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Empresas & Negócios

- Publicada em 26 de Fevereiro de 2018 às 08:52

Para Oded Grajew, falta compromisso social corporativo


OXFAM NO BRASIL/DIVULGAÇÃO/JC
Thiago Copetti
Israelense naturalizado brasileiro, Oded Grajew se tornou referência nacional quando o assunto é responsabilidade empresarial. E também é um crítico ferrenho do pouco envolvimento de donos de empresas e executivos na busca por soluções de problemas sociais. Engenheiro e administrador, ele criou, nos anos 1970, junto com três amigos, a indústria de brinquedos Grow, que também serviu, de certa forma, como laboratório e porta de entrada do empresário no chamado Terceiro Setor. Grajew também foi um dos idealizados do Fórum Social Mundial, realizado pela primeira vez em 2001, em Porto Alegre.
Israelense naturalizado brasileiro, Oded Grajew se tornou referência nacional quando o assunto é responsabilidade empresarial. E também é um crítico ferrenho do pouco envolvimento de donos de empresas e executivos na busca por soluções de problemas sociais. Engenheiro e administrador, ele criou, nos anos 1970, junto com três amigos, a indústria de brinquedos Grow, que também serviu, de certa forma, como laboratório e porta de entrada do empresário no chamado Terceiro Setor. Grajew também foi um dos idealizados do Fórum Social Mundial, realizado pela primeira vez em 2001, em Porto Alegre.
"A partir da Grow, me envolvi em movimentos empresariais e participei da criação da Abrinq, que se tornou fundação. Em 1989, lançamos o Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE), que deu origem ao Instituto Ethos", lista Grajew, Pouco antes, em 1987, se desfez da Grow, mas permaneceu na gestão da fabricante de brinquedos. Começou então a deixar para trás a vida empresarial e dedicar cada vez mais horas e energia ao Terceiro Setor. A ruptura com o mundo corporativo, propriamente dito, veio em 1993, quando Grajew se afastou em definitivo da empresa.
Empresas & Negócios - Instituições tentam ampliar a participação de empresários na construção de um País melhor. No entanto, o que vemos são escândalos de corrupção envolvendo grandes empresas. Porque não evoluímos?
Oded Grajew - Avançamos, primeiro, em tornar a corrupção uma atividade mais perigosa. Éramos conhecidos como país da impunidade, onde só ladrão de galinha ia para a cadeia e o poderoso ficava impune. Essa ideia caiu por terra com o que temos visto com a Lava Jato e outros processos. São grandes empresários e políticos sendo presos. Certamente muitas empresas e políticos, hoje, estão pensando mais antes de cometer o que antes era corriqueiro e promíscuo entre o setor privado e o setor público. O que mudou também foi a legislação, pois antes não era crime um empresário corromper políticos.
Empresas & Negócios - A sociedade dá mais peso ao lado político da corrupção, um crime que, porém, sempre tem por trás uma empresa?
Grajew - Também ficou claro para a população, com esse processo todo, o sentido de várias políticas públicas e a relação entre os interesses privados e público. Mostrou que muitos agentes públicos atuam com pouco ou nenhum interesse pelas camadas mais pobres e muito em defesa dos interesses dos financiadores de campanhas. Esse processo se tornou muito didático, pedagógico, para as pessoas entenderem como tem funcionado boa parte do nosso sistema político, o que, por fim, levou à grande mobilização da sociedade de financiamento de campanhas pelas empresas. No meu ponto de vista, é um grande avanço.
Empresas & Negócios - No fim, a corrupção não é ruim para as empresas como um todo, porque se torna um custo?
Grajew - Sim, a corrupção distorce o chamado capitalismo e acaba com a concorrência real. Alija do processo aqueles que, por ética ou para não correr riscos, não adotam essa prática. E aí você passa a não ganhar concorrências e clientes, mesmo tendo o melhor produto.
