infraestrutura - títulos de dívida emitidos por empresas para financiar projetos e que têm isenção de Imposto de Renda (IR) - estavam pagando juros entre 0,5 e 1 ponto percentual acima dos títulos públicos. "Já pagam prêmio de 1 a 2,5 pontos, voltando a ficar interessantes e a justificar o risco", completa.
Especialistas recomendam aumentar a exposição ao crédito privado para aumentar a rentabilidade da carteira, uma vez que a expectativa de retomada da economia e o cenário de juros baixos são favoráveis às empresas. Mas eles ponderam que esses papéis oferecem risco e que essa conjuntura econômica pode mudar, principalmente no longo prazo.
Os títulos de crédito privado só podem ser resgatados no vencimento e, em caso de insolvência da empresa, o investidor pode não receber nada. Por isso, quanto pior for a situação financeira da empresa e maior for o prazo, maiores devem ser os juros oferecidos.
"É preciso analisar o risco e, acima de tudo, diversificar. Títulos com as melhores avaliações de crédito e com garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) podem ser comprados diretamente pelo investidor. Já para aplicar em ativos mais arriscados, é melhor fazer via fundos de crédito privado", orienta Henrique Bousquat, da All Investimentos.
Títulos de bancos são cobertos pelo FGC, que garante pagamento de até R$ 250 mil em caso de calote. Devido às garantias e ao pouco apetite por crédito na economia, os grandes bancos não têm oferecido boas taxas de retorno em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs).
Segundo a RB Investimentos, para render acima da inflação ao ano com a taxa Selic em 5%, um CDB teria que render ao menos 89% do CDI (taxa de referência que acompanha a Selic de perto), enquanto as letras de crédito deveriam pagar ao menos 74% do CDI. Se a Selic cair a 4,5% ao ano - cenário provável -, os percentuais subiriam a 96% e 82% do CDI, respectivamente. O cálculo considera alíquota de 15% de IR - que incide sobre o CDB, mas não sobre as letras de crédito - para aplicações com dois anos de prazo.
Grandes bancos raramente entregam juros elevados como esses. Por isso, a recomendação é procurar retornos maiores em papéis de bancos pequenos e médios, mas sempre respeitando o limite do FGC. Para consultores, as melhores oportunidades estão em títulos corporativos - que não têm FGC -, sobretudo os isentos de IR, como debêntures incentivadas e Certificados de Recebíveis Imobiliários e Agrícolas (CRI/CRA). "Em títulos pós-fixados, recomendamos os que pagam o CDI mais juro fixo, o que garante retorno mesmo com oscilações da Selic", diz Beatriz Aguiar, da RB.

Cena global afasta aportes internacionais

O receio de uma desaceleração global e a guerra comercial entre China e Estado Unidos, que se arrasta desde 2018, já seriam razões suficientes para diminuir o apetite por risco do investidor internacional. Além disso, o cenário vivido na América Latina, com suspeitas de fraude eleitoral na Bolívia, protestos no Chile e a eleição de Alberto Fernando e Cristina Kirchner na Argentina, contribuem ainda mais para a falta de confiança no mercado brasileiro.
"A situação da economia mundial andou de lado. A percepção de risco não mudou. De longe, o gringo vê a América Latina e os emergentes de uma forma só, parecida", diz o economista da corretora BTG Digital, Álvaro Frasson.
Para o professor do Insper, Michel Viriato, o medo de recessão global é menor hoje do que há um ano, mas não pode sair do radar do investidor. "Se surgir uma tempestade internacional, o Brasil, que não se recuperou completamente, sofreria muito."

Cheque especial ainda é opção mais cara

Cadastro positivo pode ajudar a medir o risco de inadimplência de cada cliente

Cadastro positivo pode ajudar a medir o risco de inadimplência de cada cliente


MARCO QUINTANA/JC
A Caixa Econômica Federal anunciou a redução dos juros do cheque especial para 4,99% ao mês - o que representa a melhor taxa para a modalidade em todo o mercado brasileiro. Anteriormente, os juros do cheque especial na Caixa variavam entre 8% e 13% ao mês. A nova taxa é destinada a correntistas que possuem relacionamento com a instituição, ou seja, que possuem cartão de crédito, cesta de serviços e também recebem salário na Caixa. As novas condições estão disponíveis desde 1 de dezembro.
Apesar do corte, o cheque especial segue sendo uma das piores opções para quem precisa de crédito. Enquanto a taxa do produto na Caixa está em cerca de 79,3% ao ano, os juros médios do crédito não consignado da instituição eram de 45,3% ao ano na última semana de outubro, de acordo com dados do Banco Central.
Isso significa que um rombo de R$ 2 mil no cheque especial representa uma dívida de R$ 3.587,52 ao fim de 12 meses. Se o cliente solicitasse um empréstimo não consignado para arcar com a dívida, o montante chegaria a R$ 2.905,02 no mesmo período - a simulação não representam o chamado custo efetivo total, que inclui, além da taxa nominal de juros, seguros e eventuais tributos como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
A situação pode ser ainda pior para quem busca crédito em outras instituições. A taxa média do cheque especial em setembro, segundo o Banco Central, ficou em torno do 307% ao ano.
Os juros do Santander são os mais elevados entre os cinco grandes bancos e chegam a 420% ao ano. Entre outubro de 2016 - quando começaram os sucessivos cortes na taxa Selic, a taxa básica de juros da economia - e setembro de 2019, a média de juros do cheque especial passou de 328,52% para 307,58% ao ano.
De acordo com Annalisa Dal Zotto, planejadora financeira e sócia da Par Mais, a suposta falta de garantia de pagamento do cheque especial não explica as altas taxas, especialmente se comparadas a outras modalidades como o crédito não consignado. "Não tem nada que justifique. Existem alguns fatores que oneram, como impostos e depósito compulsório, mas é um lucro muito alto dos bancos."
Para Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), ao não considerar o risco de inadimplência individual as instituições financeiras acabam punindo os bons pagadores com altas taxas. "Quem concede o cheque especial, que já está pré-aprovado, é o próprio banco. Se houver uma melhor gestão de concessão, essas taxas podem cair muito." Para ele, o cadastro positivo deveria ser a ferramenta utilizada para medir o risco de inadimplência de cada cliente.