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Empresas & Negócios

- Publicada em 10 de Junho de 2019 às 03:00

Investimentos em COEs na berlinda

Custos estão entre os problemas apontados

Custos estão entre os problemas apontados


FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
Vendido há cinco anos como o suprassumo da flexibilidade e um investimento que nunca dá prejuízo, o Certificado de Operações Estruturadas (COE) passa por uma crise de imagem. Especialistas acusam excesso de custos escondidos e citam essa como a principal razão para a insistência das corretoras em oferecê-lo. Em fóruns de internet, usuários já chamam o COE de "título de capitalização das corretoras" ou, simplesmente, "furada".
Vendido há cinco anos como o suprassumo da flexibilidade e um investimento que nunca dá prejuízo, o Certificado de Operações Estruturadas (COE) passa por uma crise de imagem. Especialistas acusam excesso de custos escondidos e citam essa como a principal razão para a insistência das corretoras em oferecê-lo. Em fóruns de internet, usuários já chamam o COE de "título de capitalização das corretoras" ou, simplesmente, "furada".
O COE chegou ao Brasil em janeiro de 2014, importando o modelo das notas estruturadas que fazem sucesso há décadas nos EUA e na Europa. Seu principal atrativo é permitir ao investidor comum ter acesso a mercados que costumam ser restritos, como um índice acionário estrangeiro e derivativos cambiais.
A insatisfação chegou aos ouvidos das instituições financeiras. Reagindo às queixas, a Anbima, associação do setor, decidiu aumentar a transparência sobre os custos embutidos e o nível de risco nos COEs no próximo semestre.
A associação está concluindo uma análise sobre o tema que levará a mudanças nas normas sobre o COE na autorregulação. Segundo Eric Altafim, presidente do Comitê de Produtos de Tesouraria, a Anbima foi provocada "pela mídia negativa que recaiu sobre o COE recentemente".
"Criou-se um incentivo para o (agente) autônomo vender muito COE. Ele pode acabar dando preferência ao COE quando este não é, necessariamente, a melhor opção para o investidor", afirmou. "O COE democratiza e flexibiliza investimentos que muitas vezes são inalcançáveis ao investidor. O que não podemos é deixar o mau uso contaminar o produto em si. Queremos deixá-lo mais transparente e, assim, reduzir seu custo."
O produto se popularizou em 2016, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM, que regula o mercado de capitais) passou a permitir que fosse oferecido por corretoras e plataformas de distribuição. Antes, só os bancos emissores podiam oferecê-lo a clientes. O banco emissor pode criar um COE com praticamente quaisquer tipos de ativos e modelos que quiser. O estoque de COEs detidos pelos investidores brasileiros cresceu 33% no ano passado, somando R$ 15 bilhões. Quase 80% estão nas mãos de investidores do varejo (excluindo private).
A Easynvest, por exemplo, oferece um COE emitido pelo Citibank que aposta em ações das badaladas estrangeiras Nike, Under Armour, Garmin e GoPro. Já a Órama tem um COE cujo objetivo é superar a renda fixa se as ações de Petrobras, Bradesco, Suzano e Eletrobras subirem.
A maioria dos COEs é oferecida como uma aposta em cenários. Caso eles não se concretizem, em vez de perder dinheiro, o investidor ganha de volta o valor que investiu - é o chamado "capital protegido". Por outro lado, costumam estabelecer retorno máximo. Um COE do Itaú focado em Bolsa, por exemplo, compromete-se a entregar até 39,9% da alta do Ibovespa em um ano e meio, mesmo que as ações disparem ainda mais.
Além disso, não incide sobre o COE o "come-cotas", Imposto de Renda semestral cobrado dos fundos de investimento, nem taxas de administração. O problema, segundo os críticos, é o custo embutido. Trata-se do chamado spread, que é a diferença entre o custo de emissão e distribuição e aquele cobrado do investidor. O argumento dos críticos é que se cobra muito mais do que se deveria por eles.
Estima-se que esse custo fique entre 1% e 2% ao ano, equivalente à taxa de administração de fundos multimercados. Pior: costuma ser cobrado de uma só vez, mesmo nos casos em que o COE prevê janelas de resgate antecipado, como a cada semestre. Assim, em um COE cujo spread seja de 2% e tenha prazo de três anos, o investidor pode pagar 6%, mesmo tendo investido por apenas seis meses.
No início do ano, Tiago Reis, sócio da consultoria Suno Research, escreveu um texto intitulado "Não invista se você não sabe o que é Black & Scholes". Ele se referia ao complexo modelo de precificação de derivativos que pode ser usado para saber quanto, de fato, custam as operações que existem dentro de um COE. Reis argumenta que, como esse custo não fica explícito para o investidor e quase ninguém sabe calculá-lo por meio desse modelo, muitas vezes ele é enganado. "A narrativa é bonita. Você pode comprar ação do Spotify, Uber, tudo sem risco de queda, sem taxas, come-cotas etc. Só que, para garantir isso, há um ?seguro? dentro do produto, cujo preço é muito alto", critica.
Mesmo entre os bancos há a percepção de que a falta de transparência cria problemas. Claudio Sanches, diretor de produtos de investimento do Itaú, afirmou que pode haver conflito de interesse por parte dos distribuidores de COEs, que se sentiriam inclinados a "empurrar" o produto ao cliente apenas porque as margens são maiores. Segundo ele, parte importante do aumento do estoque do produto se deve mais a uma oferta quase que descontrolada do que à demanda normal.
"Não se trata de um produto para o qual o cliente bate na nossa porta e pede. Logo, fazemos uma oferta limitada. Mas o COE é um bom produto. O que nos preocupa é a maneira como ele está sendo distribuído",  diz Sanches, ressaltando cobrar spreads de no máximo 1% em seus COEs. Michael Viriato, professor do Insper, observa que, dada a complexidade do COE, muitas vezes os próprios distribuidores desconhecem as especificidades do produto. O resultado é um investidor mais exposto do que deveria a um risco cuja dimensão ignora.
 
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