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Cinema

- Publicada em 11 de Janeiro de 2018 às 22:50

A arte e a fera

No painel crítico que constrói na tela para captar comportamentos e mostrar máscaras que sintetizam os rituais que regem a sociedade, o sueco Rubem Östlund coloca em cena uma variação da célebre anedota, que alguns dizem baseada em fato verídico, que narra a intervenção de funcionário de um museu que retira do chão e coloca na lata de lixo uma premiada obra de um artista contestador, confundindo uma peça elaborada sobre a crise de nosso tempo com restos de uma orgia. O protagonista de The Square - A arte da discórdia é um curador empenhado em divulgar e justificar a exibição de uma obra que consiste de um espaço vazio onde devem aparecer sonhos e angústias de espectadores. É óbvio, portanto, que o cineasta, que recebeu a Palma de Ouro em Cannes por este filme, está ironizando um certo gênero de manifestação que, ao distanciar-se do já consagrado pelo tempo, costuma encontrar resistências que, às vezes, ultrapassam os limites da crítica e se transformam em agressões que pouco esclarecem e apenas revelam primarismo e desequilíbrio. Tal conflito não é novo, e tem acompanhado o avanço das artes e seu relacionamento com o público. Em favor de manifestações inovadoras, é imperioso lembrar que nenhum censor foi absolvido pelo tempo. Todas as obras censuradas e proibidas se transformaram com o passar de anos em trabalhos aceitos com naturalidade. O cinema, por ser entre as artes a que tem maior público, não importando aqui o tamanho da tela nem o meio utilizado para reproduzir imagens em movimento, acumula vários episódios reveladores. Filmes que, antes, causaram escândalo, hoje, são vistos com naturalidade pelas novas gerações, enquanto se retiram de cena, derrotados, os que pretenderam impedir que eles fossem conhecidos. E assim também tem acontecido em outras artes. Östlund, no entanto, embora lançando um olhar irônico sobre tal tema, não o transforma em motivo principal de seu filme. Ele usa tal conflito para mostrar que apenas mascara algo maior: a recusa em aceitar certas manifestações, por vezes, plenamente merecedoras das críticas - não da censura - recebidas tal a pobreza revelada, evidencia que a agressividade não está limitada a elas, pois se espalha entre os observadores e pela sociedade inteira.
No painel crítico que constrói na tela para captar comportamentos e mostrar máscaras que sintetizam os rituais que regem a sociedade, o sueco Rubem Östlund coloca em cena uma variação da célebre anedota, que alguns dizem baseada em fato verídico, que narra a intervenção de funcionário de um museu que retira do chão e coloca na lata de lixo uma premiada obra de um artista contestador, confundindo uma peça elaborada sobre a crise de nosso tempo com restos de uma orgia. O protagonista de The Square - A arte da discórdia é um curador empenhado em divulgar e justificar a exibição de uma obra que consiste de um espaço vazio onde devem aparecer sonhos e angústias de espectadores. É óbvio, portanto, que o cineasta, que recebeu a Palma de Ouro em Cannes por este filme, está ironizando um certo gênero de manifestação que, ao distanciar-se do já consagrado pelo tempo, costuma encontrar resistências que, às vezes, ultrapassam os limites da crítica e se transformam em agressões que pouco esclarecem e apenas revelam primarismo e desequilíbrio. Tal conflito não é novo, e tem acompanhado o avanço das artes e seu relacionamento com o público. Em favor de manifestações inovadoras, é imperioso lembrar que nenhum censor foi absolvido pelo tempo. Todas as obras censuradas e proibidas se transformaram com o passar de anos em trabalhos aceitos com naturalidade. O cinema, por ser entre as artes a que tem maior público, não importando aqui o tamanho da tela nem o meio utilizado para reproduzir imagens em movimento, acumula vários episódios reveladores. Filmes que, antes, causaram escândalo, hoje, são vistos com naturalidade pelas novas gerações, enquanto se retiram de cena, derrotados, os que pretenderam impedir que eles fossem conhecidos. E assim também tem acontecido em outras artes. Östlund, no entanto, embora lançando um olhar irônico sobre tal tema, não o transforma em motivo principal de seu filme. Ele usa tal conflito para mostrar que apenas mascara algo maior: a recusa em aceitar certas manifestações, por vezes, plenamente merecedoras das críticas - não da censura - recebidas tal a pobreza revelada, evidencia que a agressividade não está limitada a elas, pois se espalha entre os observadores e pela sociedade inteira.
Há uma cena em A arte da discórdia que merece ser ressaltada por sintetizar a temática da obra e por causar um desconforto não limitado aos personagens que estão na tela. A cena em questão é aquela em que um artista performático é apresentado ao público que sustenta o funcionamento do museu. A atuação, num crescendo magistralmente encenado, vai se transformando numa agressão de um primitivo sufocado pela civilização e que retorna disposto a exercer a vingança pela repressão que sofreu. Mais do que isso, ele termina revelando no público diante do qual se apresenta uma fera igual a ele. A sequência, além de magistral, é reveladora das intenções do diretor. O filme não se limita a ironizar rebeldias superficiais e reações primárias diante delas. O painel proposto vai além e mostra um mundo marcado por imperfeições e também seres humanos impulsionados pela imaturidade e por forças agressivas nem sempre controladas. A cena de sexo, por exemplo, termina não apenas com uma discussão ridícula, pois revela uma ânsia de domínio que é muito mais do que a busca de um prazer, algo depois ampliado na cena da discussão entre a americana e o protagonista.
Ao ser premiado em Cannes, o filme não foi reconhecido de forma unânime, algo perfeitamente natural numa época em que muitos preferem ver na tela lições de moral e xingamentos ao regime. Östlund procura fugir de esquematismos e se aproximar de imperfeições reveladoras. A fórmula encontrada para recuperar os objetos roubados é generalizadora, e o diretor acentua tal constatação ao utilizar as luzes que se apagam, o que faz com que o personagem vá aos poucos mergulhando nas trevas. Os mendigos nas ruas e as duas filhas completam um painel que, este sim, vale como um documento precioso sobre os impasses e as imperfeições de um mundo ameaçado pela fúria que a cena da performance torna explícita.
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