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Cultura

- Publicada em 04 de Junho de 2018 às 08:52

Novo filme de Licínio Azevedo tem sessão comentada em Porto Alegre

Primeiro filme moçambicano inscrito no Oscar, Comboio de sal e açúcar se passa durante guerra civil

Primeiro filme moçambicano inscrito no Oscar, Comboio de sal e açúcar se passa durante guerra civil


LIVRES FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Ricardo Gruner
Nascido em Porto Alegre, Licínio Azevedo não pisava em sua terra natal há 17 anos, embora tenha ido a outras cidades brasileiras neste período para divulgar seus filmes. Jornalista convertido em cineasta, ele está radicado em Moçambique desde 1977 e é reconhecido como o grande nome do cinema do país africano.
Nascido em Porto Alegre, Licínio Azevedo não pisava em sua terra natal há 17 anos, embora tenha ido a outras cidades brasileiras neste período para divulgar seus filmes. Jornalista convertido em cineasta, ele está radicado em Moçambique desde 1977 e é reconhecido como o grande nome do cinema do país africano.
O realizador participa nesta segunda-feira (4) de uma sessão comentada de Comboio de sal e açúcar, seu mais novo filme. A exibição acontece na Cinemateca Capitólio Petrobras (Demétrio Ribeiro, 1.085), a partir das 19h30min. Ao término do longa-metragem, o diretor debate com Nosta Mandlate, mestre em Ciência Política pela Universidade Católica Moçambicana e Doutoranda em Sociologia na Ufrgs, e com o pesquisador e crítico de cinema Pedro Henrique Gomes. Na quinta-feira, o trabalho estreia no circuito comercial, com sessões regulares.
Primeiro filme moçambicano a ser inscrito no Oscar, Comboio de sal e açúcar é resultado de um trabalho que foi se modificando ao longo do tempo. A ideia surgiu como um projeto de documentário, na década de 1980, e materializou-se como um romance ficcional publicado pelo próprio Licínio Azevedo nos anos 1990. Só em 2016 ganhou as telas, em versão adaptada do livro, com estreia internacional do Festival de Locarno.
A narrativa se passa em 1988, durante a guerra civil no país em que o realizador vive. O espectador acompanha os passageiros de um trem que vai de Nampula, província junto ao Oceano Índico, até o Malaui - arriscando suas vidas para trocar sal por açúcar ou buscar outras oportunidades.
"Na época, pensei em fazer um documentário daquele período. Não fazia ficção ainda. Mas não consegui financiamento. Os possíveis financiadores, europeus, diziam que eu era maluco: não iriam colocar dinheiro num documentário desses por não saber se ele ia chegar ao fim", relembra o realizador, a respeito dos riscos do percurso em um período de violência extrema. "Quando a guerra acabou, em 1992, entrevistei os trabalhadores da ferrovia, os maquinistas, mulheres que faziam o trajeto, militares... Mas documentário, para mim, é sobre o que está acontecendo no momento. Com o passado, me sinto mais à vontade fazendo ficção."
O livro virou filme após seu autor conquistar notoriedade como cineasta - e, consequentemente, conseguir financiamentos maiores. Membro da geração formada no Instituto Nacional de Cinema de Moçambique (criado com intervenções de professores como Godard e Ruy Guerra, após a independência do país, em 1975), o realizador tem cerca de 40 filmes no currículo. A maior parte de sua obra é formada por documentários sobre a guerra, tema de interesse de televisões europeias. Comboio de sal e açúcar é apenas seu terceiro projeto ficcional e segue a trajetória de sua obra anterior, Virgem Margarida, também selecionada para uma lista de festivais.
Descrito, frequentemente, como um western africano, o novo filme aborda temas como o abuso de poder, assunto que Licínio Azevedo diz ser bem conhecido no país - embora poucos livros e filmes sobre a época falem sobre o assunto. "A verdade é que não existem bons e maus na guerra. E não existe guerra pior do que a civil, com familiares contra familiares, lutando mesmo sem saber por quê", afirma o gaúcho. "Muitas crianças eram raptadas e transformadas em soldados, obrigadas a matar seus familiares. Nesse processo de desumanização, havia muita violência, dos dois lados."
Comedida na brutalidade, a história apresentada pelo diretor foi viabilizada a partir de uma coprodução do país com Portugal, Brasil, França e África do Sul. Não há fundos para cinema em Moçambique, mas o apoio do governo local aconteceu de outras formas: as autoridades colaboraram com a logística por trás da ferrovia durante as filmagens. Já os integrantes do exército que aparece na figuração são verdadeiros militares.
O projeto foi recebido pelos moçambicanos com sucesso - batendo recordes de bilheteria e superando em público até mesmo o blockbuster Transformers, em cartaz na mesma época. De acordo com o realizador, quando o filme foi lançado, havia apenas quatro salas no país - número bem distante das cerca de 80 que existiam antes dos confrontos civis. Os grandes cinemas todos faliram devido à impossibilidade de receita, e as salas que existem atualmente seguem o modelo contemporâneo: pequenas, em centros comerciais - a maior parte está localizada na capital, Maputo.
O número de produtoras também é baixo. A Ebano Multimédia, com a qual o porto-alegrense atua, tem quase 30 anos de atividades e é a mais antiga. "Mas há mais duas ou três importantes", completa ele. "O que produzimos muito lá são filmes educativos, trabalhamos bastante com as ONGs. É uma maneira de contribuir com o país e, ao mesmo tempo, possibilitar aos cineastas e produtores sobreviverem", contextualiza.
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