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LIVROS

- Publicada em 15 de Fevereiro de 2018 às 23:14

Memória da ausência

Detalhe da capa do livro

Detalhe da capa do livro


REPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO/JC
Roupas sujas (Companhia das Letras, 178 páginas), romance, é o mais recente livro de Leonardo Brasiliense, nascido em São Gabriel em 1972, formado em Medicina e, na vida real, funcionário da Receita Federal em Santa Maria. Brasiliense é autor de O desejo da psicanálise (Sulina, 1999), Whatever (Artes e Ofícios, 2009) e Três dúvidas (novelas, Companhia das Letras, 2010, Prêmio Jabuti), entre outras obras.
Roupas sujas (Companhia das Letras, 178 páginas), romance, é o mais recente livro de Leonardo Brasiliense, nascido em São Gabriel em 1972, formado em Medicina e, na vida real, funcionário da Receita Federal em Santa Maria. Brasiliense é autor de O desejo da psicanálise (Sulina, 1999), Whatever (Artes e Ofícios, 2009) e Três dúvidas (novelas, Companhia das Letras, 2010, Prêmio Jabuti), entre outras obras.
A narrativa de Brasiliense, acima de tudo, faz da ausência a matéria-prima para o desenrolar de um drama a um tempo particular e universal. A comovente saga familiar retrata e retraça as consequências da perda da figura materna e explora com precisão e síntese a brutalidade das relações humanas e sua persistência no tempo. O romancista trabalha com a tradição e com a memória, e vai transmitindo e compartilhando a construção da identidade de uma família.
No Sul de um Brasil rural, onde os papéis sociais são preestabelecidos, a morte da mãe de Antônio provoca um rearranjo dramático na família descendente de imigrantes italianos. Aos 8 anos, o protagonista, sexto de sete irmãos, limpa as armas do pai e ajuda Valentina, de 12 anos, na educação do caçula. Os gêmeos Estevam e Ferrucio trabalham com o pai na lavoura e disputam o amor da mesma mulher.
As duas irmãs mais velhas dividem os afazeres domésticos e um drama particular. Maria Francisca anuncia que vai casar com um jovem colono alemão. A primogênita Geni aceita calada a falta de um pretendente e a humilhação de ver a convenção sobreposta pela dura realidade. Os hábitos dos antepassados resistem ao tempo, e as relações familiares se desenvolvem entre o poder indomável da natureza e a rigidez moral dos costumes. O conflito está em cada personagem, ao seu modo. As palavras são tão importante quanto os silêncios. Os segredos podem ser guardados, mas não conseguem ser extintos.
Com uma prosa econômica mas eficiente e cortante, com sedução narrativa e minúcias em doses exatas, Leonardo Brasiliense nos oferece um painel pungente de um tempo em que ainda era comum nascer em casa. O autor evita a forma encomiástica que muitos autores utilizam para tratar de temas ligados à imigração italiana no Sul do Brasil e mostra, sem pudores, o que a falta de uma matriarca pode provocar numa família do meio rural.

lançamentos

Manual do Estilo Desconfiado (Ateliê Editorial, 80 páginas), do escritor e professor universitário de literatura Fernando Paixão, em 25 lições, trata de desconfiar da frase longa, da vírgula, da palavra gorda e da palavra magra, da poesia, da prosa e de muitas outras coisas do ato de escrever. "Paixão fez um precioso manual tanto para aspirantes quanto para praticantes da arte da escrita", disse Luis Fernando Verissimo na contracapa.
Evoluir: estratégias para a vida (Luquidbook, 368 páginas), do empresário, consultor e professor universitário Caio Tomazeli, que já atuou nos setores público e privado, é obra que reflete sobre o sentido da vida e sobre os questionamentos que estamos vivendo. Dinheiro, vida, felicidade, razão e emoção, estratégia e competição são alguns dos temas principais do livro, que reflete a longa experiência do autor na vida e no trabalho.
Manual do bom divórcio (Principium, 144 páginas), da advogada e palestrante Diana Poppe, que foi da equipe ganhadora do prêmio Innovare em 2003 com o tema Práticas Colaborativas em Direito de Família, traz dicas para quem vai se casar ou se separar. Leitura fácil, sem juridiquês e bem-humorada, é útil para a felicidade das pessoas. Diana é das maiores especialistas em Direito de Família no Brasil, e o livro resulta de sua atuação em centenas de divórcios.
 

