Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 01 de Março de 2018 às 22:45

50 anos depois, ainda o Teatro de Arena

O Porto Verão Alegre desta temporada, recentemente encerrado, trouxe, como sempre ocorre, remontagens, estreias e espetáculos que, tendo estreado recentemente, não chegaram a alcançar um grande público. Este foi o caso de Teatro é sempre Arena, homenagem à passagem dos 50 anos do Teatro de Arena, criado por Jairo Andrade e Alba Rosa, dentre outros, nos difíceis anos da mais recente ditadura deste País.
O Porto Verão Alegre desta temporada, recentemente encerrado, trouxe, como sempre ocorre, remontagens, estreias e espetáculos que, tendo estreado recentemente, não chegaram a alcançar um grande público. Este foi o caso de Teatro é sempre Arena, homenagem à passagem dos 50 anos do Teatro de Arena, criado por Jairo Andrade e Alba Rosa, dentre outros, nos difíceis anos da mais recente ditadura deste País.
O roteiro foi escrito por Jorge Rein, escritor argentino, há muito radicado em Porto Alegre, e que idealizou uma síntese da história da instituição ao mesmo tempo em que selecionou passagens de algumas das peças de maior impacto ou referência para o Arena. Assim, obras de Bertolt Brecht, Georg Büchner, Eduardo Pavlowski, Peter Weiss e Samuel Beckett foram relembradas, nas interpretações de Hamilton Braga, João França, Nena Ainhoren, Dionísio Farias e Luiza Ainhoren.
É evidente que qualquer narrativa que se construísse em torno do tema atenderia à expectativa de alguns e frustraria a outros. Na prática, e sobretudo para um espetáculo de apenas uma hora de duração, seria impossível recuperar toda a memória do Teatro de Arena. Comentava, com Hamilton Braga, a coleção da Revista do Arena que ainda guardo comigo. Não passou de três ou quatro edições, coordenadas pelo então crítico do Jornal do Comércio Marcelo Renato que, na primeira edição da publicação, inclusive aparece em algumas fotos, fazendo parte do grupo de voluntários que ajudou a estruturar o espaço interno do teatro, levantando os tijolos do balcão que ainda hoje ali existe, ou a cabine do comando de som e luz. O Arena, que assim se chamou inspirado pelos teatros de Arena do Rio de Janeiro e de São Paulo, também aqui surgiu com uma perspectiva de militância política e resistência ideológica à ditadura.
A seleção de textos a serem encenados obedecia rigorosamente a esta perspectiva, com raríssimas exceções. Nestes casos, tratava-se de espetáculos de dramaturgos reconhecidos, cujos textos se esperava pudessem render temporadas capazes de garantir as despesas do teatro. É que, muitas vezes, o Arena, depois de ensaiar durante semanas um texto dramático já liberado pela censura, tinha o espetáculo proibido pela censura: naquela época, além do texto, os grupos precisavam fazer uma apresentação privada à censura, que decidia sobre a permissão ou não a ser dada ao espetáculo em si.
É claro que esta apresentação ocorria praticamente às vésperas da estreia da temporada, quando o espetáculo já se achava devidamente ensaiado. Mas, muitas vezes isso redundou em pesados prejuízos como aqueles sofridos por Fernando Torres, quando, um dia antes de sua estreia, Calabar, de Chico Buarque, foi proibido, em São Paulo. Um dos truques comuns, na época, era enfiar cacos com palavrões e situações mais ou menos pornográficas no espetáculo, para que as mesmas fossem cortadas, de modo a salvaguardar aquilo que efetivamente interessava ao encenador mostrar a seu público.
O Arena tinha um público cativo, entre estudantes e intelectuais, mais o apoio incondicional de sindicatos de trabalhadores, como o dos bancários, na época dirigido por Olívio Dutra, que adquiriam espetáculos inteiros para serem assistidos por seus associados. Com isso, a produção tinha uma certa garantia de viabilidade financeira.
No auge da crise que a ditadura infringia ao teatro, a alternativa era encenar textos com, no máximo, dois personagens, como se fazia no eixo Rio-São Paulo. Assim, surgiram espetáculos como os de Cordélia Brasil, Fala baixo senão eu grito ou Quando as máquinas param, este último de Plínio Marcos, refletindo sobre as greves trabalhistas.
O Arena sobreviveu a tudo isso. Recebeu novos grupos, como o Descascando o abacaxi, que revelaria, dentre outros, o diretor Luciano Alabarse. Trouxe textos polêmicos, como o Álbum de família, de Nelson Rodrigues. Tudo isso é recordado neste espetáculo que foi simples, mas objetivo, refletindo, aliás, a essência do próprio Arena.
 
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO