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Empresas & Negócios

- Publicada em 07 de Janeiro de 2019 às 01:00

'Economia terá um choque liberal', diz Carlos Langoni

Langoni deverá ajudar desenvolver e a implementar agenda para abertura comercial

Langoni deverá ajudar desenvolver e a implementar agenda para abertura comercial


YASUYOSHI CHIBA/AFP/JC
Agência Estado
O economista Carlos Langoni, de 74 anos, presidente do Banco Central no governo Figueiredo e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), foi o primeiro brasileiro a obter o doutorado em economia na Universidade de Chicago, templo do pensamento liberal, em 1970. Ele diz, com bom humor, que hoje está mais para Chicago grandfather do que para Chicago boy - expressão criada para designar os jovens economistas de Chicago que participaram da reforma econômica do Chile, no governo Pinochet. Ex-professor de Paulo Guedes, atual ministro da Economia, que também obteve o Ph.D. em Chicago (assim como outros membros da equipe), Langoni deverá ajudá-lo a desenvolver e a implementar uma agenda para abertura comercial do País.
O economista Carlos Langoni, de 74 anos, presidente do Banco Central no governo Figueiredo e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), foi o primeiro brasileiro a obter o doutorado em economia na Universidade de Chicago, templo do pensamento liberal, em 1970. Ele diz, com bom humor, que hoje está mais para Chicago grandfather do que para Chicago boy - expressão criada para designar os jovens economistas de Chicago que participaram da reforma econômica do Chile, no governo Pinochet. Ex-professor de Paulo Guedes, atual ministro da Economia, que também obteve o Ph.D. em Chicago (assim como outros membros da equipe), Langoni deverá ajudá-lo a desenvolver e a implementar uma agenda para abertura comercial do País.
Como o senhor vê a chegada da nova equipe econômica ao poder, com tantos ex-alunos da Universidade de Chicago, como o próprio Paulo Guedes?
Carlos Langoni - Acredito que há uma oportunidade histórica, com essa turma no governo, de implementar um choque liberal. Não é nem uma escolha ideológica, mas pragmática. Acho que a condição nunca foi tão favorável. A crise é tão profunda, com a falência do Estado tanto do ponto de vista financeiro quanto gerencial, tendo a corrupção sistêmica como efeito colateral, que um choque liberal é a única alternativa para o Brasil sair da armadilha de relativa estagnação econômica e reencontrar o crescimento sustentado.
Em termos de política econômica, o que devemos esperar?
Langoni - As pessoas de fora costumam associar Chicago ao Milton Friedman, ao monetarismo. Não é verdade. Eu tive aulas com o Friedman, mas segui a vertente de desenvolvimento econômico de Chicago. Era o oposto do que se estudava normalmente no Brasil, por influência do Celso Furtado (1920-2004), da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), que é uma visão intervencionista, estatizante, de substituição de importações.
Na prática, o que essa visão liberal deverá representar para a economia brasileira?
Langoni - O que vejo como Estado liberal não é apenas uma reforma da Previdência. É uma coisa muito mais profunda. É uma reforma do Estado no sentido amplo. O Estado tem de ser provedor de bens públicos essenciais, como saúde, educação e segurança, e só. O resto tem de ficar com o setor privado. Isso está mais que testado no mundo. Não vamos nem falar dos Estados Unidos, que é brincadeira. Vamos falar da China. A grande revolução chinesa a partir da morte de Mao Tsé-Tung foi a realização de um processo gradual, mas contínuo, de liberalização econômica. Hoje, o setor privado já representa mais de 60% do PIB chinês.
No caso do Brasil, qual o impacto que essa visão de Chicago deverá ter na economia?
Langoni - No caso brasileiro, nós chegamos ao limite. Como eu disse, a crise é uma crise do Estado, do setor público, uma crise ética, e é isso que precisa mudar. A visão de Chicago é exatamente essa. Sempre houve preocupação grande com a eficiência e a ética, com o aspecto distributivo. Você tem o pilar do ajuste fiscal, com as reformas, a da Previdência e a tributária. Tem a onda de concessões e privatizações, para abrir espaço para a modernização da infraestrutura. E tem a vertente do que eu chamo de a "reforma esquecida", que é a abertura da economia. A abertura tem de ser gradual, sim, tem de ser previsível, sim, mas tem de ter prazo para começar e terminar. A abertura tem efeitos distributivos positivos e ajuda a manter inflação baixa.
O senhor acredita que a nova equipe econômica vai enfrentar resistências do Congresso?
Langoni - Acredito que vai existir resistência, sim. Não vai ser uma tarefa fácil, apesar de o diagnóstico ser inequívoco. Na minha opinião, a sociedade brasileira é muito mais atenta a esses fatos do que a gente imagina. O problema vai ser o debate político, as articulações políticas para viabilizar as reformas. Esse será o grande desafio, a interface do Executivo com o Congresso. Tem de ter muita paciência, poder de convencimento.
Qual a reação às suas ideias?
Langoni - Havia um debate intenso de ideias. O próprio (Mário Henrique) Simonsen (ex-ministro da Fazenda e do Planejamento) tinha uma visão mais liberal que a do (João Paulo Reis) Velloso (antecessor de Simonsen no Planejamento). Muitas vezes, as ideias do Simonsen não coincidiam com as do Delfim (Neto, também ex-ministro da Fazenda e do Planejamento). Se você analisar bem, o modelo econômico tinha um forte viés estatista, apesar de ser liderado por economistas que não tinham ligação com a Cepal. Tanto o Delfim quanto o Simonsen tinham viés liberal, mas nada comparável com a visão de Chicago, de reduzir ao mínimo o papel do Estado, algo testado com grande sucesso no Chile.
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