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Economia

- Publicada em 18 de Dezembro de 2017 às 00:35

'A economia brasileira precisa de reformas', diz economista do ano

"Não existe crescimento econômico em tempestade, ele acontece na calmaria", comenta Antônio da Luz

"Não existe crescimento econômico em tempestade, ele acontece na calmaria", comenta Antônio da Luz


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Guilherme Daroit
O crescimento da economia brasileira em 2018 já está consolidado, mas o que acontecerá no ano que vem é que determinará a continuidade, ou não, do processo. Eleito o Economista do Ano pelo Conselho Regional de Economia (Corecon-RS), Antônio da Luz defende a realização de reformas, em especial a tributária, para a solução de entraves atuais. Além disso, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) lamenta o clima de turbulência previsto para o período eleitoral, prejudicial para os investimentos. "Não existe crescimento econômico em tempestade, ele acontece na calmaria", comenta.
O crescimento da economia brasileira em 2018 já está consolidado, mas o que acontecerá no ano que vem é que determinará a continuidade, ou não, do processo. Eleito o Economista do Ano pelo Conselho Regional de Economia (Corecon-RS), Antônio da Luz defende a realização de reformas, em especial a tributária, para a solução de entraves atuais. Além disso, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) lamenta o clima de turbulência previsto para o período eleitoral, prejudicial para os investimentos. "Não existe crescimento econômico em tempestade, ele acontece na calmaria", comenta.
Graduado e mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e doutorando na Pontifícia Universidade Católica do Estado (Pucrs), Antônio da Luz tem a sua trajetória intimamente ligada à Farsul, onde entrou como estagiário, aos 18 anos. Hoje, aos 37, lidera uma equipe de mais quatro pessoas na assessoria econômica da entidade, onde busca formar e manter profissionais com excelência acadêmica. O objetivo é garantir a qualidade e a credibilidade dos estudos do grupo, construída nos últimos anos.
"No início, as pessoas tinham desconfiança da Farsul. Esperavam que a Fiergs e a Fecomércio falassem de PIB, de inflação. Da Farsul, esperavam o conflito. Foi uma imensa barreira que vencemos", comenta da Luz. Os estudos da instituição foram tão longe que a Farsul acabou no Relatório Focus, do Banco Central (BC), uma das duas únicas entidades empresariais participantes do boletim, junto à Fiesp.
Jornal do Comércio - Viemos em um ano de retomada. 2017 marca definitivamente o fim da crise?
Antônio da Luz - Desde quando atingimos o fundo do poço, no segundo trimestre de 2016, estamos fazendo o percurso de volta. Mas só sairemos do poço quando fecharmos no azul. Ainda estamos no vermelho, no acumulado de 12 meses tivemos queda de 0,17% no terceiro trimestre. Devemos fechar o ano com crescimento de 0,86%, então cresceremos, no último trimestre, um valor interessante. Isso é bom, porque entraremos 2018 já em um ritmo acelerado. Não há dúvidas de que 2017 é um ano importante, não pelo que cresceremos, mas pelo que representa em termos de inflexão. Mesmo assim, é muito pouco perto do que perdemos. Em 2015 e 2016, acumulamos queda de 7,19%. Se crescermos os 2,33% que projetamos para 2018, vamos levar ainda vários anos para voltar a 2014. É isso o que mais preocupa, porque nesse meio tempo, enquanto recuávamos, o mundo esteve crescendo.
JC - Como recuperar o espaço perdido?
