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- Publicada em 25 de Abril de 2018 às 13:42

O ano de 1968 e os direitos humanos

O livro 1968: Eles só queriam mudar o mundo (Editora Zahar, 314 páginas), dos jornalistas Regina Zappa e Ernesto Soto, é a segunda edição da obra que comemora as cinco décadas do Ano que não acabou, título do livro do jornalista Zuenir Ventura sobre 1968. Profeticamente, aquele ano foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Ano Internacional dos Direitos Humanos.
O livro 1968: Eles só queriam mudar o mundo (Editora Zahar, 314 páginas), dos jornalistas Regina Zappa e Ernesto Soto, é a segunda edição da obra que comemora as cinco décadas do Ano que não acabou, título do livro do jornalista Zuenir Ventura sobre 1968. Profeticamente, aquele ano foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Ano Internacional dos Direitos Humanos.
Regina tinha 14 anos na época e é autora de mais de 10 livros sobre Chico Buarque e Hugo Carvana, entre outros temas. Ela assistiu à passeata do enterro do estudante Edson Luís de sua janela. Ernesto Soto formou-se em Jornalismo na Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro e estudou Antropologia no Chile e na Suécia. Trabalhou nas principais empresas jornalísticas do País.
A obra é um verdadeiro almanaque ilustrado da geração que disse não ao conformismo. Organizado mês a mês, o volume traz os principais eventos de um dos períodos mais dinâmicos, marcantes e arrebatadores do século XX no Brasil e no mundo. Personalidades emblemáticas, músicas mais tocadas e filmes inesquecíveis, além de depoimentos de personalidades que viveram intensamente o momento estão no volume, que tem dezenas de fotos em preto e branco, altamente ilustrativas. Beatles, moda, costumes, feminismo, astrologia, arte, teatro e política não podiam faltar e lá estão, para todos que "queriam apenas o impossível", sonhavam e sonham com um mundo melhor.
No Brasil, vivíamos o período militar - na França, os estudantes se rebelavam, nos Estados Unidos, a grande luta pelos direitos civis desembocou na morte de Martin Luther King e, na Europa Oriental, a Primavera de Praga sinalizava que era possível desejar o fim do domínio soviético e sonhar com reformas liberalizantes.
A herança de 1968, como se sabe, é polêmica, mas é muito rica e se faz sentir até hoje. As reivindicações sociais, culturais e políticas ainda não foram solucionadas, ao menos de todo, mas os sonhos sempre devem existir. Seguem os desejos de mudanças progressistas, justiça social, liberdade e igualdade. A semente libertária plantada em 1968 merece florescer, ainda que muitos resistam a mudanças e prefiram não se dar conta que o novo acaba surgindo.
O ano de 1968 vive e a obra de Regina e Soto segue atual, não só relatando o período, mas lançando um olhar crítico e generoso sobre as famosas contradições daquele ano agitado.

lançamentos

O livro da esperança: vivendo com câncer de pulmão (Farol 3 Editores, 92 páginas), de Janaína Carneiro, professora de administração da Ufrgs, mestre em gestão e doutoranda em políticas públicas, relata o câncer de pulmão diagnosticado em 2015 e o tratamento até hoje. Janaína generosamente compartilha sua experiência e acha que é melhor pessoa hoje do que antes do diagnóstico.
Na pureza do sacrilégio (Ateliê Editorial, 136 páginas), do engenheiro e poeta carioca Carlos Cardoso, nascido em 1973, é seu terceiro livro de poemas. Sol descalço e Dedos finos e mãos transparentes são os outros. O livro traz experiências "ligeiras" e ao mesmo tempo originais, intensas e verdadeiras. "E eu amo os poetas e a poesia porque são belos/ e as coisas porque são brutais", entre outros versos da obra.
Quem é Jesus? Uma enciclopédia sobre a vida de Jesus (Sociedade Bíblica do Brasil, 128 páginas), de Lois Rock, apresenta a vida de Jesus contada a partir dos Evangelhos, com relatos selecionados cuidadosamente e dispostos de modo a ressaltar os acontecimentos mais importantes. Com ilustrações em cores e diagramação moderna, o volume tem verbetes curtos e leitura agradável.

