Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Empresas & Negócios

- Publicada em 01 de Julho de 2019 às 03:00

Cooperativa caxiense amplia mercado de alimentação

Marcos Carlos Regelin, gerente técnico operacional do CAAF

Marcos Carlos Regelin, gerente técnico operacional do CAAF


CAAF/DIVULGAÇÃO/JC
Roberto Hunoff
A lei federal que instituiu, em 2009, a obrigatoriedade de que pelo menos 30% da alimentação das escolas públicas deveriam ser supridos por produtos da agricultura familiar mobilizou 30 produtores rurais, em Caxias do Sul, para a criação de uma cooperativa. Uma década depois, a Cooperativa de Agricultores e Agroindústrias Familiares de Caxias do Sul (CAAF) é composta por 270 associados, abastece, além de instituições de ensino públicas municipais e estaduais, organismos federais, como universidades, institutos de educação, hospitais e guarnições militares. Alinhada com as novas tendências de alimentação, prepara investimento em estrutura própria para ingressar no mercado de hortigranjeiros minimamente processados e higienizados. De acordo com Marcos Carlos Regelin, gerente técnico operacional, o aporte de até R$ 2,5 milhões também permitirá estender a presença aos segmentos tradicionais do comércio. A quase totalidade dos sócios é de Caxias do Sul, representando em torno de 10% do total de agricultores em atividade na cidade.
A lei federal que instituiu, em 2009, a obrigatoriedade de que pelo menos 30% da alimentação das escolas públicas deveriam ser supridos por produtos da agricultura familiar mobilizou 30 produtores rurais, em Caxias do Sul, para a criação de uma cooperativa. Uma década depois, a Cooperativa de Agricultores e Agroindústrias Familiares de Caxias do Sul (CAAF) é composta por 270 associados, abastece, além de instituições de ensino públicas municipais e estaduais, organismos federais, como universidades, institutos de educação, hospitais e guarnições militares. Alinhada com as novas tendências de alimentação, prepara investimento em estrutura própria para ingressar no mercado de hortigranjeiros minimamente processados e higienizados. De acordo com Marcos Carlos Regelin, gerente técnico operacional, o aporte de até R$ 2,5 milhões também permitirá estender a presença aos segmentos tradicionais do comércio. A quase totalidade dos sócios é de Caxias do Sul, representando em torno de 10% do total de agricultores em atividade na cidade.
Empresas & Negócios – Qual a importância da CAAF não apenas para o segmento agrícola, mas para a economia em geral?
Marcos Regelin – Com a lei da alimentação escolar, entendemos que era hora de organizar os produtores para ter acesso ao mercado que surgia. Começamos com escolas estaduais para avaliar a viabilidade, ao mesmo tempo em que fizemos um trabalho de convencimento dos agricultores, que ainda têm certa resistência ao cooperativismo. Em 2015, a lei foi ampliada para quarteis, universidades e institutos federais, e hospitais públicos. Hoje, além do produto in natura, temos 15 agroindústrias familiares, que resgatam as receitas e habilidades tradicionais. Isto representa mudança de hábitos, um grande divisor, com os alunos voltando a consumir produtos locais. Também movimenta a economia, porque tem verba federal. Antes, este recurso era gasto em licitações com grandes empresas, inclusive de fora do estado. Agora, é distribuído entre os agricultores locais, que ocuparam um espaço que não era dele, mas de empresas que compravam a preços aviltados, e não trabalhavam o mercado de forma justa.
Empresas & Negócios – Qual a estrutura atual da cooperativa?
Regelin – Ocupamos uma área locada, geramos 18 empregos diretos e terceirizamos o transporte das mercadorias dentre 15 freteiros. Quando a lei foi criada não se tinha ideia da dimensão deste mercado, de quantas cooperativas poderiam surgir em cima de uma política pública, no estado temos em torno de 50. A nossa estrutura é enxuta, mas que vem apresentando bons resultados. Recentemente, conseguimos comprar um terreno, já pago, onde vamos iniciar o projeto próprio.
Empresas & Negócios – No que consiste este projeto?
Regelin – A partir de 2020 teremos uma planta própria, de 1,5 mil m², que vai gerar de 20 a 25 empregos. Com investimento avaliado entre R$ 2 milhões e R$ 2,5 milhões, incluindo equipamentos, teremos uma unidade para produtos processados e higienizados, a grande novidade no nosso mercado. Sempre digo aos agricultores: ou a gente faz isto ou voltaremos a ser integrados. No passado, o frango só era vendido inteiro, hoje se compra a parte que se quer. Assim será com os hortis. Estamos preparando o agricultor para este novo momento, para que ele não fique à margem. O novo prédio terá dois pavimentos: na parte inferior, seguiremos com a distribuição dos produtos in natura; na superior, teremos a planta de processados. Já estamos sendo procurados por hospitais, que serão fortes clientes. Eles estão evitando levar às suas cozinhas grandes volumes de alimentos in natura para reduzir a mão de obra, mas principalmente para evitar contaminações. A cooperativa está se preparando para atender às novas demandas da segurança alimentar.
