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Cultura

- Publicada em 23 de Maio de 2018 às 10:44

Nota a nota: italiana Mafalda Minnozzi faz show nesta quarta em Porto Alegre

Cantora se apresenta com o guitarrista norte-americano Paul Ricci no Sgt. Peppers, a partir das 21h

Cantora se apresenta com o guitarrista norte-americano Paul Ricci no Sgt. Peppers, a partir das 21h


DANI GURGEL/DIVULGAÇÃO/JC
Caroline da Silva
Ela começou há 35 anos e nunca parou de cantar. "Passei por todas as fases: anos 1980, 1990, 2000 e cada vez fui me encaixando, andando, seguindo meu espírito, minha contemporaneidade, meu crescimento civil, político, intelectual, espiritual, cultural", relata Mafalda Minnozzi. Hoje, aos 50 anos, a italiana se diz muito feliz com a artista que se tornou: "Construí pedaço a pedaço, nota a nota, minha extensão vocal, minha respiração, meu senso rítmico, minha polifonia, minhas características teatrais em cima do palco, minha mímica, minha paixão e emoção".

Ela começou há 35 anos e nunca parou de cantar. "Passei por todas as fases: anos 1980, 1990, 2000 e cada vez fui me encaixando, andando, seguindo meu espírito, minha contemporaneidade, meu crescimento civil, político, intelectual, espiritual, cultural", relata Mafalda Minnozzi. Hoje, aos 50 anos, a italiana se diz muito feliz com a artista que se tornou: "Construí pedaço a pedaço, nota a nota, minha extensão vocal, minha respiração, meu senso rítmico, minha polifonia, minhas características teatrais em cima do palco, minha mímica, minha paixão e emoção".

Para a intérprete, é tudo fruto de um percurso longo e desafiador. "Eu nunca peguei a estrada principal, o caminho mais fácil, nunca aceitei convite para subir num trio elétrico para pular com a Tarantella." Mafalda continua: "Nunca assumi definitivamente o sucesso como parte integrante da minha vida. Deus me livre, a música é sacrifício, é conhecimento. Então, eu gosto da cantora que cheguei a ser hoje e, com certeza, vou gostar mais da Mafalda que virá daqui a 10 anos, e se não for assim, devo parar de cantar".

Conhecida mundialmente, cantando em diferentes línguas, hoje ela retorna a um palco da capital gaúcha para se apresentar em duo com o guitarrista norte-americano Paul Ricci. Eles fazem o show do disco Cool Romantics, que fecha a trilogia do projeto jazzístico eMPathia. O espetáculo já passou por espaços consagrados como Birdland e Mezzrow em Nova Iorque, Teatro Fontana em Milão, Casa del Jazz em Roma, a Casa da Música no Porto e Jazzahead em Bremen, na Alemanha. No Sgt. Peppers (Quintino Bocaiuva, 256), a partir das 21h, a dupla contará com a participação especial do acordeonista local Luciano Maia.

Entre as faixas do CD, há cinco representantes da MPB: Insensatez (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes), Correnteza (Antonio Carlos Jobim/ Luiz Bonfá), Você e eu (Carlos Lyra/ Vinicius De Moraes), Jogral (Djavan/ Filó Machado/ José Neto) e Dindi (Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira/ vs. Ray Gilbert) - além de temas interpretados em italiano, inglês e francês. Segundo ela, a escolha de todo o repertório para o projeto eMPathia Jazz Duo foi íntima, visceral. "É um compêndio de experiências. Não apenas para comemorar os 60 anos da bossa nova, não apenas para comemorar o jazz e sua grande volta às grandes plataformas musicais mundiais, mas por uma exigência minha profunda de comunicar ao público minhas emoções independentemente do idioma que canto", conclui.

"Depois de tantos shows que fiz em Porto Alegre, quero mostrar que há algo demodê, que virou do meu passado, uma história que não é bem contada da minha parte. O meu show contém também um lado romântico fantástico, porque faz parte da minha comunicação. Não vai faltar isso, mas com leituras que me pertencem e pertencem à minha história musical", adianta, sobre o roteiro da apresentação.

