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Opinião

- Publicada em 15 de Fevereiro de 2018 às 14:01

Relógios parados, obras inacabadas e futuro incerto

Mato toma conta de pracinha no bairro Santana, onde mãe leva criança para brincar

Mato toma conta de pracinha no bairro Santana, onde mãe leva criança para brincar


PATRÍCIA COMUNELLO /ESPECIAL/JC
Alguém de fora que chegue a Porto Alegre pode ter a impressão de que a cidade parou no tempo. O mato toma conta dos espaços públicos, como calçadas e praças. Nas ruas, avenidas, becos e outras vias, os buracos surgem calmamente, como que florescendo de um chão sem manutenção.
Alguém de fora que chegue a Porto Alegre pode ter a impressão de que a cidade parou no tempo. O mato toma conta dos espaços públicos, como calçadas e praças. Nas ruas, avenidas, becos e outras vias, os buracos surgem calmamente, como que florescendo de um chão sem manutenção.
Os relógios de rua, desativados desde 2015, também não informam mais nada. Foram sugados pela burocracia estatal, aquela que deixa vencer em gavetas contratos de concessão ou perde recursos financeiros já concedidos, simplesmente porque ninguém planeja a cidade antes que os prazos cheguem ao fim.
Tem sido assim, cotidianamente, na capital do Rio Grande do Sul. Nem precisa morar na cidade: quem passa por aqui, nos últimos anos, percebe que obras dadas como "quase prontas", "praticamente finalizadas", na verdade, nunca chegam ao término. O maior exemplo é a trincheira da avenida Ceará, nas imediações do aeroporto.
Uma rápida busca no site da prefeitura de Porto Alegre mostra que, em novembro de 2016 (ou seja, um ano e três meses atrás), a obra estava em sua fase final, com os trabalhos 92% concluídos. O trânsito seria liberado logo após, em dezembro do mesmo ano.
Ledo engano. Entrou e saiu 2017, começou 2018, e quem acessa Porto Alegre pela região do aeroporto Salgado Filho é obrigado a enfrentar, diariamente, pesados engarrafamentos que margeiam a obra "praticamente finalizada". Detalhe: os trabalhos começaram em dezembro de 2012.
Logo à frente, mais exemplos se acumulam. Outra trincheira, a da Cristóvão Colombo, também está inconclusa e da Plínio Brasil Milano, sequer teve a obra iniciada - batalhas jurídicas envolvendo um terreno na área estenderam-se por anos. Em janeiro, a Justiça decidiu a favor do município, mas quem sonha passar por ali com a trincheira concluída pode tirar o pé do acelerador: sem dinheiro, a prefeitura de Porto Alegre nem arrisca uma previsão para começar a obra.
Percorrendo ainda a cidade paralisada pelo tempo, percebe-se que muitas ruas e calçadas estão se transformando em moradias ao ar livre. Pequenas casas de lona, ao longo da avenida Ipiranga, indicam que ali se forma um novo condomínio, horizontal, que divide espaço com o poluído arroio Dilúvio.
Na esquina das avenidas João Pessoa e Venâncio Aires, rente a um prédio abandonado, cômodos de papelão e de lona tomam conta do passeio - no meio da tarde, talvez para espantar o tédio da metrópole, os inquilinos improvisam um pouco de música em meio ao cinza que os rodeia.
Como voltar a andar o relógio do tempo na Porto Alegre outrora bem cuidada? A resposta está com as autoridades municipais, incumbidas pelo voto de cuidar da cidade. Muito se fala em Parceria Público-Privada (PPP), mas nada vira realidade. O argumento da crise financeira é repetido à exaustão, como um mantra com o propósito de justificar eternamente o que não é feito.
Ora, para pôr ordem na bagunçada estrutura burocrática, não é preciso dinheiro, e, sim, gestão. O surrado termo, tão evocado por governos em situação falimentar, precisa sair dos discursos vazios e surgir, com força, nas rotinas municipais.
Muito falava-se que o ano começava após o Carnaval. Se era essa a desculpa, mãos à obra. Assim, com a casa arrumada e a economia brasileira (ao que tudo indica) melhorando, pode ser que, aos poucos, o relógio de Porto Alegre volte a funcionar. É o que todos esperamos - e desejamos.
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