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Teatro

- Publicada em 31 de Maio de 2018 às 22:14

Palco Giratório: semana dedicada à mulheres

Terminou (infelizmente!) o 13º Palco Giratório, promovido anualmente pelo Sesc, com mais de uma meia centena de espetáculos produzidos ao longo de todo o Brasil. Na semana passada, além do fato de as temáticas do festival terem se concentrado em torno da situação de opressão, violência e marginalização da mulher, tivemos também a presença do talvez mais distante grupo a se apresentar na mostra, embora não pela primeira vez, O imaginário, de Rondônia, atuando na capital, Porto Velho, na fronteira com a Bolívia. Seu espetáculo, As mulheres do aluá, impacta desde o primeiro minuto: quatro jaulas guardam quatro mulheres presas. Através de uma primeira intervenção, sabemos que boa parte delas foi violentada, sexualmente, pelo pai, depois encontrou dificuldades de sobrevivência.
Terminou (infelizmente!) o 13º Palco Giratório, promovido anualmente pelo Sesc, com mais de uma meia centena de espetáculos produzidos ao longo de todo o Brasil. Na semana passada, além do fato de as temáticas do festival terem se concentrado em torno da situação de opressão, violência e marginalização da mulher, tivemos também a presença do talvez mais distante grupo a se apresentar na mostra, embora não pela primeira vez, O imaginário, de Rondônia, atuando na capital, Porto Velho, na fronteira com a Bolívia. Seu espetáculo, As mulheres do aluá, impacta desde o primeiro minuto: quatro jaulas guardam quatro mulheres presas. Através de uma primeira intervenção, sabemos que boa parte delas foi violentada, sexualmente, pelo pai, depois encontrou dificuldades de sobrevivência.
Uma é exceção, até certo ponto, pois, apesar de seu drama inicial, consegue compor uma família equilibrada, até a morte do esposo. O pano de fundo é a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, que infelicitou milhares e milhares de pessoas, ao longo de anos, em todo o País. A base para a construção dramática, de Euler Lopes Telles, para a direção de Chicão Santos, é a pesquisa realizada por Nilza Menezes e o diretor, em processos criminais no fórum de Porto Velho, ou seja: trata-se de histórias verdadeiras de mulheres que, em algum momento (derradeiro) de suas vidas, foram presas, processadas e, na maioria, acabaram desaparecendo nas prisões.
A dramaturgia, apesar de forte, não mantém equilíbrio até o final, por vezes carece de maior tessitura. Mas de qualquer modo, a qualidade excepcional do elenco, formado por Agrael de Jesus, Amanara Brandão, Flávia Diniz e Zaine Diniz nos emociona e nos pega fortemente a atenção, levando-nos ao longo do espetáculo. A violência institucional (estrada de ferro, colheita do látex na floresta e a malária que ataca e mata os homens), os preconceitos sexuais e sócio/culturais, tudo é amalgamado e trabalhado dramaticamente num espetáculo profundamente impactante e que evidencia um trabalho que, além de artístico é de militância. Do diálogo final ao espetáculo, ficamos sabendo que o grupo sobrevive a partir dos poucos editais nacionais de que pode participar mas, assim mesmo, tem sede própria, onde desenvolve cursos e atividades as mais variadas.
O aluá do título é uma bebida ritualística, de origem indígena, composta a partir da fermentação dos grãos de milho. O cereal é batido, fermentado e a bebida é altamente alcoólica. No ritual, feminino, de preparação da bebida, as mulheres trocam ideias. Daí o título do espetáculo, reunindo estes quatro depoimentos dramatizados, pode-se dizer.
Outro trabalho interessante veio de Alagoas. Dança anfíbia é realização da Cia. dos Pés e surpreende por sua criatividade e variedade de proposta. Com cerca de uma hora de duração, a referência ao "anfíbio" do título pode ser lido sob várias perspectivas: uma delas é o vestido/desnudo. Os dois bailarinos e a bailarina que, na primeira metade da encenação, desenvolvem uma coreografia fatigante e altamente rítmica, num segundo momento se dirigem aos espectadores, sentados em roda, muito próximos a eles, indagando se eles querem "descobrir" aos intérpretes.
Vencida a primeira dúvida, os bailarinos são despidos e se segue um segundo momento da coreografia, em que se exploram sobretudo as potencialidades de dobragem do corpo sobre si mesmo. No final, os bailarinos buscam aqueles mesmos espectadores que os "descobriram" e os puxam para o centro da cena, ali improvisando coreografias que acabam revelando uma descontração muito maior do que se poderia imaginar, mesmo que se leve em conta que alguns dos espectadores também sejam integrantes de outros grupos de teatro que participam do festival.
Esta última noite do festival guardou, ainda, a segunda performance de Mulamba, show do grupo curitibano formado exclusivamente de mulheres e que tem fortíssima militância na denúncia da violência praticada contra mulheres, em nosso país. Com o Theatro São Pedro absolutamente lotado, o show começa em alta agitação, desenrola-se por mais de uma hora e agitou/emocionou/provocou a plateia, mostrando a vitalidade, apesar de todos os nossos percalços, da cultura brasileira. O 13º Palco Giratório, enfim, terminou em grande estilo e só podemos ser gratos a seus promotores e responsáveis por revelarem um Brasil sempre criativo e capaz de pensar por sua própria cabeça, apesar das mazelas de Brasília.
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