Empresas & Negócios - Mas o empresário prejudicado pela corrupção não poderia, e até deveria, ser uma boa fonte de denúncias?
Grajew - Na realidade, o que assistimos hoje é que poucos denunciam, porque o empresário brasileiro, em geral, tem medo de desafiar e desagradar governos. Ao fazer a denúncia, ele também denuncia agentes públicos e, com isso, teme fechar portas. Na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, os empresários se posicionam em termos de políticas públicas e ações de governo de forma crítica e clara, o que é raro por aqui. O empresário brasileiro não usa seu poder para fazer críticas mais contundentes e construtivas sobre desigualdade, educação, ações sociais. Nos Estados Unidos, recentemente, um grupo de mais de 400 bilionários fez carta aberta pedindo para não ter seus impostos reduzidos. Pelo contrário, solicitava aumento, dizendo que as medidas anunciadas pelo presidente Donald Trump aumentarão as desigualdades sociais e econômicas dos EUA. É muito interessante ler a carta na íntegra. Aqui, você não ouve as vozes empresárias trabalhando pelo Brasil.
Empresas & Negócios - Por que poucos empresários evoluíram neste quesito?
Grajew - Não existem ainda lideranças empresarias com visão de estadista. Empresários são, geralmente, preocupados apenas com seus próprio negócio, ainda que saibam dos impactos que determinadas questões impactem em suas atividades. Isso é medo, e injustificado, na minha opinião. Veja o Guilherme Leal, da Natura, que não apenas se posiciona como foi candidato a vice-presidente. O mundo não caiu, a Natura não foi prejudicada, nem ele, que ficou engrandecido perante a sociedade. Leal se tornou uma liderança social, e a Natura ganhou visibilidade, legitimidade, qualidade. O empresário brasileiro, por falta de maturidade, ainda não percebeu isso. O Brasil, em geral, politicamente, é um país atrasado. Temos a liderança do atraso.
Empresas & Negócios - Como entidades como o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social podem ajudar empresários e empresas a fazer algo melhor nesse sentido?
Grajew - A elite, que é quem tem o poder, faz no Brasil a parte mais importante da construção de uma sociedade tão desigual. E a elite empresarial brasileira é poderosa. A contrapartida do poder é, ou deveria ser, a responsabilidade social. E fazer algo só depende de vontade e competência. Quem não faz não é por não saber o que ou como fazer. É falta de iniciativa. Em uma empresa, ao contrário de governo e suas burocracias, o fazer algo é basicamente uma decisão isolada do empresário. Gerir uma empresa de forma ética é uma escolha de gestão, em relação aos animais, ao ambiente, à política e à sociedade em geral. E empresários inteligentes perceberam que isso é uma forma de reduzir riscos e ganhar mercados. Agir eticamente é, inclusive, uma forma de inteligência empresarial. Ser socialmente irresponsável é um grande risco.
Empresas & Negócios - A desigualdade retira possíveis consumidores do mercado?
Grajew - Sim, basta lembrar Henry Ford, que, nos anos 1930, contrariou seus pares ao pagar salários elevados para a época. Isso porque ele dizia que, ganhando mais dinheiro, as pessoas poderiam consumir e até comprar a sua produção. Além de ser antiética essa desigualdade toda, é extremamente danosa para a companhia. Você trabalha com um número muito restrito de pessoas com possibilidades de comprar.
Empresas & Negócios - Por que, depois de 1993, quando deixou definitivamente a Grow, o senhor nunca mais voltou a atuar como empresário ou executivo de empresas?
Grajew - Ocorreram duas coisas. Tenho muita satisfação de ter criado uma empresa do nada, junto com amigos, e ela ter se tornado que se tornou. Foi muito bem-sucedida, e parte disso porque criamos uma empresa muito ética. Graças a isso, ela se valorizou, e a venda dela me deu suporte econômico para eu poder pensar em atuar na área social sem precisar ficar pensando em retorno financeiro.
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