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Empresas & Negócios

- Publicada em 29 de Outubro de 2018 às 01:00

ONG Renascer da Esperança atende a 360 jovens da periferia de Porto Alegre

Projeto estimula cidadania entre crianças e adolescentes da Restinga há 20 anos

Projeto estimula cidadania entre crianças e adolescentes da Restinga há 20 anos


LUIZA PRADO/JC
Pedro Carrizo
Uma parcela das 380 crianças e adolescentes atendidos diariamente pela ONG Renascer da Esperança, no bairro Restinga, em Porto Alegre, se reúnem para a foto. Enquanto aguardam o clique, dão risadas e distraem-se por qualquer coisa. Os menores usam dois dedos para, sorrateiramente, colocar um par de chifres no colega do lado. Mais algazarra, mais risadas e assim vai. É então que sobe uma voz de comando, que chama cada um pelo nome, e enfim consegue organizar o alvoroço. É Rozeli da Silva, fundadora do projeto que, há 20 anos, proporciona às crianças e adolescentes daquela região um ambiente de fortalecimento à cidadania.
Uma parcela das 380 crianças e adolescentes atendidos diariamente pela ONG Renascer da Esperança, no bairro Restinga, em Porto Alegre, se reúnem para a foto. Enquanto aguardam o clique, dão risadas e distraem-se por qualquer coisa. Os menores usam dois dedos para, sorrateiramente, colocar um par de chifres no colega do lado. Mais algazarra, mais risadas e assim vai. É então que sobe uma voz de comando, que chama cada um pelo nome, e enfim consegue organizar o alvoroço. É Rozeli da Silva, fundadora do projeto que, há 20 anos, proporciona às crianças e adolescentes daquela região um ambiente de fortalecimento à cidadania.
Se os acolhidos têm a chance de participar de dezenas de oficinas extracurriculares, reforço escolar em português e matemática, além de demais atividades, na vida de Rozeli as oportunidades nunca estiveram assim tão a mão. Vítima de relacionamento abusivo até os 17 anos, mãe aos 12, analfabeta até os 32, e com mais de três décadas na função de gari do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), ela decidiu montar a Renascer do dia para a noite.
"Foi um sonho que eu tive. Era um campo verde, com natureza e cheio de crianças sorridentes. Eu era a responsável por cuidar deles e me sentia bem com isso", diz Rozeli, acrescentando que o sonho tornou-se latente em seus pensamentos até a fundação do projeto.
Em setembro deste ano, outra beliscada para confirmar se tudo é real, conta a fundadora. A Renascer da Esperança recebeu, no mês passado, o Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas), do Ministério de Desenvolvimento Social, que coloca o projeto como referência nacional no fortalecimento de vínculos entre jovens de periferia. "Geramos mais de 100 empregos na Restinga. Uma gari é exemplo no terceiro setor. Nunca pensei que isso iria acontecer, mas é muito bom que aconteça."
Dividido por faixas etárias, o atendimento da ONG se dá através dos Serviços de Atendimento Sócio Educativo (Sase). Na Renascer são três, cada um com metodologia específica para comunicação em grupo. O educador Hernesto Kovaski, do Sase 1, que contempla crianças de seis a nove anos, indica as principais ferramentas de estreitamento na relação com os pequenos. "A maior arma é o afeto e a música. Eu preciso mostrar que me importo com as questões de cada um, assim construímos a confiança e o respeito. A música vem, justamente, para despertar o lúdico e a criatividade nesse processo", diz Kovaski.
Já para as crianças de 10 a 14 anos, que frequentam o Sase 2 no contraturno da escola, o respeito às diversidades é um dos norteadores das atividades, conforme o educador responsável por essas turmas, Cristian Cunha. "Realizamos atividades que incentivam a valorização étnica e o respeito ao ser humano. Buscamos mostrar como a união é importante para a paz dentro e fora da sala de aula", afirma. Enquanto Cunha contava sobre a metodologia, meninos e meninas da turma banhavam suas mãos de tinta e as estampavam em papel pardo, mostrando que são todas iguais quando as mãos são gravadas lado a lado.
Aos maiores, que vão até os 17 anos, as reuniões ganham novas camadas, o que deixa as dinâmicas de conversação mais complexas. Temas como o exercício da cidadania, o consumo de drogas, o mercado de trabalho e as dificuldades que cada um passa no processo de amadurecimento cerceiam os encontros. "Trabalhamos, acima de tudo, a identidade: quem eu sou? Qual a realidade em que pertenço? O que me representa? Com isso, buscamos a humanização", diz o educador do Sase 3, Daniel Feijó. De acordo com ele, é necessário fugir de um discurso de que, para adolescentes de periferia, é crescer o suficiente e já começar a trabalhar.
"Os jovens que estão aqui vem de contextos conturbados e nossa função como educadores é ensinar a gerenciar esses problemas. A partir disso, abordamos o trabalho e o consumo de drogas de uma forma menos impositiva", acrescenta Feijó. Somado a estes três degraus de conscientização humana - os Sases - estão também as oficinas de capoeira, futebol, teatro, ballet, música, costura, MMA e muitas outras.
Do sonho de Rozeli à uma realidade viva na Restinga, o Renascer da Esperança sedimenta-se imerso em um bairro que pulsa iniciativas de desenvolvimento social. E Rozeli, que conhece cada acolhido pelo nome, adquire o status de referência no Terceiro Setor no País. "Quando pesaria que seria assim?", questiona-se.
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