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Agronegócios

- Publicada em 23 de Novembro de 2020 às 14:36

Danos da estiagem avançam também sobre a pecuária

Estiagem também castiga o gado, como ocorreu em 2019, secando rios e queimando o pasto e o milho

Estiagem também castiga o gado, como ocorreu em 2019, secando rios e queimando o pasto e o milho


FERNANDO DIAS / SECRETARIA DE AGRICULTURA RS/DIVULGAÇÃO/JC
A falta de chuva que afeta lavouras de milho, atrasar o plantio da soja e faz minguar o nível de rios, açude e represas, também ocasiona outro ciclo de prejuízos no campo. Assim como a agricultura, a pecuária já amarga danos significativos e visíveis com a estiagem.
A falta de chuva que afeta lavouras de milho, atrasar o plantio da soja e faz minguar o nível de rios, açude e represas, também ocasiona outro ciclo de prejuízos no campo. Assim como a agricultura, a pecuária já amarga danos significativos e visíveis com a estiagem.
Primeiro, foi a safra 2019/2020 reduzida e a baixa qualidade do milho, grão e silagem, queimando os estoques de alimentação para o gado – assim com fez com o pasto. Para compensar essa carência e piorar o cenário, sobe o custo de produção, já que o pecuarista precisa suplementar a alimentação do gado adquirindo fora do Estado e compensando com ração e concentrados. E mesmo no gado criado a campo, com pastagem nativa ou semeada, a oferta rareou.
“A estimativa é que o custo com a alimentação do gado, com as quebras na produção de milho, ficaram em torno de 30% acima da média na safra passada e vem subindo”, diz Yago Machado, técnico da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando).
Assim, alerta Machado, a elevação vai se refletir nos próximos meses no produto final, o leite. E não é apenas alimentação do gado que sofre com a estiagem, já que os animais também precisam de boa quantidade de água para beber, permanecerem saudáveis e terem boa ordenha. E ainda que este ainda seja um problema de maior dimensão no momento, com o déficit hídrico avançando provocará falta de água para os animais também.
Machado explica que cada vaca precisa beber pelo menos entre 50 e 60 litros de água por dia, com bebedouros sempre disponíveis, água limpa e em temperatura amena. Isso tanto para amenizar o estresse do calor quanto manter uma boa produção de leite.
Em alguns municípios do interior do Estado prefeituras percorreram zonas rurais, no começo do ano, com caminhões pipa levando água não apenas para a população mas também para abastecer as necessidades da pecuária. Como nem todas as pequenas propriedades – bastante representativas na produção láctea – têm poços artesianos e açudes, a falta de água para matar a sede dos animais é outra ameaça que se avizinha.
E mesmo quem tem pivô, no caso da irrigação das lavouras de milho, pode enfrentar o problema no início do verão 2020/2021, pois não há perspectiva de que o cenário melhore em termos de quantidades de chuva no Estado até dezembro.
Para o gado de corte, os danos são igualmente grandes. De acordo com Agnaldo Barcelos, um dos diretores responsáveis pelo setor de Pecuária Familiar da Fetag/RS, quem conseguiu cultivar pastagens nos últimos meses não viu a planta se desenvolver e já padece com escassez.
“Boa parte do que foi plantado em pastagem está morrendo. E o que se tinha de forragem guardada para alimentação já era escasso em função da estiagem passada. Estamos saindo do inverno e sem alimentação em quantidade suficiente para alimentar o gado”, lamenta Barcelos.
Como naturalmente o gado já sai do inverno com score corporal baixo e esta seria a época de melhorar esse quadro com alimentação mais abundante, a preocupação aumenta no segmento. E terá impacto logo adiante, diz o representante da Fetag.
Isso afeta, entre outros fatores, para que as vacas peguem cria. Ou seja, haverá falta de terneiros no futuro e em um momento em que a produção de terneiro é o “filé” da pecuária de corte pela valorização inclusive nas exportações de gado em pé.
Com a perda de score corporal e falta de recuperação das matrizes, se dificulta a prenhes e, a produção do terneiro que nasceria entre abril e maio, aponta o representante da Fetag.
Além da falta de terneiros no mercado pelo avanço das lavouras, essa oferta será ainda menor no próximo ciclo, diz Barcelos. Isso porque animais que já vinham com desenvolvimento reduzido desde a última estiagem seguem sem ganhar peso.
“Temos o gado com score corporal no mínimo 30% abaixo do que deveria e que ainda vai demorar muito tempo para recuperar porque a alimentação volta a ficar escassa”, lamenta Barcelos.
Segundo Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat), a redução da produção normal neste período que seria normal entre 1% e 3%, no máximo. Neste ano, novembro já registra queda de 10% em parte das propriedades mesmo onde se está comprando silagem no Paraná para alimentar o gado.

Sem desenvolvimento do gado, produtor não vende e acumula prejuízo

Problema se acumula desde 2019, com poucos registros de chuva em 2020

Problema se acumula desde 2019, com poucos registros de chuva em 2020


JARDEL COSTA/AG/DIVULGAÇÃO/JC
Para Bernardo Pötter, presidente do conselho técnico da Conexão Delta G, associação nacional de agroempresas com foco nas raças Hereford e Braford, o setor amarga, na verdade, mais de um ano consecutivo de estiagem.
“Os problemas começaram mais ou menos nesta época do ano passado e desde então vem chovendo muito pouco. Choveu pouco no verão, no outono, no inverno e agora, na primavera de 2020, também não está chovendo. Os prejuízos são enormes”, destaca o pecuarista.
Isso porque, de acordo Pötter, ter um animal pronto para abate no Rio Grande do Sul está cada vez mais difícil, o que afeta diretamente a renda imediata do produtor. Além do já relatado problema para a prenhes, e a consequente queda na taxa de nascimentos de terneiros, o desenvolvimento dos animais presentes nos campos, especialmente mais novos, é prejudicado.
“Vivemos o baixo desfrute de animais e o aumento dos custos porque o produtor precisa comprar suplementos, grãos resíduos e subprodutos para alimentar o gado. O custo de produção do quilo dobrou e as taxas de natalidade caíram em alguns casos, de 80% para 40%”, explica o presidente do conselho técnico da Conexão Delta G.
Pötter explica que mesmo que o animal não perca peso, mesmo mantendo a ausência de desenvolvimento e engorda na terminação inviabiliza mandar o boi para o frigorífico. E boa parte dos terneiros desmamados no outono passou este inverno assim e atualmente mantém praticamente o mesmo peso de um ano atrás.
“A taxa de crescimento está muito baixa. A indústria não abate animais magros. Se não engorda, tu não vende e ainda fica com o custo de manter o animal alimentado e hidratado dentro da propriedade, gerando custos”, explica o pecuarista.