Publicada em 01 de Outubro de 2020 às 16:36

Permanência do jovem no campo é desafio mesmo com o agro em alta

Muitas vezes o fator sociocultural tem influência na decisão de saída do jovem do campo

Muitas vezes o fator sociocultural tem influência na decisão de saída do jovem do campo


VALTRA/DIVULGAÇÃO/JC
Thiago Copetti
Um setor que acumula frequentes recordes, que faz a diferença na balança comercial brasileira e é um dos pilares da economia nacional. O agronegócio há anos vem mostrando a sua cara, mas, ainda assim, os jovens têm dúvidas sobre permanecer ou não no campo. Afinal, o que o leva a ficar e o que determina a sua saída?
Um setor que acumula frequentes recordes, que faz a diferença na balança comercial brasileira e é um dos pilares da economia nacional. O agronegócio há anos vem mostrando a sua cara, mas, ainda assim, os jovens têm dúvidas sobre permanecer ou não no campo. Afinal, o que o leva a ficar e o que determina a sua saída?
Para entender melhor essas duas questões o Sistema Ocergs-Sescoop/RS tem se debruçado há anos em diferentes estudos sobre o tema, abordado em debate no Canal 1 da Expointer (www.expointer.rs.gov.br) nesta quinta-feira.
A live Jovens impulsionam cooperativas agropecuárias: Programa Aprendiz Cooperativo do Campo, trouxe à tona pesquisas que começaram a ser feitas em 2014 e que, de certa forma, segue sendo alimentada e abastece as estratégias a Ocergs no desafio de compreender melhor os estímulos e os desestímulos para a permanência do jovem no meio rural.
Além dos fatores que tradicionalmente norteiam o tema - como a falta de infraestrutura de comunicação (especialmente internet), carência de alternativas de lazer e o fato de que quase tudo é mais distante - a Ocergs começou a identificar e trabalhar com um novo ponto de vista. Há também um fator sociocultural, muitas vezes com origem dentro de casa, que também “enxota” a nova geração para fora da propriedade, diz José Zigomar dos Santos, gerente de promoção social do Sescoop/RS.
É fato que os jovens querem buscar sua “tribo” e querem ir para a “balada”, diz Santos. Mas há uma cultura dentro de muitas propriedades que também empurra o filho ao meio urbano para, em tese, ter uma vida melhor. “Há uma frase comum que os produtores dizem aos filhos: ‘vai estudar para não sofrer igual a nós’. Assim, essa gurizada que nasceu no meio rural se cria em um ambiente que os coloca para fora da propriedade, para ter faculdade e uma vida que seria melhor”, explica o Santos.
Outro fator correlato, e ainda pouco considerado, diz o administrador e professor, é que os pais acabam priorizando a saída das meninas para estudar na cidade - já que os homens seriam mais necessários na lida do campo. Com esse ambiente excessivamente masculinizado, as possibilidade de um “matinê” na comunidade e um futuro romance diminuíram muito, aponta Santos.
Soma-se a isso um conceito que até hoje pode soar moderno, mas já é antiquado como ferramenta de trabalho para evitar o êxodo dos jovens do campo, alerta Santos. “Sucessão rural pressupõe um assumir o lugar do outro e não uma convivência das gerações. É o fim de um e o começo do outro. Temos que trabalhar a continuidade, e não a sucessão”, defende o gerente de promoção social do Sescoop/RS.
Esse continuidade e convivência dependem, e muito, dos pais, explica Santos. O jovem que está na lida precisa ter uma renda definida (que pode ser um percentual dos lucros da propriedade) e compartilhamento nas decisões familiares. Ou seja, é preciso pensar sua vida econômica e a participação desde cedo nas decisões do negócio. Afinal, ele também se dedica todos os dias às atividades rurais - o que precisa ser reconhecido e recompensado.
“O jovem tem de ser visto com um sócio no negócio familiar. No programa do Sescoop, Jovem Aprendiz Rural, a pedagogia que adotamos também trabalha os pais. Propomos estimular a permanência do jovem do campo. Não a sucessão, mas a convivência e a continuidade”, argumenta Santos.

Caethana mora na cidade, mas o coração está no campo

Mesmo sem morar no meio rural, a pequena de 11 anos já almeja um rebanho zebuíno

Mesmo sem morar no meio rural, a pequena de 11 anos já almeja um rebanho zebuíno


LUIZA PRADO/JC
A pequena Caethana de Lara Savian do Nascimento nunca morou no meio rural, propriamente dito, mas fala como se fosse. Orgulha-se de dizer que tem 11 anos e que já esteve em 11 Expointer.
Filha do pecuarista João Augusto do Nascimento e de Neriane de Lara, a pequena Caethana acompanha atenta os pais nesta edição, ajuda no cuidado com os cavalos e ovinos da Fazenda do Descanso, e quer ter uma criação de zebuínos. Já tem animais no seu nome, que expõe na feira com o pai, e pretende começar um rebanho de zebuínos. Ela conta que acha lindo o cupim nas costas dos animais, desde pequena.
Para estimular a filha em um futuro negócio, digamos assim, os pais compram sêmens de animais escolhidos por ela. Ou seja, ela já dá pitaco nas decisões que são tomadas sobre o futuro da fazenda. Mas diz que, pensando atualmente, não moraria na propriedade, em São Martinho da Serra, principalmente porque a internet é falha e não há amigos próximos.
“É longe de tudo e não tem internet boa. E hoje precisa de internet para tudo. Eu ajudo por lá quando vou, mas não vou todos os dias. Quando eu assumir a propriedade, vou fazer como meu pai, e me deslocar para lá diariamente, mas seguir morando em Santa Maria”, explica a futura veterinária.

Arthur quer mais lavouras, menos vacas e mais lucros

Arthur não gosta da rotina com vacas leiteiras, mas sair do campo não está nos planos

Arthur não gosta da rotina com vacas leiteiras, mas sair do campo não está nos planos


LUIZA PRADO/JC
Com apenas 14 anos Arthur de Moura Paiva fala com uma impressionante articulação sobre o que quer para o futuro. E ele quer que o futuro ainda seja na propriedade rural em que vive, e trabalha com a família. Mas já defende em conversa com os pais a necessidade de ampliar a produção de milho e reduzir a pecuária de leite. Hoje, o milho serve apenas para alimentar as cerca de 40 vacas, na granja Tucané, em Taquara.
“Nosso planejamento é de um seguir tocando o leite e ampliar a plantação que hoje é feita em seis hectares e já foi ampliada. O leite é muito trabalho, corre de um lado para o outro, não tem hora e dia”, conta o jovem tratorista.
Arthur, que está na oitava série, conta que o pai estimula o estudo e também a migração de culturas. O que mais o incomoda é distância para encontrar os amigos, mesmo os que ainda estão na área rural. Mas prefere isso do que viver em um apartamento. “No sítio estou sempre fazendo alguma coisa para fora. A ideia é cursar mecânica ou agronomia. E ter mais lavouras e menos vacas. Até pensamos em desistir do leite, mas como o preço melhorou, seguimos mais um tempo”, conta o jovem produtor. Deixar a propriedade da família, em Parobé, definitivamente não está nos planos de Arthur. Quando tem folga, pega uma parte dos ganhos que já recebe pelas atividades que desempenha e vai jogar sinuca e conversa fora com outros jovens produtores.
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Pablo aposta na mecanização da pecuária e na volta aos estudos

Seis meses na cidade foram suficientes para fazer Pablo retornar

Seis meses na cidade foram suficientes para fazer Pablo retornar


LUIZA PRADO/JC
Junto com o avô e dois irmãos, Pablo Henrique Aguiar de Passos, 20 anos, toca o tambo familiar, recentemente mecanizado com ordenha robotizada, na cabanha Terra Santa, em Parobé. A renda é complementada com plantio de aipim e de melancia para comercialização. Mas a maior parte da é destinada ao milho silagem e para feno.
“A maioria dos que querem parar é porque o trabalho com leite é muito cansativo. Em casa o que fizemos e uma escala para que todo mundo possa folgar ao menos um final de semana. Além de investir na mecanização”, destaca Pablo.
Sem muito estímulo para os estudos, ele conta que o avô construiu um bom patrimônio sem isso. Por isso, pela correria das atividades diárias e pelo muito que diz aprender com a prática, acabou abandonando a escola e concluiu somente até a 8ª série. A tal prática que ele optou em detrimento do estudo, diz, já o leva a dar até atendimento em outras propriedades, como preparador de animais. “Eu praticamente nasci embaixo de uma vaca. Estudar também exige tempo. Eu e meu irmão queremos e nos dividimos. Primeiro ele retomou, depois será minha vez. Só não voltei agora por causa da pandemia”, ressalta Pablo.
Ele conta que já tentou trabalhar na cidade, mas conseguiu aguentar a rotina em um supermercado por menos de seis meses. “Fui para cidade depois de me estressar com meu vô. Trabalhar com família é complicado. Mas logo voltei. Prefiro tratar com vacas do que lidar com pessoas todos os dias”, brinca Pablo.
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