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Cinema

- Publicada em 18 de Março de 2018 às 20:00

Ação reconstituída

Hélio Nascimento
As críticas que têm sido feitas ao novo filme de Clint Eastwood são, sem dúvida, procedentes em suas constatações. Falta dramaticidade à narrativa em boa parte do tempo, e, embora o recurso de utilizar como intérpretes os próprios participantes do episódio reconstituído, é clara a ausência de rigor na encenação. Mas há elementos esquecidos e que merecem ser lembrados. Em primeiro lugar é justo lembrar que fatos e personagens verídicos estiveram presentes de forma acentuada na filmografia do cineasta. Desde Bird, uma notável cinebiografia de Charlie Parker, até Sully, o herói do Rio Hudson, passando por Invictus, bela homenagem a Nelson Mandela, sem esquecer as duas obras sobre a guerra no Pacífico, A conquista da honra e Cartas de Iwo Jima, e até um filme no qual o protagonista era o diretor John Huston, Coração de caçador, focalizado e interpretado pelo próprio Eastwood, enquanto dirigia Uma aventura na África. Isso sem esquecer Sniper americano e J. Edgar, este sobre o criador do FBI. Sniper americano, por sinal, forma uma trilogia com Sully e 15h17 - Trem para Paris, todos os três empenhados em colocar na tela figuras que recentemente se destacaram. O filme atual reconstitui um episódio que poderia ser trágico, se não fosse a participação de três jovens norte-americanos e mais um cidadão francês, que o filme ignora em quase todo o tempo, só se lembrando dele na sequência final.
As críticas que têm sido feitas ao novo filme de Clint Eastwood são, sem dúvida, procedentes em suas constatações. Falta dramaticidade à narrativa em boa parte do tempo, e, embora o recurso de utilizar como intérpretes os próprios participantes do episódio reconstituído, é clara a ausência de rigor na encenação. Mas há elementos esquecidos e que merecem ser lembrados. Em primeiro lugar é justo lembrar que fatos e personagens verídicos estiveram presentes de forma acentuada na filmografia do cineasta. Desde Bird, uma notável cinebiografia de Charlie Parker, até Sully, o herói do Rio Hudson, passando por Invictus, bela homenagem a Nelson Mandela, sem esquecer as duas obras sobre a guerra no Pacífico, A conquista da honra e Cartas de Iwo Jima, e até um filme no qual o protagonista era o diretor John Huston, Coração de caçador, focalizado e interpretado pelo próprio Eastwood, enquanto dirigia Uma aventura na África. Isso sem esquecer Sniper americano e J. Edgar, este sobre o criador do FBI. Sniper americano, por sinal, forma uma trilogia com Sully e 15h17 - Trem para Paris, todos os três empenhados em colocar na tela figuras que recentemente se destacaram. O filme atual reconstitui um episódio que poderia ser trágico, se não fosse a participação de três jovens norte-americanos e mais um cidadão francês, que o filme ignora em quase todo o tempo, só se lembrando dele na sequência final.
O foco principal das críticas negativas ao filme se concentra no fato de o diretor, depois de testar vários profissionais, ter optado, numa decisão sem dúvida corajosa, por utilizar os próprios jovens envolvidos nos fatos. Aqui cumpre ressaltar que a decisão não é inédita. Em 2006, quando realizou Voo United 93, Paul Greengrass já havia recorrido a tal método. O filme, que era a reconstituição do acontecido em um dos aviões sequestrados em 11 de setembro de 2001, utilizou como atores vários técnicos que naquele dia estavam de serviço. Um deles, Ben Sliney, por sinal, era o gerente-geral do Serviço Aéreo e como tal tem papel relevante como ator do filme. Sliney, por coincidência, estava no primeiro dia em sua nova missão, quando os sequestros aconteceram e foi quem deu a ordem para que todas as aeronaves interrompessem seus voos. A utilização de intérpretes não profissionais também não é uma novidade, tendo começado, em parte, no ano de 1934, quando Jean Renoir realizou Tony, um método depois empregado pelos neorrealistas italianos e por alguns cineastas iranianos. A novidade aqui, além do fato de os protagonistas terem conseguido o que os técnicos de Greengrass não puderam evitar, os envolvidos são os protagonistas e como tal não vivem apenas aquela ação que evitou uma tragédia. Eastwood optou por registrar episódios da vida passada de seus personagens, mesclados a planos de curta duração sobre o quer aconteceu no trem, até o momento final.
Cinema sempre foi e sempre será uma arte com raízes no realismo. Eastwood sempre foi um defensor de tal linha. Em seu filme, por exemplo, há uma cena que causa certo desconforto. É aquela na qual são vistos os meninos brincando com armas. Não há por parte do cineasta uma condenação explícita. Mas diante de acontecimentos recentes ocorridos nos Estados Unidos o próprio espectador se depara com um dilema. O gosto pela ação física sem dúvida teve papel relevante no episódio do trem, mas poderia ter sido o contrário, pois na primeira metade do filme é dada ênfase em ações repressivas do sistema, que poderiam dar origem a atitudes opostas e violentas, o que aliás tem ocorrido na vida real. Talvez seja o ponto negativo do filme esta ausência de profundidade no desenvolvimento do tema que surge na primeira parte: as regras disciplinares exercidas de forma a transformá-las apenas em instrumentos repressivos e, portanto, podendo ser causa de violências futuras. Se o filme pode ser classificado como o mais fraco entre todos os realizados por seu diretor, tal fato não deveria evitar que ele fosse visto como um estímulo para que a realidade e suas complexidades merecessem mais atenção.
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