Empresas & Negócios – Isto pode abrir negócios no mercado convencional, junto a supermercados, por exemplo?
Regelin – Esta é outra oportunidade, área em que ainda não atuamos. Também permitirá ampliar mercados em que temos pouca presença, como creches particulares e cozinhas industriais. Tem muito mercado, falta o produtor se organizar melhor.
Empresas & Negócios – E como fazer isto?
Regelin - Falta assistência técnica orientativa, o agricultor perde produção e isto nos torna vulneráveis, pois os contratos precisam ser cumpridos. O agricultor planta, mas não produz o que planeja, o que se reflete na cooperativa. Isto nos faz segurar um pouco, não agredir o mercado. Sem garantias, não dá para arriscar. Firmamos parcerias com Sebrae e Emater e contratamos uma agrônoma para melhorar esta situação. Uma das ações já tomadas é a rastreabilidade dos produtos para todos os sócios, que terão a lavoura rastreada para a CAAF e demais mercados. Também precisamos trabalhar na identificação de pragas e doenças que atacam as lavouras e dar o encaminhamento correto, não só aplicar o defensivo. O agricultor é a maior sala de ensaio de pesquisa, vive pesquisando. Em algumas ações, precisa gastar dinheiro no que vai dar certo, não só em pesquisa. Montamos estrutura para ajudar a mudar isto. O agricultor trabalha, tem equipamentos, recursos hídricos e conhecimentos, mas segue sendo induzido a equívocos.
Empresas & Negócios – O que deve mudar na cooperativa com o novo negócio?
Regelin – Já temos uma equipe trabalhando na criação da marca para apresentação do produto nas gôndolas. Também deve mudar a nossa visão comercial, pois hoje participamos de chamadas públicas. Com a nova linha, teremos de vender diretamente no comércio. Por isso, precisamos melhorar a estrutura também na lavoura, com agricultores ainda mais comprometidos, além de fortalecer as culturas que mais terão saída neste mercado. O raio de ação será muito mais amplo. Temos um grupo de 30 agricultores envolvidos no programa Juntos para Competir do Sebrae; outro trabalho é com as agroindústrias e um terceiro com a Emater para melhorar alguns procedimentos, como investir na cultura protegida para evitar perdas.
Empresas & Negócios – A cooperativa só atende Caxias ou tem clientes em outros municípios?
Regelin - Começamos com Caxias nas escolas estaduais, depois nas municipais. Hoje temos vendas para outros municípios da Serra e da Região Metropolitana de Porto Alegre. Além de segmentos novos, como unidades do Exército, da Marinha e a Base Aérea de Canoas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e os institutos federais de Feliz, Bento Gonçalves, Caxias do Sul Farroupilha. Já é um bom mercado e o associado ainda pode atender outros segmentos do seu interesse. Mas queremos que eles priorizem a cooperativa. Por isso, pagamos acima do valor da Ceasa.
Empresas & Negócios – Qual o faturamento anual da cooperativa?
Regelin - Em 2018, chegamos perto de R$ 6 milhões em receita, que vem crescendo. Há três anos eram R$ 3 milhões. E do total repassamos mais de 80% aos agricultores. Os 20% restantes suprem as obrigações para manter o funcionamento da cooperativa. O volume comercializado chegou a 3 mil toneladas. Os preços são pré-estabelecidos nas chamadas públicas e o pagamento ao sócio é feito no mês seguinte à entrega. O destino das sobras do exercício é discutido em assembleia, que vem optando por deixar em caixa. Nosso sócio não tem vale ou cheque no bolso. Na Ceasa, um dos maiores problemas é a insegurança de receber. Estamos sendo um contraponto a isto.
Empresas & Negócios – Quais os itens mais relevantes na cooperativa?
Regelin – Temos mais de 60 produtos. Os de maior saída são maçã, bergamota, cebola, alface, tomate, moranga, batata-doce, aipim e temperos. A uva, por incrível que pareça, vende pouco, porque é produto de verão e, normalmente, as escolas estão em férias. Como forma de contornar isto, lançamos neste ano um suco de uva com marca própria.
Empresas & Negócios – Existe alguma ação para elevar o número de sócios?
Regelin - Na área da maçã teremos de aumentar o número de produtores para atender às novas demandas. Mas temos a preocupação de ter um sócio que acredite no cooperativismo, que não o trate apenas como algo eventual, em que se entra e sai quando lhe interessa. Precisa ser participativo e adotar a cooperativa, e isto não é fácil. Não queremos comprometer ainda mais algo que já é frágil, porque o cooperativismo é frágil. Além disso, as peculiaridades dos hortis não deixa crescer muito. E também não é inteligente ter número acima da média, porque não se contentaria ninguém. Hoje, o retorno é interessante.
Empresas & Negócios – A cooperativa tem projeto de operar fora do estado?
Regelin - Ainda neste ano, em parceria com uma cooperativa de Erechim, vamos fornecer maçãs para escolas municipais de São Paulo. Começamos com contrato de 400 mil quilos para fornecimento em 12 meses. Também será um teste para aprender. Mas creio que se está dando certo aqui, pode dar certo lá. Cooperativismo é saber contornar as pedras. Se acharmos que podemos abraçar tudo, pode não dar certo.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO