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- Publicada em 10 de Junho de 2019 às 03:00

Biblioteca Comunitária do Arquipélago tem futuro incerto com obras da ponte do Guaíba

Com as obras, Biblioteca do Arquipélago tornou-se alvo de um impasse entre o governo e a comunidade

Com as obras, Biblioteca do Arquipélago tornou-se alvo de um impasse entre o governo e a comunidade


Sofia Cortese/DIVULGAÇÃO/JC
Eduardo Lesina
A capacidade de imaginar está diretamente ligada à leitura. A cada livro folheado e a cada página lida por alguém, a possibilidade de um novo mundo se abre. O ato de ler, poderosa ferramenta de instrução e de promoção de cultura, tem a capacidade de transportar o leitor para outros lugares, épocas e realidades, e criar, no leitor, a possibilidade de sonhar. Trabalhado como um direito humano na contemporaneidade, a leitura infelizmente está longe de ser uma realidade comum a todos os cidadãos.
A capacidade de imaginar está diretamente ligada à leitura. A cada livro folheado e a cada página lida por alguém, a possibilidade de um novo mundo se abre. O ato de ler, poderosa ferramenta de instrução e de promoção de cultura, tem a capacidade de transportar o leitor para outros lugares, épocas e realidades, e criar, no leitor, a possibilidade de sonhar. Trabalhado como um direito humano na contemporaneidade, a leitura infelizmente está longe de ser uma realidade comum a todos os cidadãos.
A pesquisa "Bibliotecas comunitárias no Brasil: impacto na formação de leitores" demonstra essa questão: 86,7% dessas bibliotecas estão localizadas em zonas periféricas, com altos índices de pobreza, violência e sem garantia de serviços públicos. Para quem reside em ambientes marginalizados pelo Estado, o ato de "sonhar", através dos livros, é revolucionário. No Brasil, múltiplas iniciativas foram criadas buscando minimizar a disparidade de classes em relação ao conhecimento, e consequentemente ao acesso aos livros.
Exemplo disso, a Biblioteca Comunitária do Arquipélago, localizada na Ilha Grande dos Marinheiros, na região das ilhas de Porto Alegre, é uma iniciativa gerida pelo Centro de Integração de Redes Sociais e Culturas Locais (Cirandar), que busca fomentar o conhecimento e evidenciar a cultura local. Embora, atualmente, as bibliotecas ainda representem centros respeitados pela sociedade brasileira de modo geral, o futuro pode não ter as mesmas garantias.
Com as obras da nova ponte do Guaíba, a biblioteca - e o assentamento como um todo - tornaram-se alvo de um impasse entre o governo e a comunidade. Desde 2013, a prefeitura busca solucionar o problema, mas o caso está marcado de incertezas em certos aspectos, como o destino dos equipamentos culturais da Ilha Grande dos Marinheiros.
Segundo a fundadora do Cirandar, Márcia Cavalcante, até novembro de 2018, existia a possibilidade da construção de outro assentamento em uma área próxima, que poderia realocar as famílias e os centros culturais. "Hoje, não há mais essa possibilidade. A prefeitura não liberou nenhum terreno e informou que não havia tempo hábil e orçamento para isso." Com isso, os moradores da comunidade podem escolher entre receber a indenização ou realizar uma compra assistida em outro lugar. Entretanto, no caso dos equipamentos culturais, a solução não é tão simples.
"Quando se faz um trabalho social em um território, tu cria metas e afetos que te envolvem para ficar naquele lugar. Hoje, não temos nenhum interesse em sair da Ilha Grande dos Marinheiros. É diferente de uma família que pode ir morar em outro lugar", analisa Márcia. Com o andamento das obras, cerca de 500 famílias serão realocadas, mas ainda não existe confirmação sobre o futuro da biblioteca ou dos demais centros culturais, como o Santuário Nossa Senhora das Águas e o galpão de reciclagem. As atividades na Biblioteca Comunitária do Arquipélago - que completará cinco anos de existência em novembro - seguem ativas diariamente, mesmo no cenário de incerteza sobre o futuro.
Recebendo o apoio de entidades como a Associação Gaúcha de Escritores (Ages), o Cirandar busca, junto da Frente Parlamentar de Incentivo à Leitura, do poder executivo (na figura do vice-prefeito Gustavo Paim) e da Secretaria Municipal de Educação, um novo local, público, e que possa receber a biblioteca, mas ainda sem sucesso. Para Márcia, o impasse na solução dos equipamentos culturais da comunidade é muito simbólico: "é uma cidade que não investe na criação de bibliotecas e, além disso, as fecha". A fundadora da entidade explica que existe uma disposição de todos os envolvidos para chegar a uma solução, mas que o caminho ainda é muito longo.
A falta de clareza na solução do realocamento dos centros culturais da Ilha Grande dos Marinheiros reflete também outra questão: a região é uma das comunidades do arquipélago que tem maior vulnerabilidade econômica e o maior índice de analfabetismo. "Não é a toa que a biblioteca está ali", afirma.
Além dessa, a organização atualmente coordena a Biblioteca Comunitária do Chocolatão, que completou oito anos no último mês, no bairro Mário Quintana em Porto Alegre. Em toda a sua história, o Cirandar - fundado em 2008 - já atuou em 14 biblioteca comunitárias e promoveu ações vinculadas à promoção de leitura, arte, comunicação e literatura. Além das bibliotecas, a entidade atua na formação de educadores sociais e na promoção da cultura das comunidades nas quais atuam. Longe da ideia de ser um lugar silencioso, as bibliotecas que se transformaram em centros culturais representam um novo lugar de apropriação de novos conhecimentos, conquista de novos territórios e descoberta de novos sonhos.
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