Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Empresas & Negócios

- Publicada em 03 de Setembro de 2018 às 01:00

Planos de saúde em xeque

Indústrias questionam preço, qualidade e serviços oferecidos pelas operadoras

Indústrias questionam preço, qualidade e serviços oferecidos pelas operadoras


TÂNIA RÊGO/ABR/JC
Insatisfeitas com o preço, a qualidade e o tipo de serviço oferecido pelos planos de saúde, 45 grandes indústrias nacionais estão unindo forças para pressionar as operadoras a desenvolverem novos modelos de convênio. Reunidas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), essas companhias querem mudar o atual formato, com pagamento por serviço, por um modelo que leve em consideração a performance, ou seja, o resultado do atendimento ao paciente com menor custo. Além disso, pedem mais transparência.
Insatisfeitas com o preço, a qualidade e o tipo de serviço oferecido pelos planos de saúde, 45 grandes indústrias nacionais estão unindo forças para pressionar as operadoras a desenvolverem novos modelos de convênio. Reunidas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), essas companhias querem mudar o atual formato, com pagamento por serviço, por um modelo que leve em consideração a performance, ou seja, o resultado do atendimento ao paciente com menor custo. Além disso, pedem mais transparência.
Os planos de saúde representam entre 15% e 20% da folha de pagamento das indústrias, segundo a CNI. Pesquisas da entidade feitas com funcionários apontam que o benefício é um dos principais fatores que mantêm as pessoas no emprego. Por outro lado, de acordo com um levantamento da GE no Brasil, uma das empresas membro do grupo, os empregados dizem que a qualidade do serviço não é satisfatória.
A fórmula "preço alto de um serviço que gera insatisfação" não é boa para essas empresas. Não à toa, esse grupo, criado em 2016, saltou de oito membros para os atuais 45. Entre as companhias estão, além da GE Brasil, Coca-Cola, Ambev, Odebrecht, CSN, Embraer e Petrobras. O grupo já começou a se reunir com membros da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para tentar tirar os pleitos do campo das ideias.
"Nossa agenda não é só para redução de custos. Também pleiteamos mais transparência de dados e mais acesso às informações de gastos para fazermos prevenção. Seria uma forma de conter a inflação da saúde",  explica Pablo Cesário, gerente executivo de Gestão de Defesa de Interesses da CNI.
Em julho, membros da diretoria da ANS foram à CNI ouvir as empresas. Agora, é a vez das companhias irem à sede da ANS. "Neste grupo, identificamos que todas as indústrias enfrentam o mesmo problema. As operadoras de saúde trabalham apenas com 'serviços de prateleira', que não atendem às nossas necessidades", comenta Márcia Agosti, líder de gestão de saúde da GE Brasil.
Para ilustrar como a oferta das operadoras é insatisfatória às corporações industriais, Márcia contou que há oito anos a GE investe em um programa paralelo aos convênios médicos, para dar suporte aos funcionários que trabalham em obras distantes de centros urbanos, como na construção de hidrelétricas ou usinas eólicas.
"Mapeamos os hospitais que podem atender os funcionários que estão atuando em áreas distantes e fizemos uma parceria com uma empresa que faz o transporte da obra até o ponto de atendimento", conta. E completa: "Ao longo do tempo, a assistência médica adotou cada vez mais um modelo de verticalização, que se aproxima dos grandes centros e deixa um pouco de lado o atendimento dos usuários que estão distantes".
A entrada das empresas na discussão é uma sinalização que os tempos estão mudando, diz Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), acrescentando que as alterações na remuneração já estão mostrando resultado. "Onde o modelo foi alterado a redução de custo é de 20% a 30%. Os resultados assistenciais estão sendo avaliados."
Martha Oliveira, diretora executiva da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), acredita que não haverá no futuro um modelo hegemônico, como o atual, com pagamento por serviço, mas uma combinação de várias possibilidades. A grande dificuldade, diz ela, é chegar a um acordo sobre o que é qualidade em saúde e como medir o desempenho de um tratamento. "Precisamos combinar qual será o valor importante nesse cenário. Hoje a qualidade não é um valor, o sistema privilegia a ineficiência."
Para Reinaldo Scheibe, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), discutir custos na saúde é urgente. "Há um grande esforço para mudar a forma de pagamento e de relacionamento entre operadores e prestadores de serviços na cadeia de saúde. É urgente discutir custos. Está claro que não há recurso para dar tudo para todo mundo, nem no setor privado nem no público.
A ANS garante que os tipos de planos existentes hoje permitem às operadoras fazer segmentação de assistência e cobertura, com a formatação de produtos "que atendam às diferentes necessidades dos beneficiários e, ainda assim, capazes de preservar a sustentabilidade das empresas no longo prazo". A ANS defende que a mudança do modelo de remuneração seja feita não apenas para reduzir custos, mas a estimular a melhor qualidade do atendimento e dos resultados.
O fato é que as ações de consumidores contra planos de saúde dispararam nos tribunais este ano. Somente no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o aumento foi de 28% no primeiro semestre na comparação com mesmo período de 2017, uma média de 127 decisões judiciais por dia, segundo dados do Observatório da Judicialização da Saúde Suplementar, da Universidade de São Paulo (USP). Neste cenário, tribunais superiores trabalham para pacificar o entendimento nos alvos dos principais litígios e reduzir as divergência judiciais. Na prática, em muitos casos, o consumidor tem saído perdendo.
Há poucas semanas, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que ex-funcionário aposentado ou demitido sem justa causa não tem direito à manutenção no plano de saúde coletivo empresarial quando a mensalidade tiver sido paga apenas pelo empregador. Até então havia divergência sobre se o pagamento de coparticipação de procedimentos daria direito à manutenção no plano. A decisão do STJ é vinculante e valerá para todos os processos similares em curso. Ao todo, 615 ações estavam suspensas aguardando uma definição da Corte.
Em contraposição, está em tramitação na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), do Senado, o PLS 436/2016 que garante ao aposentado a continuidade do convênio nas mesmas condições que tinha quando empregado, mesmo que não tenha contribuído para a mensalidade, assumir o pagamento integral. Como se trata de uma mudança na Lei dos Planos de Saúde, a eventual aprovação desse projeto deve se sobrepor à decisão do STJ. Não há, porém, data para o assunto entrar em votação.
Outro tema delicado tratado pelo STJ foi o reajuste por faixa etária acima de 59 anos. Contrariando o entendimento majoritário até então, que vedava este tipo de aumento baseado no Estatuto do Idoso, a Corte considerou o reajuste válido, desde que previstos no contrato e que o percentual não seja abusivo. O fornecimento de medicamentos importados também foi pacificado pelo STJ. Segundo a decisão, só aqueles com registros na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) podem vir a ser fornecidos pelas operadoras.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO