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Agro

- Publicada em 26 de Fevereiro de 2021 às 13:19

Um livro para tratar o complexo tema dos agrotóxicos sob todas as óticas

Weyermüller é um dos organizadores da obra Futuro com ou sem agrotóxicos? Impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias

Weyermüller é um dos organizadores da obra Futuro com ou sem agrotóxicos? Impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias


Feevale/Divulgação/JC
Thiago Copetti
Organizado por André Weyermüller, Haide Hupffer e Wilson Engelmann, o livro Futuro com ou sem agrotóxicos? Impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias reúne diferentes visões sobre um tema polêmico. 
Organizado por André Weyermüller, Haide Hupffer e Wilson Engelmann, o livro Futuro com ou sem agrotóxicos? Impactos socioeconômicos globais e as novas tecnologias reúne diferentes visões sobre um tema polêmico. 
Lançado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e pela editora Casa Leiria, a obra de quase 200 páginas reúne artigos de dezenas de autores sob a ótica da economia, da ciência, do ambiente e dos princípios jurídicos e da tecnologia, entre outros aspectos, e pode ser baixada gratuitamente no link bit.ly/3a0PJ1V.
“Não é simples dizer nem ‘libera o agrotóxico’ e nem ‘proíbe o agrotóxico’. Por isso a publicação, e os artigos, tem um contexto multidisciplinar e sem a pretensão de ser definitivo sobre o tema e nem ideológicos", diz Weyermüller, professor da Universidade Feevale.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Weyermüller destaca que uma das ideias foi abarcar o amplo grupo de interessados no tema, contemplando a questão econômica, especialmente dada a grande dependência gaúcha dos grandes lavouras e do manejo tradicional, e servido de aporte para leitores variados, que por ventura, tenha interesse no tema, como governos, agricultores, empresas, cientistas e ambientalistas.
“Conhecer melhor todas as repercussões dos agrotóxicos, em diversos segmentos, é fundamental para compreender a complexidade inerente ao tema”, acrescenta Weyermüller.
Jornal do Comércio - O tema dos agrotóxicos é bastante atual, com problemas de deriva do 2,4-D mesmo com regras restritas de uso. Ao mesmo tempo, o Estado quer flexibilizar a legislação atual, assim como é forte e importante o agronegócio na economia gaúcha. Como equilibrar essas questões?
André Weyermüller, professor da Feevale - Temos uma realidade na economia do agronegócio em que os agrotóxicos são importantes, mas há um conflito entre os próprios produtores rurais, como produtores de soja em oposição a produtores de frutas, especialmente na viticultura, outro segmento importante economicamente. Quando um produtor afeta a produção do outro, essa complexidade é ainda maior. Se esse tipo de problema aumenta, o debate precisa ser colocado. Os técnicos mostram que usados de matéria adequada, os agrotóxicos não causam danos em outras culturas. Por ouro lado, defensivos agrícolas são produtos que de alguma forma afetam o ambiente e à saúde. Mas também sabemos que esses produtos não podem ser simplesmente banidos. Produtores de uva também usam seus defensivos, e tudo é agronegócio. O debate e as divergências estão dentro do próprio setor, ainda que por questões econômicas, uma atividade prejudica a outra, e é um sinal que o debate é realmente complexo e necessário.
JC - E como o livro e escolha dos artigos tentou tratar essa complexidade?
Weyermüller - O livro aborda as diversas implicações, positivas e negativas, dos agrotóxicos, em muitas frentes que o tema abrange. Não se pode dizer simplesmente: proíbam os agrotóxicos. E não é tão simples também dizer que está liberado para quem souber usar, porque os danos da deriva persistem. Não há um estudo definitivo sobre o tema e o livro busca isso, unir diferentes visões. Existe opções mais sustentáveis na bioeconomia, mas com pouco espaço no Brasil, e não deveria ser assim. Por outro lado, é difícil avaliar se uma flexibilização pedida por agricultores é necessidade ou lobby das indústrias. Assim como é fato que a economia gaúcha depende do agronegócio, não podemos afastar a reflexão de que algum tipo de danos eles trazem. Não é uma questão de ser ecologista, ou ambientalista, mas uma realidade e uma necessidade de transmitir diferentes visões com a amplitude que o tema exige.
JC - Pelo que o senhor estudou ao organizar a obra, porque a bioeconomia avança tão pouco?
Weyermüller - Elementos que poderiam ser utilizados de forma mais alternativa enfrentam resistências diversas, talvez porque os agricultores estão muito acostumados com os modelos antigos, que sempre priorizaram os químicos.Talvez por vantagens econômicas imediatas ou dificuldades de adaptação a novas processos de trabalho e tecnologias novas e falta de conhecimento e divulgação melhor dessas alternativas. Mas mesmo a legislação do uso de nanotecnologias e novas tecnologias, mesmo que sustentáveis, é vaga hoje no uso para agricultura brasileira. Isso pode levar os produtores a terem uma impressão inadequada e até mesmo achar que o retorno financeiro será menor, o que não é necessariamente verdadeiro. Temos um imenso ferramental amplamente usado, fruto de tecnologia, como os transgênicos. A diferença é que este produto já foi criado com foco em massificar: aplica tanto e da tal retorno. E o agricultor se acostumou com esse caminho, aliado ao temor de adotar novos processos. Podemos comparar temor de usar um novo desodorante antes de ir a uma reunião importante e você ficar com medo de ele falhar, digamos assim.
JC - E realmente há um risco imediato na troca de processos e o medo de perder produtividade em uma safra, de testar e arcar sozinho com essa perda, não?
Weyermüller - Muitos podem pensar assim: será que eu, como produtor, pensando economicamente, posso me dar ao “luxo” de fazer diferente e testar um novo sistema? Mas será que isso não é necessário? É outra pergunta que deve ser feita. Quem coordena, ou deve coordenar esta ação? É outra dúvida. O governo, o produtor ou entidades setoriais? O foco de decisão e a origem dela é um problema contemporânea de forma geral. Quem deve tomar a frente das coisas? Basta ver a situação das vacinas contra a Covid-19. O Estado quer ter o monopólio, mas não resolve a contento. A iniciativa privada quer comprar e tem dinheiro, mas não pode. De onde vai sair essa decisão no campo da é uma dificuldade para o avanço de novas alternativas. Há também um prejuízo político de algumas decisões, que acho que hoje é principal elemento da maioria das decisões. E no Rio Grande do Sul é um tema de delicadeza ainda maior. Os governos não querem impor uma decisão, não podem oferecer apoio financeiro que estimule a troca e nem quer fazer algo que desagrade a maior parte d setor produtivo. Já o produtor tem suas vendas antecipadas de safras e contratos fechado e não vão arriscar ficar sem produto para entregar e arcar sozinho com o prejuízo. Este é mais um forte fator de resistências.
JC - Mas há exemplos de sucesso em culturas importantes no Estado, com a produção de arroz orgânicos e outros. Por que são menosprezados como referências?
Weyermüller - A sustentabilidade e o orgânico ainda são vistos, erroneamente, como uma questão ideológica. Quando há um texto ou análise sobre esse tipo de cultivos já se pensa que é crítica ao agricultor convencional e se olha enviesado ou nem se lê. Com isso, se perde a possibilidade de evoluir tecnicamente e até economicamente. Se perde algo muito importante: a busca constante pela informação, esclarecimento e pela própria qualificação técnica. E, porque não, de ter crescimento econômico, já que os defensivos químicos tem um alto peso no custo de produção. E há quem pague por isso, como o mercado Europeu, onde alguns compradores paga mais por quem não usar tantos químicos, que, muitas vezes e contraditoriamente, são eles mesmos os fabricantes. Isto é mais uma mostra da complexidade do assunto.
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