Mafalda conta que costuma sempre fazer convites especiais para os seus shows: "É uma experiência criativa, de laboratório. O palco é um ponto de encontro, um ponto de partida para ir para outras direções. O palco é um porto, mas também é uma igreja, sagrado. No meu caso, eu convido artistas que tenham algo de precioso a dizer". Ela diz que Luciano Maia é um desses, um talento que está tentando encontrar outros caminhos em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, além de recém ter voltado de uma turnê na Europa.

A cantora italiana conheceu o acordeonista gaúcho muito jovem, há cerca de 12 anos, e afirma ter ficado encantada com o seu som. "Ele é muito curioso, porque é um grande músico, eu sei que ele aceitou esse convite como um desafio, porque não é fácil tocar com a gente, não é fácil tocar nesse ambiente harmônico que o jazz te obriga a criar e improvisar."

O espetáculo na Capital integra o projeto Noites Especiais, que começou em 2016 e já trouxe ao Sgt. Peppers grandes nomes da música brasileira e internacional. A iniciativa é capitaneada pelo cantor, compositor e produtor Antonio Villeroy. Entre as próximas atrações, já está confirmado um novo show da cantora e compositora italiana Chiara Civello, no dia 14 de junho, e, na sequência, Flavio Venturini e Francis Hime. Os ingressos para hoje custam R$ 50,00 (meia-entrada) e R$ 100,00 (inteira). Há ainda uma modalidade promocional, ao valor de R$ 60,00 acompanhado de 1kg de alimento não perecível (cujas doações serão destinadas à Fundação Pão dos Pobres). Reservas pelo telefone (51) 99246-7780.

JC - Panorama: Como foi a escolha de repertório para o Cool Romantics? Se baseou na aproximação histórica entre jazz e Bossa Nova?

Mafalda Minnozzi: A escolha do repertório vem de uma história que venho retratando na música de muitos anos. Não somente pelo repertório do Cool Romantics, mas pela trilogia completa que gravei com o guitarrista Paul Ricci para esse novo projeto eMPathia Jazz Duo. Tem de tudo: a aproximação do jazz e bossa nova, com certeza, que me envolve demais por passar muito do meu tempo em Nova Iorque desde os anos 1990, tem minha profunda e eterna paixão pela música popular, tem minha convivência aqui com grandes músicos do porte de Nico Assumpção, Paulo Moura, Guinga, Martinho da Vila, Milton Nascimento e tantas colaborações que venho fazendo desde minha chegada aqui. O jazz me ajudou nisso, a improvisação me ajudou nisso, e os compositores que escolhi me ajudaram a vincular a mensagem para a plateia e ao público.

Panorama: Como está hoje a tua relação com o público brasileiro passado o "boom italiano" dos anos 1990? Ainda te sentes muito bem-recebida nos espetáculos realizados por aqui?

Mafalda: A recepção aqui no Brasil é sempre extraordinária, sempre maravilhosa, mas não é somente porque uma plateia vai sentar para ouvir música italiana, inclusive no meu caso, vai ouvir música francesa, italiana, norte-americana e mais o encontro com a personagem, com o ser humano, com o artista, com a energia que aquele artista representa para você. Óbvio que se uma Globo vai fazer uma produção de uma novela onde só se fala italiano, a procura é bem maior. Mas eu não busco sucesso, procuro emoções e verdade, e muitas vezes eu encontro até nos cantos mais incríveis do mundo. Melhor ainda aqui no Brasil, porque o brasileiro é uma alma aberta, acolhedora e generosa, é culta musicalmente falando. Então, para mim, uma pessoa que está sentada na minha frente, ouvindo e abrindo o coração, vale por mil pessoas. Eu não sou a artista que arrasta quarteirões, sabe? Eu espero ser uma artista que arrasta corações. A música italiana morreu porque não tem investimentos. A música italiana não tem espaço! Assim como você está vendo, no dia a dia, a música popular brasileira é sufocada por produções diferentes, então imagina...

Panorama: Tens acompanhado a produção musical contemporânea brasileira? Destacas algo?