Algoritmos

Para quem ainda não sabe, algoritmos podem ser definidos, em termos teóricos, como uma sequência lógica, finita e definida de instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa. Esses dias, li sobre uma pesquisa que foi feita sobre música, com utilização de algoritmos e o autor, com ciência, disse que até os Beatles a música tinha mais qualidade, em termos de notas, estrutura e harmonia. Achei interessante e lembrei de uma antiga cantora de bossa nova que disse que hoje as pessoas não querem ouvir música, querem dançar. E dançar, acho, sem precisar muitas notas para tirar os pés do chão.
Pensando em algoritmos, podemos refletir que na vida existem planejamento, acaso e muitas outras coisas que aqui não vou listar, pois tenho apenas 3.500 caracteres nesse meu algoritmo do texto que escrevo. Na vida cotidiana, por exemplo, seguimos para o trabalho quase sempre pelo mesmo caminho e nos secamos depois do banho com a mesma sequência de gestos. Isso são algoritmos, regras que estabelecemos. Receitas de culinária ou manuais de instruções para vários fins, são algoritmos que usamos. Há quem procure novo algoritmo para, por exemplo, fazer uma omelete de modo diferente.
Há quem diga que, daqui a pouco, só usaremos algoritmos e não precisaremos tomar grandes ou pequenas decisões. Tomara que não, que a vida não deve ser uma rotina chata, cheia de regras rígidas, sem criatividade e imprevistos.
Em se tratando de meios eletrônicos e comunicação em redes sociais, é importante notar os efeitos de algoritmos que são utilizados para nos "guiar" em termos de informação, política, economia, costumes, comportamento e tantas outros aspectos da vida. É preciso abrir o olho e não deixar que os algoritmos, nossos e dos outros, sejam utilizados para suplantar a liberdade e a vontade humanas. Tomara que nossas vidas não sejam comandadas por algoritmos.
No Brasil, por exemplo, atualmente, dá para perceber o uso de algoritmos por uns e outros para tentar ganhar o Fla-Flu eleitoral, político e econômico que anda por aí. Vamos ficar espertos e não deixar que a "sequência lógica, finita e definida de instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa" seja imposta para nós, via comunicação eletrônica, impressa, televisada ou falada.
É claro que na vida precisamos de leis, regras e normas para viver em comunidade. Onde há sociedade é preciso haver leis e regras ou a sociedade acaba, por atos violentos e arbitrários praticados por pessoas que não respeitam o direito, a liberdade, a honra, a vida e o patrimônio dos outros. Um agrupamento humano só sobrevive com regras. De preferência, regras democráticas e garantidoras de igualdade perante a lei. Regras impostas por ditadores, muitas vezes com o uso da força, devem ficar no passado. A experiência e a história nos mostram que ditaduras de direita, de esquerda, de centro ou do que forem não trouxeram benefícios para as sociedades e, muitas vezes, ao contrário, trouxeram mortes, genocídios e desgraças para as populações.
 

a propósito...

A graça da vida, que é chamada por alguns de "graça triste", é justamente o balanço entre velhos e novos algoritmos. Velhas e novas tradições, antigos e novos hábitos. Ter regras de convívio, sim, mas ter a inteligência e a vontade de mudá-las, também - de preferência, para melhor. O mundo e as pessoas devem ir para a frente, não necessariamente para a "esquerda" ou para a "direita", conceitos ultrapassados. Por que não novos caminhos? O calor, a rebeldia, a criatividade e a força dos jovens - e não só deles - sempre são melhores e mais produtivos quando combinados com a experiência, a cautela e as vivências dos velhos. Criar, criança, criatividade, novidade, ótimo! Melhor sem impor "algoritmos" autoritários, e respeitando a vida, a liberdade, a paz e o convívio social. (Jaime Cimenti)