A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta quinta-feira, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Brigada Militar, a Operação Unlocked, para reprimir a prática de locaute em rodovias do Rio Grande do Sul. Mais de 60 policiais federais cumpriram três mandados de busca e apreensão nos municípios de Vale Real e Caxias do Sul, e um de prisão temporária de um empresário em um condomínio de luxo em Xangri-lá.
Empresários estiveram por trás de bloqueios de cargas em rodovias federais, estaduais e, inclusive, estradas vicinais no Rio Grande do Sul, conforme as investigações da PF. O superintendente da PF no Estado, Alexandre Isbarrola, informou que os próprios sócios de transportadoras atuavam nas estradas contra a liberação do tráfego de mercadorias, o que configura locaute.
Vinicius Pellenz, dono da empresa de logística Irapuru, de Caxias do Sul, foi detido. A PF enquadrou sua atuação como atentado à liberdade do trabalho, ameaça e associação para o crime.
A investigação apontou Pellenz estaria ameaçando caminhoneiros para que não realizassem o transporte de cargas, além de obrigar motoristas a desembarcarem dos seus caminhões e os abandonarem em postos de combustíveis. A atuação criminosa teria ocorrido nas rodovias RS-122, RS-452 e BR-116, na região dos municípios de Bom Princípio, Feliz e Vila Cristina.
Um áudio atribuído ao empresário apresenta uma suposta ameaça a caminhoneiros que continuavam a trabalhar após o início da greve. A gravação circulou nos grupos de WhatsApp utilizados por caminhoneiros e foi anexada ao inquérito que deu origem à prisão do empresário. "Ô nego, para teus caminhão ali. Vieram falar aqui que ali no Alto Feliz tu tá andando com milho. Não leva milho, não faz nada para a Agrosul", diz o áudio creditado ao empresário.
Em outro trecho da gravação, distribuída em grupos de WhatsApp utilizados pelos grevistas, o empresário manda um caminhoneiro parar os caminhões. "Os guris já estão ligados. Tem uns caras escondidos nos morros das batatas ali pra cima. Agora, ninguém vai mais subir e ninguém vai descer. Para os caminhão."
Sediada em Caixas do Sul, a Irapuru informa, em seu site, que presta serviços de movimentação e armazenagem de carga em todo território nacional, Argentina e Uruguai. A reportagem tentou contato com a empresa e com o advogado Lúcio de Constantino, que defende Pellenz, mas não obteve resposta.
"Tivemos elementos contundentes de que o foco era a interdição de ração, proteína animal e também combustíveis, mas a circulação de todo tipo de carga foi afetada", acrescentou Isbarrola. "O efetivo da PF está mobilizado e trabalhando fortemente para a identificação deste e de outros fatos que venham a ocorrer para impedir o livre tráfego de mercadorias. Vamos identificar e responsabilizar essas pessoas", afirmou.