A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu flexibilizar a proibição do agrotóxico paraquate, permitindo que os produtores agrícolas utilizem os estoques remanescentes do produto na safra 2020-21. Uma Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) da agência foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira (8), autorizando a prorrogação do prazo para uso dos estoques remanescentes em posse dos agricultores. A decisão atende a uma solicitação feita pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e demais entidades do setor e da Frente Parlamentar Agropecuária.
O paraquate havia se tornado proibido no Brasil em 22 de setembro, após a agência decidir não prorrogar o início do banimento do herbicida. O agrotóxico é considerado um dos mais nocivos no mercado e associado à ocorrência do Mal de Parkinson entre produtores agrícolas.
Em reunião da diretoria colegiada da agência, na quarta-feira (7), os diretores decidiram por unanimidade, 5 votos a 0, alterar a resolução 177, aprovada em 2017, que havia determinado a proibição a produção, importação e comercialização do produto no Brasil, em um prazo de três anos. A mudança na resolução permite que os agricultores utilizem o estoque já adquirido do produto durante a safra vigente.
O último uso permitido do paraquate vai se dar nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nos estados da região Sul, as lavouras da região sul que podem utilizar produtos a base de paraquate e as datas limites são: maçã (31 de outubro de 2020); algodão (28 de fevereiro de 2021); feijão, milho, batata e citrus (31 de março); cana de açúcar (30 de abril de 2021); soja (31 de maio de 2021); café (31 de julho de 2021); e trigo (31 de agosto de 2021).
Com a decisão apenas permite o uso dos produtos já estocados, o banimento do ingrediente não foi suspenso. Sendo assim, a industrialização e comercialização de paraquate seguem proibidas.
Flexibilização
Há um mês, a mesma diretoria colegiada da Anvisa havia negado pedido do setor para que o início da proibição fosse adiado até 31 de julho de 2021. O novo pedido de flexibilização na proibição partiu do Ministério da Agricultura, que encaminhou um ofício ao diretor-presidente substituto da Anvisa, Antonio Barra Torres. O ofício solicitando o uso dos estoques argumentava que os produtores rurais brasileiros adiantaram a compra do herbicida, por conta da alta do valor do dólar.
A retirada do produto do mercado brasileiro, argumenta a pasta, poderia resultar em aumento nos custos de produção e consequente inflação de produtos alimentícios para a população brasileira. O Ministério da Agricultura também afirmou que a proibição imediata do paraquate resultaria em graves consequência na balança comercial brasileira e para o PIB (Produto Interno Bruto).
Os diretores da Anvisa também afirmaram em seus votos que havia preocupação em relação ao possível retorno dos estoques comprados, processo que poderia acarretar problemas ambientais e de saúde pública.
O paraquate é um dos agrotóxicos mais vendidos do Brasil. O produto é usado largamente em culturas como algodão, milho e soja.
Revisão de estudos finalizada pela Anvisa em 2017, no entanto, havia levado a agência a decidir pelo banimento do produto no mercado devido a riscos graves à saúde dos agricultores.
Os dados à época apontaram que o herbicida tem potencial mutagênico (ou seja, pode trazer mudanças no material genético) e traz risco de doença de Parkinson entre produtores que lidam com o produto.
Não há evidência de prejuízos à saúde da população ou de que o herbicida deixe resíduos nos alimentos. A agência, no entanto, definiu um período de transição de três anos até a retirada completa do produto do mercado brasileiro, com reforço de medidas de segurança.
A resolução previa, na ocasião, que a agência poderia mudar seu entendimento, caso novas evidências científicas fossem apresentadas, o que não ocorreu. Esse período se encerrou no dia 21 de setembro deste ano.
O setor solicitou então uma prorrogação do prazo, alegando que não houve tempo suficiente para a conclusão de estudos sobre o potencial mutagênico do produto, principalmente por conta da pandemia do novo coronavírus.
Em decisão colegiada apertada - 3 a 2 - a diretoria colegiada da Anvisa decidiu não prorrogar o início da proibição do paraquate, no mês passado.