O executivo-chefe (CEO) do Facebook, Mark Zuckerberg, reafirmou ontem, durante depoimento no Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, que sua companhia não vende dados dos usuários. Zuckerberg foi questionado pelo fato de a britânica Cambridge Analytica, que trabalhou na campanha à presidência de Donald Trump, ter acessado dados de dezenas de milhões de usuários da rede social. Ele também comentou que pretende atuar para evitar problemas de eventuais interferências indevidas em eleições neste ano, citando entre os exemplos a do Brasil.
O executivo afirmou que houve um erro no episódio da Cambridge Analytica e pediu desculpas. "Comecei o Facebook e, no fim das contas, sou o responsável", disse aos deputados. Segundo ele, a rede social tem trabalhado para apurar o que ocorreu exatamente e para evitar problemas do tipo. "Não fizemos o suficiente para evitar que nossas ferramentas fossem usadas para o mal", admitiu, prometendo melhorias.
De acordo com Zuckerberg, será apurado o episódio, e todos serão informados sobre a atuação da Cambridge Analytica. Ele afirmou que a empresa britânica obteve informações que em geral as pessoas tornam públicas na rede, como nomes e fotos. O CEO da rede social disse que outros aplicativos são avaliados para se apurar problemas similares.
Ele admitiu que a rede social coleta informações não apenas de seus usuários, mas também de outras pessoas sem perfil na plataforma. Ele foi questionado por parlamentares sobre a coleta de registros de pessoas fora da plataforma, criando os chamados "perfis sombra". "Você disse que todo mundo controla dados, mas você está coletando informações de pessoas que não estão nem cadastradas. O Facebook tem perfis de pessoas que nunca assinaram a plataforma?", indagou o senador Ben Luján. "Temos dados de pessoas não cadastradas por razão de segurança", admitiu Zuckerberg.
A senadora Debbie Dengell citou como exemplo os botões de compartilhamento de textos pelo Facebook permitirem rastrear qualquer pessoa na internet. "Vocês têm rastreadores na web. Não importa se você tem uma conta. Por meio dessas informações, podem coletar informações sobre todos nós", disse.
Ao perguntar quantos recursos semelhantes estão instalados em outras páginas fora do Facebook, Zuckerberg não soube responder. Ele foi questionado se o Facebook estaria gravando conversas pelos microfones dos celulares. Ele negou a prática. "Não estamos coletando informações de microfones. Só usamos quando gravamos um vídeo. Meu entendimento é que muitos desses casos são coincidências".
Zuckerberg, entretanto, admitiu que o recurso de reconhecimento facial inclui também pessoas presentes em fotografias que não estão cadastradas na plataforma. "Para tecnologias sensíveis, como a de reconhecimento facial, seria importante ter uma forma de consentimento", ponderou.