Enquanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tenta vender os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para o exterior, a busca de Grêmio e Internacional por este mercado ainda está "engatinhando". Essa foi a avaliação dos presidentes do Tricolor, Romildo Bolzan Júnior, e do Colorado, Marcelo Medeiros, que estiveram lado a lado ontem na Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA) para falar sobre gestão do futebol moderno.
De acordo com Bolzan, o perfil dos clubes aumenta o desafio de expansão. "Hoje, disputamos o mercado regional e depois o nacional. Na esfera internacional, ainda tem muito a avançar", constatou. Na mesma linha, Medeiros ressaltou que os principais apoiadores pertencem ao mercado local. "Essa é uma peculiaridade do Grêmio e do Inter: o patrocinador sempre vai estar com os dois", observou.
Os dois presidentes mencionaram também a tentativa da comercialização dos direitos de transmissão do Brasileirão para outros países. Conforme o presidente tricolor, a primeira proposta girou em torno de US$ 6 milhões (quase R$ 21 milhões), a serem divididos entre todos os clubes - muito abaixo dos valores do mercado interno, em que Grêmio e Inter recebem R$ 60 milhões por temporada. "O diagnóstico inicial foi aterrador. O futebol brasileiro não tem mercado lá fora. Quem chama a atenção do consumidor é a seleção brasileira", lamentou Bolzan.
Para Medeiros, o principal desafio é transformar o futebol brasileiro em um "produto interessante" para o público global. "Ainda não temos um produto empacotado no Brasil como a Premiere League (Campeonato Inglês), a Liga dos Campeões ou a NBA, e isso depende de uma estrutura em que o futebol brasileiro ainda pretende se condicionar", avaliou o dirigente colorado. Uma nova proposta, mais atrativa, deve ser apresentada no dia 3 de maio pela CBF. "É uma proposta enorme, que até surpreendeu pela disparidade", disse Bolzan, sem revelar os valores envolvidos.
Os dois dirigentes ressaltaram que problemas financeiros devem ser superados com criatividade e com a racionalização das despesas e receitas. O presidente do Inter afirmou que, apesar da crise econômica que afetou o poder aquisitivo dos torcedores, o mau momento em campo causou um movimento inverso no clube. "No momento pelo qual passamos (rebaixamento para a Série B, em 2016), houve crescimento do quadro social. Muitos colorados se sentiram obrigados a estar ao lado do clube no momento difícil", explicou Medeiros.
As conquistas da Copa do Brasil pelo Grêmio, em 2016, e da Libertadores da América, em 2017, alavancaram as finanças. Segundo Bolzan, a venda de produtos oficiais saltou de R$ 11 milhões para R$ 25 milhões em dois anos, enquanto o quadro social foi para 90 mil sócios, o dobro do número registrado em 2015. "Se tu fazes um processo desses (que incluiu contenção de gastos) e o campo contribui, ajuda muito", concluiu o dirigente gremista.