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Cinema

- Publicada em 12 de Março de 2018 às 21:26

Luta pelo poder

A diretora Tonie Marshall tem, como realizadora, uma forma de narrar que privilegia o dado mais significativo, deixando para o espectador completar o quadro sugerido. A cineasta utiliza, em seu novo filme, uma fórmula que se conclui em um rigoroso realismo de cena, que não se rende às obviedades e assim se destaca por valorizar em cada sequência filmada aquilo que realmente importa. O cinema já abordou várias vezes os conflitos e os choques pessoais decorrentes da busca de espaços em empresas poderosas. Alcançar o ponto mais alto da pirâmide exige um esforço que termina por causar o abandono de certos valores e da individualidade. Esta nova variação em torno do tema da luta pelo domínio maior procura explicitar não apenas a tenacidade, como também tenta colocar em cena a solidão diante da renúncia ao afeto e a submissão perante o poder. A número um, ao se dedicar a tal temática, se afasta de bandeiras e slogans, e vai em busca da essência do assunto que trata, afastando-se assim das simplificações e daqueles que em busca de aplausos optam pelo caminho mais fácil: dizer aquilo que certas plateias querem ouvir. A realizadora age como quem está interessada em falar de perdas essenciais, decorrentes de um processo competitivo que exige o abandono de elementos que se encontram na base da estrutura emocional do ser humano. É por abordar tal processo que o filme se torna, sem dúvida, uma peça digna de ser contemplada com atenção.
A diretora Tonie Marshall tem, como realizadora, uma forma de narrar que privilegia o dado mais significativo, deixando para o espectador completar o quadro sugerido. A cineasta utiliza, em seu novo filme, uma fórmula que se conclui em um rigoroso realismo de cena, que não se rende às obviedades e assim se destaca por valorizar em cada sequência filmada aquilo que realmente importa. O cinema já abordou várias vezes os conflitos e os choques pessoais decorrentes da busca de espaços em empresas poderosas. Alcançar o ponto mais alto da pirâmide exige um esforço que termina por causar o abandono de certos valores e da individualidade. Esta nova variação em torno do tema da luta pelo domínio maior procura explicitar não apenas a tenacidade, como também tenta colocar em cena a solidão diante da renúncia ao afeto e a submissão perante o poder. A número um, ao se dedicar a tal temática, se afasta de bandeiras e slogans, e vai em busca da essência do assunto que trata, afastando-se assim das simplificações e daqueles que em busca de aplausos optam pelo caminho mais fácil: dizer aquilo que certas plateias querem ouvir. A realizadora age como quem está interessada em falar de perdas essenciais, decorrentes de um processo competitivo que exige o abandono de elementos que se encontram na base da estrutura emocional do ser humano. É por abordar tal processo que o filme se torna, sem dúvida, uma peça digna de ser contemplada com atenção.
A sequência inicial introduz em cena o tema da morte, que depois será retomado durante a narrativa, a simbolizar a perda de valores e o sepultamento das opções pela dignidade. A própria diretora fala da cena da ópera como essencial. Nela, o oponente da protagonista se identifica com a personagem que se rende diante da prepotência e da violência de um corrupto e torturador. Essa síntese faz do personagem vivido por Richard Bérry uma vítima mais do que um obstáculo ou um representante da misoginia. De certa forma há uma identificação entre ele e a figura criada pela atriz Emanuelle Devos, pois ambos estão assistindo à encenação de maneira claramente emocionada. Ambos contemplam no palco o seu próprio drama diante do poder. Esta é a fórmula encontrada por Marshall para escapar do maniqueísmo e do panfleto e comunicar ao público que ele está vendo o drama de dois seres humanos, tocados pelo drama de uma mulher no momento em que se encontra diante da grande ameaça. A música se torna também essencial na cena em que a protagonista canta com os empresários chineses, quando então a diretora mostra a personagem se expressando através de uma linguagem que não é a dela, numa espécie de rendição a algo exterior.
Paralelamente à trajetória da personagem principal no cenário empresarial, o filme também se dedica à sua vida pessoal. Nesse sentido, seus encontros com pai, que se recupera em um hospital -oportunidade para um desempenho marcante de Sami Frey - é dos mais significativos. Esse professor de filosofia, símbolo de uma cultura ameaçada pelo pragmatismo e a ambição que a filha representa, aparece como a representação de um mundo que procura sobreviver. Mas nem em tal figura está presente algo idealizado pela diretora. Há um passado nebuloso e repleto de contradições, representado pela morte da mãe. Nesse sentido, o plano final é bastante revelador. Mais do que isso: definitivo. A menina que surge em cena, correndo em direção ao mar e aparecendo na imagem sem que qualquer artifício seja utilizado, representa claramente a personagem principal, clamando por algo irremediavelmente perdido. Na ópera antes vista, a personagem comete suicídio. No filme, o afastamento do marido, a doença do pai, a distância dos filhos e a perda da mãe formam um quadro no qual se reflete um vazio que certamente não será recompensado pelo sucesso na carreira. O mundo visto por Tonie Marshall é povoado por personagens nos quais por vezes a intriga não é apenas uma arma: é um salva-vidas, uma das formas de sobrevivência num palco dominado pela desumanidade.
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