A posse da juíza Vera Deboni na presidência da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), na quinta-feira passada, coloca, pela segunda vez em 73 anos de existência, uma mulher no comando da instituição. O mandato, sucedendo Gilberto Schäfer, é para o biênio 2018/2019.
Em seu discurso de posse, a juíza criticou "posturas corrosivas praticadas até por integrantes de tribunais superiores" contra o próprio Judiciário. Também em tom de crítica, acrescentou, então aludindo ao mundo político, que quem não tem visão republicana tenta enfraquecer a Justiça.
"Não faltam tentativas de abalar a autonomia administrativa e financeira dos tribunais e de ferir os pilares das garantias da magistratura mediante propostas falaciosas", apontou. Entre essas propostas, citou a reforma da Previdência, "vendida como solução para todos os males do país que atingirá danosamente muitos brasileiros, independentemente da condição social". A magistrada defendeu uma Previdência pública "justa e respeitadora dos direitos constitucionais".
"Nunca o Judiciário foi tão provocado a decidir questões envolvendo administradores públicos e a moralidade pública. E nunca se viram tantos malfeitos. A corrupção se mostra uma praga que, podada aqui e ali, está sempre a recrudescer", acrescentou.
Juíza da Infância e Juventude nas duas últimas décadas, Vera chega ao cargo 12 anos depois da ascensão da primeira representante feminina, Denise Oliveira Cezar, que presidiu a associação no período 2006/2007 - 62 anos após a fundação da entidade, em 1944. Quando ingressou na magistratura, em 1987, a nova presidente da Ajuris integrava um contingente feminino de menos de um quarto do total de membros do Judiciário estadual. Agora, mais da metade (52%) do 1º grau da Justiça é ocupada por juízas. No 2º grau, os homens ainda são maioria: 99 desembargadores contra 40 desembargadoras. No cômputo geral do Judiciário, há 417 magistrados (51%) e 396 magistradas (49%).
A diretoria, tendo Vera à frente, também revela o equilíbrio de gênero. O colegiado é composto por Orlando Faccini Neto (vice-presidente administrativo), Cristiano Vilhalba Flores (vice-presidente de patrimônio e finanças), Madgéli Frantz Machado (vice-presidente cultural), Patrícia Antunes Laydner (vice-presidente social) e Felipe Rauen Filho (vice-presidente de aposentados). A última pasta foi criada para a gestão que se inicia.
A dirigente acredita que, de modo geral, as mulheres ainda têm muito por que lutar no mercado de trabalho, quantitativa e qualitativamente. "Acho que hoje há muito mais espaço a conquistar na esfera privada do que na pública. Se ainda há resistência às mulheres, e entendo que há, é muito mais na área privada, para os cargos de maior importância. Como a esfera pública é composta de carreiras, que são estruturadas a partir de concursos, há uma entrada democratizada do gênero", aponta.
Vera é natural de Chapecó (SC) e formou-se em Direito em 1984, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Foi pretora entre 1987 e 1990, quando assumiu como juíza de Direito. Jurisdicionou as comarcas de Tupanciretã (pretora), Santo Ângelo, Três de Maio, Santa Maria e Porto Alegre. Na Ajuris, além do cargo de vice-presidente administrativa, já foi vice-presidente cultural, diretora da Sede Campestre, presidente do Conselho Deliberativo e diretora do Departamento de Coordenação de Processos Judiciais. A magistrada também foi juíza auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), tendo atuado no programa Justiça ao Jovem. Durante dez anos, foi professora universitária e atualmente integra o corpo docente da Escola da Ajuris.