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Porto Alegre, quinta-feira, 24 de maio de 2018.
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Ant�nio Hohlfeldt

Teatro

Not�cia da edi��o impressa de 25/05/2018. Alterada em 24/05 �s 17h36min

Aprofundando a reflex�o sobre as margens

A segunda semana de espetáculos trazidos a Porto Alegre pelo 13º Festival Palco Giratório aprofundou a proposta da mostra. Logo na abertura da semana, encontramos Eles não usam tênis naique, de Isabel Penoni, com direção de Márcia Zanelatto. Chama a atenção o fato de colocar uma mulher como figura central da contravenção: romântica ou machistamente, nunca se imagina tal situação.
Em seguida, tivemos Balé ralé, que atrai desde o título da peça, com a recriação de poemas de Marcelino Freire para a cena, numa concepção e direção de Fabiano de Freitas, que também se encontra em cena. Trata-se de uma poesia forte e crítica, pouco convencional, que trabalha essas "beiras" a que já me referi em comentário anterior. A encenação igualmente é envolvente, com um elenco jovem, ambientado numa espécie de boate. Na verdade, as duas referências, a do título, ao "balé" e esta ambientação, na "boate", são também duas artificialidades: o balé não se refere à dança enquanto forma de arte, mas ao jogo social, em que todas as pessoas "dançam" conforme as circunstâncias, funcionando, assim, como uma denúncia do que se enfrenta no dia a dia. Quanto ao "cabaré", do mesmo modo, é uma imagem metafórica porque, em última análise, se refere igualmente a esse mesmo cotidiano, à vida de todo o dia, considerada enquanto um cabaré, em que uma multiplicidade de coisas acontecem. Os dois espetáculos, o da Cia. Marginal e o segundo, do Teatro de Extremos & Quintal Produções, nos trazem um outro Brasil, muitas vezes presente difusa e distantemente nas manchetes dos jornais, sobretudo nas páginas policiais, mas que envolve vidas comuns e anônimas que constituem, de fato, o País.
No fim de semana, tivemos um espetáculo que se distanciou geograficamente do País, mas que, na verdade, será, no contexto do festival, um dos que mais próximo se colocará em relação à nossa realidade imediata. O Jornal - The Rollingstone aborda caso verídico ocorrido em Uganda (aquele país do ditador Idi Amin Dada, o leitor lembra?), quando um jornal resolve iniciar campanha contra o homossexualismo e publica uma relação de 100 nomes de pessoas acusadas de tal comportamento. O fato é relativamente recente, de 2010, e certamente ecoa acontecimentos também recentes ocorridos no Brasil, entre o ano passado e este ano, em que discursos contra a liberdade de definição sexual atravessaram toda a sociedade brasileira. Chris Urch é dramaturgo inglês que desloca sua atenção para o assassinato do ativista David Kato, em 2011, médico irlandês que se desloca para a África afim de exercer ali sua profissão e ajudar aquela população, já que ele mesmo é mestiço africano.
Em 2013, Urch - que estreou como ator - recebeu prêmio de dramaturgia por sua primeira peça, Land of our fathers, que se passa numa mina, durante as eleições de 1979. O jornal é sua segunda obra e foi igualmente premiada com uma multiplicidade de reconhecimentos, mas não é, necessariamente, uma peça perfeita. A Folha de S. Paulo considera a abordagem do tema como "frívola". Acho que o crítico paulista não compreendeu a peça. Na verdade, a questão da homossexualidade é apenas um dos temas que ocupam a atenção do dramaturgo, que se divide entre questões das relações internas e dos interesses que vigoram nas organizações religiosas evangélicas que chegam ao continente africano (a mulher que defende a nomeação do jovem pastor por esperar que ele possa devolver a fala à sua filha, por exemplo), a ansiedade que os jovens vivem no seu dia a dia em relação ao futuro, já que muito pouco podem esperar no país, pela falta de emprego, assim como a falência familiar quando o pai morre a os filhos serão obrigados a deixar a escola para sustentarem a família etc. Aliás, em meu entendimento, é esta demasiada multiplicação de temas que enfraquece a dramaturgia do autor britânico, mas isso não invalida seu trabalho.
Por outro lado, o jovem elenco, dirigido por Kiko Mascarenhas, contando com a codireção de Lázaro Ramos, se igualmente não é perfeito (o naipe masculino é bem melhor que o feminino), tem dedicação e força: a montagem é, evidentemente, uma espécie de militância do grupo, mas isso não é crime. De qualquer modo, a seleção deste espetáculo causou impacto e foi profundamente apropriada: através do longe, podemos reconhecer o perto e fazer sua autocrítica.
 
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