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Mercado Financeiro

- Publicada em 03 de Junho de 2019 às 03:00

Investimentos com sotaque latino

Mergulhado em uma recessão, país vizinho paga prêmios, em dólar, de até 19% ao ano para investidores

Mergulhado em uma recessão, país vizinho paga prêmios, em dólar, de até 19% ao ano para investidores


LUDOVIC MARIN/AFP/JC
A busca por uma renda fixa mais atraente tem feito os gestores garimparem oportunidades de negócios fora do Brasil. E um dos alvos é a Argentina. Mergulhado em uma recessão, o país vizinho paga prêmios, em dólar, de até 19% ao ano para o investidor que esteja disposto a "apimentar" o seu portfólio com ativos não usais por aqui, como os títulos de dívida pública da província de Mendoza ou os eurobonds da Techint, empresa de engenharia ítalo-argentina.
A busca por uma renda fixa mais atraente tem feito os gestores garimparem oportunidades de negócios fora do Brasil. E um dos alvos é a Argentina. Mergulhado em uma recessão, o país vizinho paga prêmios, em dólar, de até 19% ao ano para o investidor que esteja disposto a "apimentar" o seu portfólio com ativos não usais por aqui, como os títulos de dívida pública da província de Mendoza ou os eurobonds da Techint, empresa de engenharia ítalo-argentina.
Essas opções estão disponíveis para o investidor pessoa física, que as encontra em fundos ainda pequenos, distribuídos por corretoras de pequeno porte, como a TAG Investimentos. Para o economista Roberto Luis Troster, especialista em finanças, a oportunidade é boa e as novidades argentinas no mercado brasileiro podem valer a pena. Mas, assim como os próprios gestores, ele recomenda cautela com a estratégia, já que juro alto no mercado de capitais é sempre sinalização de maior risco para o patrimônio do aplicador. "No entanto, a relação custo-benefício é alta. O país paga prêmios interessantes quando comparado ao Brasil de hoje. E o cenário econômico não deve piorar", diz.
Em crise desde o ano passado, com inflação de 56% e desemprego crescente, a Argentina que agrada alguns gestores tem empresas com bons ratings e províncias (o equivalente aos estados no Brasil) com situação fiscal superior à do governo federal, donas de receitas dolarizadas devido à produção e à exportação de gás e petróleo ou ainda se beneficiando de um peso mais fraco, por causa da exportação de vinho.
Tudo isso opera a despeito da recessão que vem de 2018 e do receio do mercado com o resultado da eleição de outubro, que vai definir o novo presidente. Por lá, o cenário político está polarizado entre uma direita que está no poder e uma esquerda envolvida em investigações de corrupção.
Desgastado por protestos contra o atual plano de austeridade fiscal, o presidente e candidato à reeleição Mauricio Macri deve enfrentar uma disputa equilibrada com a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2014), que se lançou como vice na chapa do peronista Alberto Fernández.
Mas, seja qual for o resultado das eleições, para o fundo de multimercado Exploritas Alpha América Latina, o país deve permanecer como sendo o principal tempero para um produto que, desde sua fundação, em 2014, vem rendendo 254% do CDI e, neste ano, já acumula 335% dessa taxa de juros que caminha ao lado da Selic, hoje em 6,50%.
"Nós gostamos muito da Argentina, principalmente das dívidas públicas da província de Buenos Aires, que é praticamente um terço em tudo por lá: um terço em população, um terço do PIB", conta o gestor Daniel Delabio, da Exploritas. O fundo é acessível a partir de R$ 10 mil e tem liquidez de 30 dias. "Quando pensamos nas províncias, a maioria delas têm uma condição fiscal favorável, hoje com superávit, e um nível de endividamento gerenciável. Diversas províncias também não deram calote na crise de 2001 e 2002", analisa Delabio. Nesse período, o governo federal declarou moratória, deixando de pagar os investidores.
No caso do TB Galloway Emerging Markets, outro fundo de investimento com ativos argentinos, o tempero fica por conta das dívidas corporativas, sobretudo de empresas do setor de energia. Hoje, a participação do país vizinho no produto, que demanda investimento mínimo de R$ 25 mil, é pequena, de 1,7% do portfólio. Os gestores esperam o que vai acontecer nas eleições.
"Nosso receio é uma vitória de Cristina Kirchner e seu histórico de intervenção no mercado", diz Nathan Shor, diretor da suíça Mirabaud. "Nosso fundo tem potencial para atrair R$ 1 bilhão em dois anos. Por enquanto, temos R$ 40 milhões", diz Ulisses de Oliveira, que também é diretor do Mirabaud.
 

Fundo de ações tem taxa de administração zerada

Em meio a uma onda no mercado financeiro de zerar taxas de fundos, a Mint Capital lançou um fundo de ações sem taxa de administração. A empresa vai remunerar a gestão com uma taxa de 30% de desempenho acima do índice de referência, porcentual mais alto que os costumeiros 20% entre gestores de ações.
A decisão da gestora de fundos e private equity com R$ 94 milhões sob gestão e 10 anos de existência chega em um momento de discussão no mercado sobre novos modelos de negócios que combatem custos velados ao investidor e defendem o "cashback" (retorno) de comissões de vendas. Segundo o sócio da Mint, Cassio Beldi, zerar a administração é uma atitude para discutir a distorção do mercado em que há oferta de produtos que remuneram bem os agentes econômicos - gestores e distribuidores, por exemplo -, mas não necessariamente o investidor.
Abrir mão da taxa de administração é factível, segundo Beldi, por causa da receita de outras áreas da Mint, além da alocação de capital de longo prazo. "É isso que nos permite olhar longe", diz, mencionando áreas de participação direta (private equity).