Da Luz - O mundo vem crescendo, em média, 2,9% ao ano, e nós vínhamos a 3%, considerando até 2014. Passada a crise, o que esperar do Brasil? Vamos esperar a média. Então, com a gente crescendo 0,1% a mais do que o mundo, só recuperaremos nossa posição no mundo em 2093. Tem um atalho, que é, em vez de 3%, passar a crescer 4% o ano, o que não é fácil. Assim, recuperaríamos a posição em 2023. Mas como crescer 1 p.p. a mais? Não posso seguir fazendo as mesmas coisas. Tenho que mudar, fazer o que países que crescem fizeram. Como a reforma da Previdência, por exemplo. Não é justo que uma pessoa trabalhe 35 anos ganhando R$ 10 mil por mês, sabendo que vai se aposentar com R$ 5 mil de aposentadoria, e, se quiser mais, vai fazer um plano de previdência complementar, mas aí tem gente que ganha R$ 40 mil e vai se aposentar ganhando isso, sem contribuir um centavo a mais. Se tivermos que seguir pagando por essas coisas, estamos tirando dinheiro da sociedade que falta no consumo, na melhoria do bem-estar, que é o que faz crescer a economia. Tem que ter uma reforma tributária, que é urgente, e era extremamente necessária uma reforma trabalhista.
JC - Considera esses os pontos principais, portanto?
Da Luz - Para a economia, sim. Na ordem: primeiro a tributária, que permite aos trabalhadores e empresas gerarem mais riqueza. Quando a empresa precisa gastar uma fortuna, além de pagar os impostos, para simplesmente conseguir pagar os impostos, esse dinheiro deixa de ir para maiores salários e novos investimentos na própria atividade. É a mãe das reformas para a sociedade. Para o equilíbrio fiscal, é importante a da Previdência. E a trabalhista já foi. E tem a política, que é a que mais se fala, que é muito importante para o ar que a gente respira, mas não para o ambiente econômico. Se fizer a reforma política sem fazer as outras, a economia continuará do mesmo jeito que está. Ela é importante para a sociedade, ninguém mais aguenta votar e depois se decepcionar com quem votou. Isso cria muita desesperança, o que cria espaço para salvadores da Pátria, que geralmente são as coisas mais perigosas que surgem em um país. E estamos com o ambiente pronto para que surjam essas figuras.
JC - A que você julga a mais importante, que é a tributária, é justamente a que parece estar mais longe do debate.
Da Luz - Não tenho dúvida disso. Faço muitas palestras no Interior, e sempre peço que levante a mão quem leu a proposta da reforma tributária. Em todas elas, ninguém levanta a mão, e isso me causa enorme preocupação. Pergunto também quem sabe o que é "distritão", voto distrital, coligações, e todo mundo sabe. A gente deveria saber das duas, mas se tivesse que escolher uma, tinha que escolher a tributária. As raízes da corrupção não estão só nas regras, estão também um pouco na nossa educação, que precisa mudar. Não adianta ter leis corretas para pessoas que já trazem de casa uma predisposição a não cumpri-las. E nós, na sociedade, fazemos muitas coisas erradas também, que nos desautorizam a falar muitas vezes dos políticos. A reforma política, por si só, não vai mudar tudo. Já a reforma tributária é mais rápida, porque não mexe na Constituição, mas é uma discussão que não motiva, não é um debate que a sociedade deseja fazer. Não porque não reconheça a importância, mas é um tema árido para o brasileiro que se acostumou com o sistema tributário que está aí. Não tem consciência dos benefícios, não se dá conta de que tem algo errado quando um brasileiro vai fazer enxoval nos Estados Unidos, quando um carro popular, que não tem nem segurança para passar em testes internacionais, custa o preço de um carro de luxo em outros países. E não se dá conta que o homem mais rico do Brasil e o mais pobre do Brasil, se forem comprar arroz e feijão no mercado, pagam a mesma carga tributária. E o homem mais pobre provavelmente demande muito menos do Estado do que o mais rico, que demanda segurança, estrada, energia na sua casa. O mais rico demanda mais, e paga, proporcionalmente, menos.
JC - A reforma tributária ideal passaria então por uma simplificação e instituição da progressividade?
