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Empresas & Negócios

- Publicada em 11 de Dezembro de 2017 às 15:24

Rejeição ao estrangeiro preocupa a OMC, diz Roberto Azevêdo


EITAN ABRAMOVICH/AFP/JC
Em Buenos Aires, onde ocorreu, na semana passada,  a Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), o diretor do órgão, Roberto Azevêdo, disse que "é uma coisa preocupante" a atual tendência, encabeçada pelos EUA e seguida por alguns países, de "rejeitar o estrangeiro, o importado, o global".
Em Buenos Aires, onde ocorreu, na semana passada,  a Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), o diretor do órgão, Roberto Azevêdo, disse que "é uma coisa preocupante" a atual tendência, encabeçada pelos EUA e seguida por alguns países, de "rejeitar o estrangeiro, o importado, o global".
Como o senhor avalia o protecionismo dos Estados Unidos?
Roberto Azevêdo - Certamente, a posição de Washington faz parte do cenário, mas vejo a posição da administração norte-americana como integrante de um cenário maior, que é de um discurso antiglobalização, anticomércio, que não está presente só nos Estados Unidos, há vários países seguindo. Não é uma tendência majoritária, mas você vê a discussão ocorrendo em países que eram tradicionalmente abertos para o comércio, para uma maior cooperação econômica internacional. E, agora, vemos esse movimento, nesses países, de rediscutir essa abertura em razão de coisas que são muito distintas do comércio.
E qual é o motivo para que isso ocorra?
Azevêdo - Na verdade, muitas vezes não têm nada a ver com o comércio, e sim com o temor de perder o emprego. Em 80% das vezes, o emprego é perdido para novas tecnologias, e não para produtos importados. Então eu vejo essa tendência de rejeitar o estrangeiro, o importado, rejeitar o global como uma coisa preocupante, porque pode levar a atitudes e a políticas contraproducentes justamente num momento em que nós precisamos de uma maior aceleração da economia mundial, para criar empregos e oportunidades.
Qual seria a forma de combater a antiglobalização?
Azevêdo - O primeiro passo é tentar introduzir um pouco mais de racionalidade numa conversa que tem muito pouco de racional. A maior parte dessas discussões é emocional, porque o argumento de que a abertura comercial e a maior integração com o mundo são um aspecto positivo para a economia do País não é um consolo para a pessoa que perdeu o emprego. E a perda é muito mais visível, mais emotiva, do que o ganho. Então a pessoa que perdeu o emprego, as comunidades que estão se sentindo afetadas tendem a ser mais vocais, mais ativas e a se mobilizar mais politicamente. Não estamos negando que existam tensões no mercado de trabalho, em parte provocada pela abertura comercial, mas fechar o comércio não é a solução. Pelo contrário, vai agravar a situação.
Quais os principais temas do encontro o senhor destacaria?
Azevêdo - Não se pode ter uma conferência da OMC sem discutir agricultura. Será sempre um pilar muito importante. Além da agricultura, na pesca faremos uma tentativa de dar um primeiro passo num controle aos subsídios. E comércio eletrônico e as pequenas e médias empresas também estão entre os temas prioritários.
Dentro desse contexto, como se situa o comércio eletrônico?
Azevêdo - O problema de qualquer conversa sobre comércio eletrônico é tentar entender o que é comércio eletrônico, que é um universo muito pulverizado. Há muitas atividades hoje que caberiam sob esse rótulo. Mas temos de ter presentes que a ideia não é de limitar ou dificultar, mas sim viabilizar, como fazer com que pequenas e médias empresas, os cidadãos de uma maneira geral, os governos e as indústrias se beneficiem das tecnologias que viabilizam a economia digital.
De que forma a OMC pode auxiliar nesse processo?
Azevêdo - A OMC pode ajudar facilitando informação, compatibilizando plataformas, criando mecanismos de proteção ao consumidor. Há muito que pode ser feito, mas a ideia geral tem de ser a de viabilizar. Quando se fala em comércio eletrônico, as pessoas só pensam na importação, que produto vai entrar e tirar o trabalho de alguém. Não se pensa na exportação. O comércio eletrônico poderia viabilizar negócios e empregos de milhares de empresas argentinas que hoje estão fora do mercado internacional. Esse lado, muitas vezes, é perdido nessa conversa.
Outro ponto de debate se refere ao incentivo às montadoras. Qual é a sua avaliação sobre o tema?
Azevêdo - O que eu disse quando passei pelo Brasil recentemente foi que a OMC não impede que os países adotem mecanismos de incentivo à sua indústria. Tem limitações - algumas muito básicas. Uma delas é que você não pode introduzir obrigações de conteúdo doméstico para que a empresa se beneficie do apoio governamental. A outra é o de não ter metas exportadoras. Você não pode dar para uma empresa um benefício com a obrigação de que aquela empresa atinja metas de exportação. Mas, de maneira geral, uma vez que você evite essas duas condicionantes, há espaço para fazer muita coisa. Eu não conheço a discussão da Rota 2030 (nova política industrial para o setor automotivo), nem compete a mim como diretor-geral da OMC participar dela, mas há muito espaço para fazer coisas que levem a uma situação de maior competitividade, porque, a meu ver, uma política industrial bem-sucedida não é a que gera dependência do apoio governamental, e sim a que leva à competitividade e independência do setor industrial dos apoios governamentais.
Agência Folhapress
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