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Cultura

- Publicada em 23 de Março de 2018 às 08:37

Teatro de combate: Ói Nóis Aqui Traveiz celebra 40 anos de atividades

Paulo Flores, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, fala sobre os 40 anos de trajetória do grupo

Paulo Flores, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, fala sobre os 40 anos de trajetória do grupo


/CLAITON DORNELLES/JC
Luiza Fritzen
Um dos mais importantes coletivos de teatro do Rio Grande do Sul e do país, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz completa 40 anos e celebra as quatro décadas de resistência com uma programação que mostra a importância da atuação do grupo na consolidação da democracia (mais uma vez). Nascido em meio à ditadura, em 1978, o grupo surgiu como proposta de renovação radical da linguagem cênica em negação ao teatro burguês que era produzido.
Um dos mais importantes coletivos de teatro do Rio Grande do Sul e do país, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz completa 40 anos e celebra as quatro décadas de resistência com uma programação que mostra a importância da atuação do grupo na consolidação da democracia (mais uma vez). Nascido em meio à ditadura, em 1978, o grupo surgiu como proposta de renovação radical da linguagem cênica em negação ao teatro burguês que era produzido.
Estranhamente, em 2018, o cenário apresenta muitas semelhanças em relação ao período que ficou conhecido como a época de maior intolerância e repressão policial da história do país. Paulo Flores, um dos fundadores da Tribo, conta que não esperava passar novamente pelo que vivenciou na década de 1980. "A gente se depara de novo em um momento sombrio e a ideia de resistência que estava presente lá é agora mais importante do que nunca".
Para o atuador, em meio aos retrocessos sociais, culturais e políticos enfrentados pelo país, que incluem manifestações de censura, fechamento de exposições e perseguição de artistas, o teatro precisa outra vez exercer o seu papel nas mobilizações em defesa da democracia, e é essa luta que serve de motor para manter a tribo em funcionamento por tantos anos. "A gente vive numa época do digital, mas a gente precisa da presença do ser humano junto com o ser humano, do contato direto, olho no olho, carne na carne, dessa coisa que é única do teatro como forma de expressão", afirma.
Para levar o teatro de volta às ruas, local que sempre foi ocupado pelo Ói Nóis, a tribo lançou no ano passado o espetáculo Caliban - que integra a programação de aniversário. Criado coletivamente a partir da versão de Augusto Boal de A tempestade, peça de Shakespeare, a encenação analisa criticamente a fenômeno conservador que ocorre na América Latina. "Estreamos o Caliban com essa vontade, essa indignação de mobilizar, de estar junto com as pessoas pra que a gente possa barrar essa onda que vem tomando conta do pais", comenta Paulo.
Além da resistência, a sobrevivência também é uma das palavras que define o grupo ao longo dessas quatro décadas. Segundo Flores, o coletivo já enfrentou diversas crises, mas se encontra em uma fase difícil financeiramente tendo em vista que não há uma política cultural forte, seja a nível federal, estadual ou municipal. Além disso, o grupo é um dos poucos que mantém um espaço próprio, o que, apesar de necessário para a conversação do grande material histórico do Ói Nóis, se torna muito custoso. Com 34 anos de existência, a Terreira da Tribo, já passou pela José do Patrocínio e João Inácio até chegar a Santos Dumont.
A fim de atuar como uma engrenagem transformadora, o grupo utilizou a pesquisa para produzir um teatro por outros caminhos, trabalhando em conjunto com a comunidade em busca de um teatro popular. Alicerceados em três vertentes, o Teatro de vivência, no qual o público participa da ação; o Teatro de rua, que tem origem nas interferências cênicas nas manifestações políticas que o grupo realizara no início dos anos 1980; e a Ação pedagógica, o grupo estende sua prática à população das regiões carentes de Porto Alegre, fazendo de sua arte um meio de debate e reflexão.
"Acredito que esse trabalho que fazemos seja muito importante pra cidade porque em geral os cursos de arte e teatro são muito caros, quando tu oferece essas oficinas gratuitas isso democratiza o acesso à cultura", argumenta Flores. De mesmo modo, as atuações do grupo, por serem gratuitas e realizadas em praças, parques e ocupar espaços públicos, possibilita às mais diversas pessoas terem acesso ao teatro e rompe o caráter elitista das grandes casas de teatro. 
A celebração dos 40 anos começa sábado com a Festa Viva a Tribo - 40 anos de Utopia, Paixão e Resistência, no Vila Flores Na terça, 27, será exibido o DVD da montagem Viúvas Performance sobre a Ausência, no CineBancários. Dia 28, acontece o lançamento do livro Tânia Farias - O Teatro é um sacerdócio, de Fábio Prikladnicki, no Centro Municipal de Cultura (av. Erico Veríssimo, 307). A obra integra a oitava edição do projeto Gaúchos em cena e homenageia a atriz, pesquisadora e encenadora teatral Tânia Farias, que atua no Ói Nóis há mais de duas décadas.
Nos dias 29 e 30, é a vez do Espetáculo Medeia Vozes, com apresentação às 19h30min na Terreira da Tribo. E, para finalizar, o Parque da Redenção recebe duas atrações, a primeira no sábado, às 11h, com a performance Onde? Ação nº2, e no domingo, dia 01/04, o Espetáculo Caliban - A Tempestade de Augusto Boal, às 15h.
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