Desconexão Mercado Público

Segunda-feira passada, 17h15min: depois da sessão no Conselho Estadual de Cultura, resolvo ficar no Centro Histórico para um compromisso às 19h. Caminho pela Sete de Setembro, cruzo a Praça Montevidéo, atravesso o Largo Glênio Peres e aí decido entrar no Mercado Público, com o desejo de traçar a salada de frutas da atemporal Banca 40, a mais antiga e querida da cidade.
Me acomodo na cadeira, me desconecto do onipresente, onisciente e onipotente celular e peço a salada grande, sem açúcar, sorvete ou nata, num momento de chata lucidez dietética.
Fico pensando no filme Baseado em fatos reais, no qual uma pessoa vampiriza o corpo e a alma da outra e, aí, decido vampirizar um pouco as pessoas que passam pelo corredor central do Mercado. Quantas pessoas egoístas, ególatras e narcisistas andam por aí, querendo se adonar da carne, dos ossos e das almas dos outros? Pessoas baixas, altas, anãs, gordas, magras, medianas, velhas, jovens, negras, brancas, amarelas passam à minha frente. Quase todas sozinhas. Uma moça de blusa com listras preto e branco, calça preta e sapatilhas espera por alguém, de pé. Será que ele ou ela vem? A moça se impacienta. Final feliz: a amiga chega, se abraçam demoradamente e entram, felizes, na banca da frente, talvez para comprar bacalhau, azeite de oliva, vinho ou pão sírio e patês.
Nem Freud explicaria nossos seres atuais, milhões deles conectados e solitários, focados na eterna procura e circulando por aí como zumbis eletrônicos. Andei lendo dois artigos. Um, a favor do Freud e da neuropsicanálise, que mescla psicanálise com neurologia e remédios. Outro, dizendo que Freud é fraude, um enganador, um mito que merece ser desmascarado. É briga de cachorro grande, cada um defendendo suas ideias, egos e "interesses", como dizia o tio Briza. Prefiro pensar como o esperto rabino e considerar que os dois e o Freud têm razão. Sim, um marido queria se separar da mulher e o rabino lhe deu razão. Depois a mulher dele veio pediu divórcio e o rabino disse que ela tinha razão. Aí falou a mulher do rabino: o que é isso, você deu razão para os dois, está errado. Sabe o que mais, você também tem razão, disse o sábio rabino. É isso: defensores e atacadores do Freud têm razão.
Petistas e antipetistas, chimangos e maragatos, gremistas e colorados, turmas de esquerda, direita, de centro e não sei o quê mais, têm cada um suas razões. Também tenho as minhas razões e contradições. Como disse o Mario Quintana, contradição é quando nosso pensamento chega, por si só, ao outro polo da verdade. Tomara que apareça um "mediador da pátria" e que surjam algumas bandeiras que agradem a ampla maioria, acomodando as razões variadas.
Levo uma meia hora baiana para degustar a salada de frutas e aí aparece o amigo Samir com o dono da banca da frente. Reclamo que todas as bancas têm preços de bacalhau iguais. Ele apenas sorri.

a propósito...

Fui fraco, não resisti. Postei a salada de frutas no Face e disse que estava flanando no Mercado. Barbudões passam na minha frente. Esses barbões são fruto de novelas da Globo, contestação ou preguiça? Fidel Castro disse que, sem fazer barba, o cara ganha uns dez ou quinze minutos por dia. Fidel tinha razão e não tinha, nisso e em monte de coisas, tipo a torcida do Flamengo. Normal, demasiado humano. Sei lá se esse texto tem pé, cabeça, tronco e membros. Sei lá se tenho razão. Não estou preocupado com isso. Estou preocupado porque tenho que sair na minha desconexão/conexão Mercado Público e ir no tal compromisso. Ah, as pessoas não parecem preocupadas com tantos assuntos aí. Elas têm razão. A verdade, a luz e a razão estão numa feijoada feita no capricho, com caipirinhas e uma ambulância por perto. (Jaime Cimenti)