Mafalda: Nossa, eu sou apaixonada pela música popular. Para mim, lá de Villa-Lobos, do chorinho, samba-canção, samba do morro, a música popular que passa por toda a bossa, vai pro tropicalismo; Tom Zé, idolatro. Uma das minhas compositoras favoritas aqui é a Adriana Calcanhotto, e depois o dia a dia tem preciosidades absurdas, maravilhosas, como o Cícero. A minha banda favorita hoje em dia é o 5 a Seco e Bruna Caram. O Pedro Altério, que faz parte do 5 a Seco, também tem uma discografia solo maravilhosa, tem um disco que ele fez uns anos atrás que é um tiro. Tem Dani Black, Filipe Catto, Fabiana Cozza, Mart’nália, Marcelo Jeneci, Maria Gadú, Thiago Petit... Com alguns deles, eu fiz colaborações. Considere que eu já convidei a Bruna Caram para cantar marchinhas comigo, o Pedro Altério também, o Rafael Altério... O Dani Black, recentemente, nos meus 20 anos de Brasil, foi meu convidado de honra. Com o Filipe Catto, fiz milhares de coisas, estamos sempre em contato. O Criolo também, eu amo. E eu sou correspondente de uma rádio italiana para a qual sempre levo novidades da música brasileira.

Panorama: E qual tua avaliação da música italiana atual?

Mafalda: A música atual é muito estranha, porque não é italiana. É um remake do remake do remake de muita coisa que vem da Inglaterra, do Norte da Europa, muito vem dos Estados Unidos. Nós, na Itália, somos muito “exteriófilos”, amamos tudo o que vem de fora. Não é como aqui no Brasil que, afinal, o maior consumo de música é brasileira, apesar de ser funk, sertanejo, samba. Na Itália, não, lá é música pop, o que está mais na rádio. Agora, continuam sendo muito fortes os leões da música, os grandes cantores que escreviam as próprias músicas nos anos 1980, como Renato Zero, Biagio Antonacci, Carmen Consoli – que é mais jovem, mas já tem 44 anos. Atuais, tem os reality shows, em que as cantoras continuam fazendo músicas dos grandes cantores dos anos 1960, 1970 e 1980. Mas a nova discografia sofre demais... Infelizmente, não temos uma produção bacana, é muito limitada e é comida pelas grandes gravadoras. A música norte-americana ainda é muito forte.

Panorama: Em que momento da tua trajetória se configurou essa tríade de interpretações em italiano, português e inglês marcando teus shows?

Mafalda: Meu primeiro idioma foi, por incrível que pareça, o francês e o latim. O latim nos cantos gregorianos da igreja e o francês para aprender o máximo o repertório de Piaf e de Charles Aznavour. Me encantava o idioma e as músicas, eram dramáticas, tanto quanto eu quando jovem. Depois me aproximei do jazz através de Sinatra, Caterina Valente, um pop jazz, para depois conhecer as grandes cantoras do jazz que me inspiraram, como Sarah Vaughan. Mas tive muita influência da Caterina Valente, que, embora europeia, cantava em vários idiomas, inclusive português. Depois me inspirei pela Elis Regina quando a ouvi pela primeira vez no final dos anos 1980, Maria Bethânia nos anos 1990. Queria aprender a cantar em português de tão bonitas que eram as sonoridades, fui andando pela curiosidade. Então cheguei ao Brasil, mas o destino quis que eu só cantasse em italiano, era embaixadora da música italiana. Agora que amadureci e estou com 50 anos de idade, sinto que posso comunicar também outras plateias, através de outros idiomas, num comum denominador chamado não o idioma, mas a música. Podem ser até sonoridades diferentes, algo que não seja italiano ou inglês ou espanhol, ou português, ou romeno... Já cantei em grego, já cantei muito em espanhol.

Panorama: Qual a impressão de sonoridades que o trabalho de Paul Ricci - com quem trabalhas há tantos anos - trouxe à tua obra recente?

Mafalda: Nesse trabalho chamado eMPhatia Jazz Duo, eu toco as cordas das guitarras dele e ele toca minhas cordas vocais, num único respiro, num único passo e numa empatia total, corporal, física e intelectual. A gente tem que se conhecer muito bem e se amar profundamente, amar o som do outro, as inspirações do outro. Ele trouxe pra mim um mundo sensacional, o mundo da harmonia, do ritmo. Tocamos juntos há mais de 20 anos. Atrás de cada novela que fiz, em cada música que fiz para Jorge Furtado e seu filme Saneamento Básico, o Paul sempre esteve me dando força musical, experiência, conhecimento, know-how, estudo.... A gente estuda entre 8 e 10 horas por dia para chegar a esse som. Nós completamos o mesmo percurso.

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