A Guerra do Vietnã não foi apenas um marco histórico que levou pessoas às ruas para protestar contra o governo norte-americano. Tampouco pode ser lembrada apenas como um divisor de águas no fotojornalismo pela emblemática foto da menina vietcongue nua que corria dos bombardeios, como foi também um momento importante para a liberdade de imprensa do país. Com direção do veterano Steven Spielberg, o longa The Post - A guerra secreta conta a história dos documentos sigilosos que estamparam capas de jornais denunciando as mentiras e a atuação norte-americana durante a Guerra do Vietnã.
Aos mesmos moldes de filmes que retratam o jornalismo investigativo, como os vencedores do Oscar Spotlight (melhor filme) e Todos os homens do presidente (melhor roteiro adaptado), The Post é, ao mesmo tempo, idealista e fantasioso sobre o fazer jornalístico, mas também necessário em meio a um cenário de diminuição da liberdade de imprensa e do aumento das chamadas fake news.
A trama se passa em 1971 e está centrada na redação do The Washington Post, jornal que buscava aumentar seu público e abrangência, enquanto buscava produzir um jornalismo que se destacasse frente à concorrência. Passando por dificuldades econômicas, a proprietária do jornal, Katherine Gharam (papel de Meryl Streep), pretendia lançar as ações do veículo na bolsa de valores, a fim de aumentar a receita. Contudo, Kat é surpreendida quando um vazamento de informações sigilosas do Pentágono vira manchete no principal veículo da época, o jornal The New York Times, o que dá início a uma série de publicações denunciando e questionando a presença do exército norte-americano no país vietnamita, bem como sobre quais seriam os verdadeiros interesses dos governantes dos Estados Unidos em se manter na guerra que acontecia à distância.
Em busca de manter seu jornal no páreo do acirrado mercado, o editor-chefe do The Post, Ben Bradlee, interpretado com maestria por Tom Hanks, busca novos furos e informações relevantes para competir com a cobertura feita pelo The New York Times. O cenário muda quando o presidente Richard Nixon entra na Justiça para proibir que mais notícias que denunciam a operação no Vietnã sejam publicadas.
Para isso, o chefe do executivo lança mão da Lei de Espionagem, alegando que as informações veiculadas são fruto de um vazamento ocorrido diretamente no Pentágono. O material denunciava o protocolo adotado pelos comandantes em uma guerra que levou mais de 2,5 milhões de soldados norte-americanos ao solo inimigo - destes, 58 mil não voltaram.
Quando a batalha se torna jurídica, Kat e Bradlee precisam decidir se ficam ao lado da imprensa e do público ou se evitam se meter na briga com o governo e amigos poderosos que também estavam envolvidos no escândalo. Nesse sentido, o que permeia o filme são os valores do jornalismo e a ética dos profissionais frente ao interesse público. Em meio à discussão sobre a liberdade de imprensa, o filme conduz à nostalgia das grandes redações, tudo isso ao som das máquinas de escrever e ilustradas por belíssimas cenas da impressão manual dos jornais.
Meryl faz um papel coeso e justifica sua 21ª indicação ao Oscar de melhor atriz. Como Katherine Graham, a atriz expõe as dificuldades enfrentadas por mulheres que precisam provar seu valor e justificar sua presença em um mundo dominado por homens. Ao optar por dirigir a empresa que era de seu pai e foi herdada pelo marido, a personagem cresce e admite, enfim, que é dona de seu próprio jornal.
O que vemos é o autodescobrimento de uma mulher que se calou em uma reunião de negócios rodeada por homens e se transforma em um ícone que recebe os olhares de admiração e respeito de uma multidão de mulheres.
O elenco tem, ainda, nomes conhecidos, com bons desempenhos, como Sarah Paulson, Tracy Letts, Bradley Whitford, Bruce Greenwood, Bob Odenkirk e Matthew Rhys. Após concorrer ao Globo de Ouro nas categorias de melhor filme, diretor, ator e atriz, e trilha sonora, The Post disputa, agora, as estatuetas de melhor filme e de melhor atriz do Oscar.