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Cinema

- Publicada em 14 de Dezembro de 2017 às 22:33

O astronauta

O tema do estranho, do diferente, é retomado no filme Extraordinário

O tema do estranho, do diferente, é retomado no filme Extraordinário


PARIS FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
O tema do estranho, do diferente, do ser humano que se destaca dos demais por alguma característica que o afasta do que é tido como normal tem proporcionado inúmeras variações, algumas delas consagradas pelo tempo como obras cinematográficas clássicas. O menino dos cabelos verdes, o primeiro filme de Joseph Losey, realizado em 1948, é, provavelmente, o mais notável entre todos os realizados sobre tal motivo. Recebido com entusiasmo por parte da crítica da época, o filme pode ter tido suas qualidades enfraquecidas com o passar do tempo, mas ainda é uma bela reflexão sobre a solidariedade e a tolerância, além de ostentar até hoje a virtude maior de ser um trabalho voltado para a exaltação da paz e da harmonia. O diretor de Extraordinário, Stephen Chbosky, não é um Losey, mas deve ter visto o trabalho de estreia daquele cineasta, provavelmente também conhecido pela autora do livro sobre o qual seu filme está estruturado. A narrativa em primeira pessoa, dirigida a um psicólogo que representa em cena o espectador, não deixa dúvida sobre as aproximações, assim como as cenas dos primeiros contatos com os alunos da escola e até o papel de alguns professores. Mas a distância entre um filme e outro é aquela que separa uma obra autoral de uma empenhada em apenas conquistar a plateia com a aplicação de doses, por vezes bastante artificiais, de emoção. Os elementos criados pela fantasia também surgem em ambos os filmes, no de Chbosky pelo uso do capacete de astronauta e pelas referências a Guerra nas estrelas.
O tema do estranho, do diferente, do ser humano que se destaca dos demais por alguma característica que o afasta do que é tido como normal tem proporcionado inúmeras variações, algumas delas consagradas pelo tempo como obras cinematográficas clássicas. O menino dos cabelos verdes, o primeiro filme de Joseph Losey, realizado em 1948, é, provavelmente, o mais notável entre todos os realizados sobre tal motivo. Recebido com entusiasmo por parte da crítica da época, o filme pode ter tido suas qualidades enfraquecidas com o passar do tempo, mas ainda é uma bela reflexão sobre a solidariedade e a tolerância, além de ostentar até hoje a virtude maior de ser um trabalho voltado para a exaltação da paz e da harmonia. O diretor de Extraordinário, Stephen Chbosky, não é um Losey, mas deve ter visto o trabalho de estreia daquele cineasta, provavelmente também conhecido pela autora do livro sobre o qual seu filme está estruturado. A narrativa em primeira pessoa, dirigida a um psicólogo que representa em cena o espectador, não deixa dúvida sobre as aproximações, assim como as cenas dos primeiros contatos com os alunos da escola e até o papel de alguns professores. Mas a distância entre um filme e outro é aquela que separa uma obra autoral de uma empenhada em apenas conquistar a plateia com a aplicação de doses, por vezes bastante artificiais, de emoção. Os elementos criados pela fantasia também surgem em ambos os filmes, no de Chbosky pelo uso do capacete de astronauta e pelas referências a Guerra nas estrelas.
As influências não se resumem ao filme de Losey. Há também outras, como a do segundo filme de David Lynch, O homem elefante, realizado em 1980, e também a de Marcas do destino, dirigido por Peter Bogdanovich em 1985. Com este as semelhanças são muitos grandes. Em cena, um jovem deformado por uma doença rara, com a figura materna, no caso, se aproximando do filho por um sofrimento de outro gênero. No filme de Chbosky também vemos outros personagens carregando problemas e sofrimentos, que aparecem representados na dor e no isolamento do protagonista, cujo padecimento é, portanto, um resumo simbólico das dores de outras figuras em cena. Influências de obras anteriormente realizadas não se constituem em defeito ou característica negativa de um novo trabalho. Ao contrário: a contemplação do que o tempo consolidou é uma virtude e se encontra na base de qualquer ação renovadora. O problema de Extraordinário é outro e está relacionado à diluição do anteriormente proposto e à submissão a fórmulas exigidas pela produção de obras realizadas de olho apenas nas bilheterias.
Chbosky, por exemplo, não poupa o espectador da já cansativa cena de formatura no epílogo, quando o protagonista é saudado como o grande vencedor. De tantas vezes filmadas, cenas como esta pouco acrescentam aos dramas antes abordados. A solução se caracteriza pela artificialidade. No filme de Losey não se sabe como tudo continuará. No de Bogdanovich, a hostilidade é causa de deformidades. No de Lynch, os sonhos se desfazem sob o peso da opressão. Agora, o protagonista termina beneficiado pela vitória da fraternidade, o que é um desejo concretizado, mas certamente não o reflexo der uma realidade muito mais complexa. Extraordinário representa um tipo de cinema comprometido em armar cenas destinadas a causar emoção. Tudo é encenado com profissionalismo, mas é importante que se destaque o artificialismo e os truques empregados para seduzir o espectador. Numa época em que muitos exigem da arte o edulcorado e não a rudeza da realidade, filmes como este certamente serão apreciados pelos adeptos de peças ornamentais e inimigos dos documentos reveladores. Para um cineasta não é necessário ser rancoroso para ser verdadeiro, mas não há necessidade de concretizar na tela sonhos e desejos de maneira a ocultar as dificuldades e as distorções. Chbosky olha para os problemas e os soluciona de forma simplista, de acordo com fórmulas imposta por produtores. E porque mostrar apenas os créditos de O mágico de Oz, em vez de procurar acentuar as aproximações do protagonista de seu filme com as da personagem do belo filme assinado por Victor Fleming?
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