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Cultura

- Publicada em 27 de Dezembro de 2017 às 16:44

Filme de George Clooney aborda tensão racial nos Estados Unidos

Suburbicon - Bem-vindos ao paraíso ganhou contexto sociorracial da era Trump

Suburbicon - Bem-vindos ao paraíso ganhou contexto sociorracial da era Trump


DIAMOND FILMS/DIVULGAÇÃO/JC
George Clooney ainda desfrutava do sucesso de E aí, meu irmão, cadê você? (2000), de Ethan e Joel Coen, quando os irmãos diretores o convidaram para participar do elenco de uma comédia de humor negro, "sobre pessoas que matavam pessoas". Mas o sucesso ainda recente de Fargo (1998), que também brincava no terreno do mórbido, fez a dupla engavetar a ideia.
George Clooney ainda desfrutava do sucesso de E aí, meu irmão, cadê você? (2000), de Ethan e Joel Coen, quando os irmãos diretores o convidaram para participar do elenco de uma comédia de humor negro, "sobre pessoas que matavam pessoas". Mas o sucesso ainda recente de Fargo (1998), que também brincava no terreno do mórbido, fez a dupla engavetar a ideia.
No ano passado, quando buscava um novo projeto para dirigir, e que falasse, de alguma forma, sobre a tensão racial nos Estados Unidos, Clooney lembrou do antigo roteiro dos Coen. Foi assim que Suburbicon - Bem-vindos ao paraíso, a sanguinolenta trama que os irmãos aperfeiçoavam desde os anos 1980, ganhou contexto sociorracial da era Trump. O filme está em cartaz em salas de cinema de todo o Brasil.
"Durante sua campanha à presidência, Trump culpou minorias por tudo o que estava acontecendo de ruim no país, e falava em construir cercas, muros, esse tipo de coisa. Nessa mesma época, descobrimos o caso de uma família de afro-americanos hostilizada por moradores brancos de uma cidade da Pensilvânia, nos anos 1950. Achei uma ótima oportunidade para lembrarmos de que esse tipo de situação não é nova no país", contou Clooney, 56 anos, durante o Festival de Veneza, onde o título fez sua estreia mundial. "Mas criticar racismo seriamente seria pregar para convertidos. É aí que entra o fator entretenimento da trama concebida pelos Coen há mais de 30 anos."
A história original era típica do universo perverso dos Coen, um crime de encomenda em que tudo sai errado, deixando uma trilha de corpos pelo caminho. A releitura de Clooney e seu corroteirista Grant Heslov confere ao banho de sangue o tom de sátira social, ao deslocar a trama no tempo para um bairro modelo recém-inaugurado, nos anos 1950, cuja promessa de tranquilidade e segurança atrai moradores majoritariamente brancos. O filme acompanha o cotidiano de Gardner Lodge (Matt Damon), empresário e pai de família que, secretamente, conspira para matar a mulher, Rose (Julianne Moore), e, assim, desfrutar o seguro de vida dela com a cunhada, Margaret (também interpretada por Julianne).
Lodge e Margaret estão tão envolvidos em seus planos de enriquecimento rápido que parecem ignorar o drama vivido pelos Mayers (Leith M. Burke e Karimah Westbrook), casal de negros recém-chegado ao bairro. Desde o início hostilizados pelos vizinhos, eles passam a ser banidos das lojas e dos supermercados da região, e logo começam a ser responsabilizados por todas as coisas ruins que acontecem na vizinhança, a ponto de se tornarem objeto de violentas manifestações e atos de repúdio na porta de casa.
A tragédia é contada do ponto de vista de Nicky (Noah Jupe), o filho dos Lodge, que rapidamente começa a entender o perigo que está correndo, sem que possa fazer muita coisa a respeito. "Os primeiros esboços do roteiro dos Coen, desenvolvidos ainda nos anos 1980, chamava-se What Jack saw (O que Jack viu, em tradução livre). O garoto é o primeiro a descobrir que vive em uma família de criminosos", explica Clooney, que trabalhou com os irmãos Coen em filmes como O amor custa caro (2003), Queime depois de ler (2008) e Ave, César! (2016).
O diretor complementa: "Não queríamos que Jack tivesse para onde ir, ou alguém a quem pudesse contar o que está acontecendo em casa. O único conforto que ele encontra é na companhia do filho dos Mayers. Daí a importância de ver a história através dos olhos dele, e de como ele enxerga o mundo, porque Jack deseja fazê-lo um pouco melhor".
Refúgio de quase toda família norte-americana do pós-Segunda Guerra, o subúrbio de casas confortáveis, cercas brancas e gramados convidativos virou ícone de um certo cinema de Hollywood que critica modelos de perfeição. O filme de Clooney estreou na competição de Veneza poucas semanas depois dos sangrentos episódios ocorridos na cidade de Charlottesville, no estado da Virgínia, quando manifestações de grupos de extrema-direita resultaram na morte de três pessoas e em dezenas de feridos. "Os subúrbios são parte importante de nossas vidas, porque representavam uma nova forma de viver da classe média, que queria uma casa com jardim, piscina e escola perto. A ideia era de que todos pudessem ter um pedaço desse paraíso, desde que você fosse branco", ressalta Clooney, autor de Boa noite, e boa sorte (2005), outro título de fundo político, também ambientado nos anos 1950.
"Mas não vejo Suburbicon como um filme sobre Donald Trump, e sim sobre o fato de termos que nos conscientizar constantemente de que nunca resolvemos direito nossas questões com o racismo. Temos tentado, em várias épocas, mas é um problema que fará parte de nossa história por um bom tempo ainda", finaliza o cineasta.
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