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Empresas & Negócios

- Publicada em 01 de Julho de 2019 às 03:00

Corte de juro não é repassado

Taxas menores poderiam baratear itens muito dependentes de crédito

Taxas menores poderiam baratear itens muito dependentes de crédito


/JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
O comércio varejista poderia ter vendido R$ 41 bilhões a mais nos últimos 12 meses até abril deste ano e acelerado o consumo das famílias, o emprego e a renda, se o corte da taxa básica de juros tivesse sido repassado integralmente para o juros cobrados do consumidor, aponta um estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC). 

O comércio varejista poderia ter vendido R$ 41 bilhões a mais nos últimos 12 meses até abril deste ano e acelerado o consumo das famílias, o emprego e a renda, se o corte da taxa básica de juros tivesse sido repassado integralmente para o juros cobrados do consumidor, aponta um estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC). 

A taxa básica de juros, a Selic, mantida pela décima vez consecutiva em 6,5% ao ano, segundo decisão tomada esta semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), está no menor nível da série histórica.

No entanto, antes do início do ciclo de afrouxamento monetário, em outubro de 2016, a Selic era de 14,25% ao ano. De lá para cá, ela foi reduzida em 54,4% pelo Copom por causa das condições favoráveis da inflação e na tentativa de acelerar o ritmo de atividade. Mas esse estímulo não chegou com a mesma intensidade no consumidor, que viu os juros cair menos da metade (26%) do que a taxa básica no período.

Em outubro de 2016, os juros do crédito livre e direcionado das pessoas físicas custava 43% ao ano e recuaram para 31,7% ao ano em abril último, segundo BC. Nas contas do economista-chefe da CNC, Fábio Bentes, autor do estudo, se o repasse do corte da Selic tivesse sido integral, o consumidor estaria pagando hoje uma taxa de juros bem menor, de 26,1% ao ano. "Não é um juro para soltar foguete, mas seguramente uma situação melhor do que a atual."

O juro menor poderia baratear as compras de itens muito dependentes de crédito, como veículos, materiais de construção, móveis e eletrodomésticos Esses segmentos têm uma cadeia longa de produção e poderiam fazer girar mais rapidamente a roda da economia. O estudo mostra que as revendas de veículos foram as mais afetadas e deixaram de vender R$ 23 bilhões nos últimos 12 meses.

Do ponto de vista de reativação da atividade, o fato de os bancos não terem transferido integralmente o corte dos juros básicos para o consumidor é ruim, diz Bentes. "Vazou uma receita do comércio, que é um grande gerador de emprego, para o setor financeiro, que não tem o mesmo impacto na ocupação."

Segundo a Febraban, que representa os bancos, "a ideia de que a queda dos juros básicos deveria ser proporcional à Selic é equivocada". Segundo a entidade, além do custo de captação do recurso emprestado, que é afetado diretamente pelo juro básico, há outros componentes que entram na taxa ao consumidor.

Entre eles estão a inadimplência, despesas administrativas, tributos e a margem financeira dos bancos. A Febraban alega também que, por outra métrica, a de pontos percentuais, os juros dos empréstimos com recursos livres (sem destinação específica), caíram mais que a Selic no mesmo período.

Desde que o Copom começou a cortar a taxa básica de juros (Selic), a partir de outubro de 2016, o brasileiro que compra produtos financiados tem pagado a conta do não repasse integral da queda da Selic para a taxa ao consumidor, aponta o estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Nos cálculos da entidade, há casos em que a prestação ficou quase 15% mais cara.

A despesa maior com juros é visível nos itens de maior valor. Na compra de um veículo de R$ 30 mil,

por exemplo, financiado em 42,3 meses, o comprador pagava uma prestação de R$ 960,82, levando em conta os juros médios apontados pela pesquisa do BC em abril deste ano, de 21,12%. Se o corte da taxa básica de juros tivesse sido repassado integralmente para o consumidor, a taxa seria de 11,74% ao ano e a prestação de
R$ 838,00, nas contas da CNC.

Com isso, quando o comprador terminar de pagar o financiamento do carro, ele terá desembolsado R$ 42.016,85. Se o empréstimo tivesse sido contraído pela taxa menor, o carro custaria R$ 36.6545,85. É uma diferença de R$ 5.370,99.

"Para o consumidor, o não repasse integral da queda dos juros básicos às taxas finais representou um maior peso na parcela mensal dos financiamentos, especialmente diante da relativa estabilidade da massa de rendimentos", diz o economista-chefe da CNC e responsável pelos estudos, Fabio Bentes.

Para o economista, não só o repasse do corte da taxa básica de juros não foi integral para o consumidor como o spread bancário caiu menos que a Selic. O spread é a diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador para captar o recurso e quanto esse banco cobra para emprestar.

Em outubro de 2016, o spread era 23,9% e terminou 2018 em 16,9%, mas voltou a subir este ano. Em abril estava 19,3%. De outubro de 2016 a dezembro de 2018, o spread caiu 41% e neste ano subiu 14%. No período todo, a queda foi de 20%. "O spread caiu menos do que a Selic (- 54,4%) no período e a gordura dos bancos aumentou", afirma o economista.

A Febraban, que reúne os bancos, reforça, porém, que houve redução no spread e nos juros - considerando a comparação de taxas em pontos percentuais, metodologia usada na avaliação da entidade. Em nota, a Febraban afirma que "a queda da taxa de juros foi acompanhada da redução do spread bruto bancário".

Em abril deste ano o spread atingiu 45,8 pontos percentuais nas operações de crédito com recursos livres para pessoa física, ante 62,3 pontos percentuais registrados em outubro de 2016, segundo a entidade. A redução, foi de 16,5 pontos percentuais no período.

De acordo com a Febraban, "os bancos aproveitaram a queda na taxa básica de juros para reduzir o custo do crédito ao consumidor, em alguns casos com cortes bem superiores nas taxas cobradas dos clientes".

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