Da Luz - Diminuir a carga tributária, no curto prazo, não há como. O que está errado é a forma como cobramos. Colocando imposto nos produtos, eles se tornam caros tanto para nós, consumidores domésticos, como para os consumidores lá fora. Isso nos traz baixa competitividade. Não temos como não exportar tributos, pela forma como está posto nosso sistema tributário, que incide sobre o consumo. Enquanto isso, temos baixa tributação em renda, patrimônio e lucro. Deveríamos ter impostos mais calcado nesses pontos do que em consumo. Eu vou pagar mais Imposto de Renda, tudo bem, mas vamos pagar menos por nossas roupas, nossos alimentos, a escola, tudo se torna mais barato. As empresas também não precisariam ter o custo que têm para pagar imposto. Não é possível também um país do tamanho do Brasil ir adiante com estados que legislam separadamente, um zera a base de cálculo quando quer, outro dá crédito presumido, e, de uma hora para a outra, o que era viável, deixa de ser. Não consigo convencer um estrangeiro, que não tem nenhum laço afetivo com o País, a investir aqui. O sistema tributário é uma esculhambação, mas, em compensação, temos um governo perdulário que precisa pagar juros altíssimos para compensar seus gastos. Então, em vez de investir em um negócio, gerar emprego, compro um título público. Damos os incentivos totalmente errados, e queremos resultados diferentes.
JC - Mesmo que essas reformas não saiam, o crescimento em 2018 se concretiza?
Da Luz - Eu acredito que a reforma tributária vai acontecer, porque não precisa de PEC. Os governadores são o grande nó, se eles se convencerem de que não vão perder receita, ela prospera. Mas a economia tem suas próprias regras. Os governos podem ajudar ou atrapalhar o crescimento, mas não conseguem fazer isso no curto prazo. Depois que a economia embala, é difícil de frear, porque, se eu investi em uma fábrica ou aumentei a área plantada, eu vou colher mais e produzir mais e ponto. O ambiente acaba refletindo mais à frente. Em 2018, só se acontecer uma catástrofe para o Brasil não crescer. Mas, se fizermos várias coisas erradas, podemos comprometer 2019 e 2020. Estou preocupado com as eleições pela mensagem que vamos passar. Não existe crescimento econômico em tempestade, ele acontece na calmaria. E tudo indica que de tédio a gente não vai morrer em 2018. Isso, para a economia, não é bom.
JC - E o cenário para o Rio Grande do Sul, acompanha a previsão de crescimento?
Da Luz - Vamos crescer menos que o Brasil em 2018, mas porque vamos crescer mais em 2017. E isso muito por causa do agronegócio, que tem uma participação aqui maior do que no Brasil e, como vem crescendo muito forte, transborda seus efeitos para os outros setores. Como antecipamos a saída, temos menos a crescer em 2018 do que o Brasil. Mas temos que separar a sociedade do governo gaúcho. O governo ao longo das décadas, com raras exceções, foi muito mal administrado, por governadores preocupados só com seu tempo de mandato, que mandaram o governo ao atoleiro. Não podemos mais ter tolerância com governos que fazem orçamentos projetando crescimento de receita absurdamente alto que todo mundo sabe que não vai acontecer, ou que dão aumentos que não podem pagar. O resultado disso está aí.
JC - O agronegócio, na safra passada, teve produção recorde mas preços em queda. Qual a expectativa para a próxima?
Da Luz - Devemos ter uma safra menor em 2018, não por desejo do produtor, que manteve a mesma área, mas porque não tem como repetir o clima, esse ano foi uma exceção. Assim como não posso esperar dois anos seguidos de seca, não posso esperar dois anos seguidos de safra desse tamanho, em que choveu no dia certo, em que parou de chover quando tinha que parar. Só de ser um clima normal, já cai a produção. Em contrapartida, devemos ter preços melhores, então tende a ser um ano melhor do que 2017 para o produtor. Para o Estado, como o PIB é uma variação anual, o que o agronegócio ajudou neste ano, no ano que vem não ajuda. Mas se pegar a média desse ano e do que se espera para o ano que vem, estamos crescendo junto aos asiáticos. Não dá para reclamar do agronegócio.
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