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Segurança nas estradas

- Publicada em 12 de Março de 2018 às 18:23

Empresas transportam por aviões para evitar roubo

Ocorrências quase dobraram no País de 2011 a 2016, segundo a Firjan, atingindo a marca de 22.547 casos

Ocorrências quase dobraram no País de 2011 a 2016, segundo a Firjan, atingindo a marca de 22.547 casos


/JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
Remédios e celulares estão abandonando estradas e viajando só de avião no Brasil. A escolha tem sido feita até para trajetos curtos, como São Paulo-Rio de Janeiro, em que, por terra, a carga chega no mesmo dia, relatam o diretor-geral da Latam Cargo Brasil, Diogo Elias, e o diretor de Cargas da Gol, Eduardo Calderon.
Remédios e celulares estão abandonando estradas e viajando só de avião no Brasil. A escolha tem sido feita até para trajetos curtos, como São Paulo-Rio de Janeiro, em que, por terra, a carga chega no mesmo dia, relatam o diretor-geral da Latam Cargo Brasil, Diogo Elias, e o diretor de Cargas da Gol, Eduardo Calderon.
No aeroporto de Viracopos, segundo principal terminal de cargas do país, o valor dos itens transportados subiu 17% entre 2016 e 2017; e o volume, 11% - ou seja, cada metro cúbico foi ocupado por carga mais valiosa. A concessionária BH Airport registrou em 2017 alta de aproximadamente 19% no volume de cargas domésticas.
O movimento é confirmado não só por empresas aéreas e aeroportos, mas também pelas transportadoras, que antes enviavam parte desses produtos por terra. O motivo é o roubo nas estradas, cujo número de ocorrências quase dobrou no País de 2011 a 2016, segundo a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), para 22.547 em 2016.
Mais assaltos significam risco maior do frete terrestre; e, quanto mais valiosa for a carga, maiores serão as exigências das seguradoras para cobrir esse risco.
Carregado de remédios, por exemplo, um caminhão pode levar até R$ 3 milhões, carga que só será segurada se houver escolta dupla, iscas de rastreamento ou até blindagem da cabine de direção.
A solução seria distribuir os produtos por vários veículos, cada um carregando um valor total menor - mas, neste caso, em vez de contratar cinco carretas para ir ao Rio, passa a valer a pena despachar por avião.
"Esse custo da segurança no transporte rodoviário acabou se somando às vantagens que o avião já tinha, como rapidez e flexibilidade", afirma Elias, da Latam, que viu aumentar a procura por transporte de remédios, eletrônicos e autopeças.
O diretor de operações de Viracopos, Marcelo Mota, acrescenta que há hoje trechos terrestres entre Rio de Janeiro e São Paulo para os quais as seguradoras nem oferecem mais cobertura. E motoristas têm se recusado a passar por trechos mais visados pelos ladrões de carga, diz Elias.
Segundo o JCC Annual Cargo Forum, divulgada pela Firjan, os pontos mais críticos estão na BR-116 (entre Rio e SP, e dali a Curitiba, no Paraná), na BR-050 (Santos-Distrito Federal) e na SP-330 (Santos-Uberaba, que liga o litoral paulista ao interior de Minas Gerais). Essas rodovias colocam o Brasil entre os 10 piores países do mundo em 2017, ao lado de Síria, Iraque, Líbia e Afeganistão.
Avaliado em 3,7 (muito alto), o risco das vias terrestres brasileiras é igual ao da Somália, onde há também pirataria e conflitos armados. As rodovias são vistas pelas seguradoras como o pior modal em termos de risco, e ele cresce com a distância percorrida, o que não ocorre no avião: o risco avaliado para um voo São Paulo-Rio equivale ao de Rio-Belém.
Especializada na logística de medicamentos, a RV Ímola usa apenas a via aérea para distâncias superiores a 800 km, diz Roberto Vilela, presidente da empresa. O superintendente da empresa de transporte aéreo de carga Aeropress, Jacinto Souza Santos Júnior, relata outro efeito da insegurança: alta anual de mais de 30% no transporte de câmeras e outros equipamentos de vigilância (índice 50% maior do que o de outras cargas valiosas). O resultado final é mais custo para o consumidor, já que o frete aéreo é mais caro.
Enviar produtos valiosos por avião, porém, levanta o problema da segurança nos aeroportos. Viracopos inaugurou em 2016 uma caixa-forte construída em parceria com a Brinks, instalou portões de confinamento e dilaceradores de pneu. Mas há limites para substituir caminhão por avião, diz Bruno Batista, diretor executivo da CNT (Confederação Nacional do Transporte), como a falta de aeroportos regionais. "Em algum momento, precisa do caminhão."
Segundo levantamento da Associação Nacional do Transporte de Cargas & Logística (NTC), o roubo de carga teve alta de 42% no Brasil nos últimos quatro anos. Os roubos acontecem principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, detendo essas regiões 81% de todas as ocorrências. Na lista dos 10 países com maior índice de roubo de cargas, o Brasil ocupa a sexta posição como o País mais perigoso.
 

No Rio, são utilizados blindados até para o transporte de carne

Algumas empresas investem até 14% em gerenciamento de risco

Algumas empresas investem até 14% em gerenciamento de risco


VLADIMIR PLATONOW/VLADIMIR PLATONOW/ABR/JC
Caminhões blindados para transportar carne, comboios de redes de supermercado para fazer entrega, escoltas armadas e trocas frequentes de roteiros são a nova rotina do transporte de carga no Rio de Janeiro. Estudo da Firjan indica 10.599 ocorrências de roubo de cargas em 2017, ou um a cada 50 minutos. A alta sobre 2016 foi de 7,3%. "A situação é grave a ponto de já impedir a entrega de alguns produtos e a execução de serviços, como o dos Correios", afirma o coordenador de Estudos Econômicos do Sistema Firjan, William Figueiredo. Para ele, os roubos não apenas geram prejuízos a fabricantes, transportadoras e consumidores como também reduzem os investimentos no estado.
Marcelo Christiansen, presidente da Abrablin (associação de empresas de blindagem), conta que a entidade se surpreendeu ao receber procura por blindagem de cabines de caminhões. "Chegam a perguntar se pode blindar o caminhão inteiro. Mas é complexo. Um caminhão com capacidade de carregar 20 toneladas perderia 8 só na blindagem. Perde eficácia e encarece o frete."
A Brinks, maior transportadora de valores do País, já foi sondada para transportar carnes e outros alimentos, cigarros e pneus, diz Roberto Martins, diretor da Brinks Global Services. "São produtos visados pelos assaltantes, e medidas de segurança tradicionalmente usadas, como escolta e iscas de rastreamento, não têm sido suficientes", diz ele.
A Brinks, porém, não faz o transporte dessas mercadorias. "Somos um remédio muito forte para a doença deles. É preciso achar soluções intermediárias." Se fosse encher um caminhão com carne, por exemplo, a empresa transportaria um valor de cerca de R$ 700 mil, muito abaixo dos até R$ 15 milhões que levaria em eletrônicos ou medicamentos.
Algumas seguradoras deixaram de cobrir o transporte de produtos como cigarros, brinquedos ou armas, porque o cálculo do risco extrapolou níveis praticáveis no mercado. Desde novembro, a Federação Nacional de Seguros Gerais deixou de se manifestar sobre o assunto.
Já as transportadoras investem hoje até 14% de seu faturamento bruto em gerenciamento de risco, equipamentos e seguros, segundo Tayguara Helou, presidente do Setcesp (sindicato do setor em São Paulo). Há cinco anos, o investimento era a metade, segundo a entidade. Eduardo Rebuzzi, presidente da Fetranscarga (federação de transportadores do Rio de Janeiro), diz que, nos últimos anos, ampliou-se o foco dos ladrões para itens como frango, leite, chocolate e refrigerante.