Porto Alegre, domingo, 10 de dezembro de 2017.

Jornal do Com�rcio

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entrevista

Not�cia da edi��o impressa de 11/12/2017. Alterada em 10/12 �s 20h08min

Pr�mio de Responsabilidade Social � esfor�o para uma sociedade mais justa

Para Pretto, ter uma a��o social reconhecida por um pr�mio que tem quase duas d�cadas �, sem d�vidas, um incentivo

Para Pretto, ter uma a��o social reconhecida por um pr�mio que tem quase duas d�cadas �, sem d�vidas, um incentivo


/CACO ARGEMI/ALRS/JC
O Prêmio de Responsabilidade Social está em sua 18ª edição e para o deputado e presidente da Assembleia Legislativa, Edegar Pretto (PT), o principal avanço nestas quase duas décadas é a conscientização da sociedade, das entidades empresariais e de classe, universidades, entidades governamentais e do terceiro setor em realizar esforços conjuntos com vistas à construção do bem-estar das comunidades. "Os empresários estão inseridos neste contexto, pois sabem que se você tem uma sociedade mais justa todos saem ganhando. E ter a sua marca vinculada a ações nesse sentido é ter uma espécie de valor agregado ao seu produto, que resulta em ter o reconhecimento e a aprovação dos seus consumidores", afirma. Nesta entrevista, o deputado aborda a importância da premiação e o Tema Norteador, que este ano busca igualdade de gênero e o fim da violência contra a mulher. "Ainda tem muito a ser feito, muito terreno a ser conquistado. E se agregarmos à questão o tema racial, veremos que as mulheres negras são ainda mais discriminadas. Se trata de um processo que ao meu ver precisa caminhar mais rapidamente", observa.
Jornal do Comércio - A premiação da Assembleia Legislativa é uma forma de incentivo aos empresários?
Edegar Pretto - No momento em que sua empresa conquista algo com a chancela do Parlamento, ou seja, com a representação política de toda a sociedade gaúcha, em parceria com entidades da sociedade civil, representadas na Comissão Mista Organizadora, isso tem um peso importante na percepção do mercado. Ter uma ação social ou um conjunto delas reconhecida por um prêmio que já tem quase duas décadas de existência, tendo agraciado importantes empresas e entidades do Estado, é sem dúvida um incentivo que faz com que busquem esse reconhecimento.
JC - Na edição deste ano houve uma leve queda no número de participantes. O senhor acredita que a crise financeira pode ter contribuído para que os empresários gaúchos também colocassem o pé no freio nos investimentos em ações sociais?
Pretto - Pode ser, mas a diminuição de projetos e programas inscritos não é significativa a ponto de podermos assegurar essa afirmação. Mas é claro que qualquer impacto negativo na economia tende a refletir nos investimentos das empresas, incluindo aqueles voltados às ações sociais.
JC - Na sua opinião o governo dá incentivo suficiente às empresas que apostam em responsabilidade social? Além do desconto ou isenção de impostos, que outras políticas os governos poderiam adotar para estimular os empresários?
Pretto - A responsabilidade social não deve ser unicamente fruto de incentivos, sejam eles fiscais ou não. Eles podem sim, contribuir com esse processo. A responsabilidade social, para que seja concreta e contínua, deve ser resultado da conscientização de que todos nós, sejamos agentes públicos ou privados, devemos, de alguma forma, compartilhar com a sociedade os ganhos que obtivemos com essa mesma sociedade. Pois é a sociedade e seus múltiplos agentes que sustentam ou garantem a existência das empresas ao reconhecer a importância destas.
JC - E a sociedade de que forma pode ajudar? Consumir de empresas que têm esse compromisso pode ser uma alternativa de estimular os empresários em pensarem em uma gestão com preocupação social?
Pretto - Ela pode contribuir ao consumir e participar com críticas e sugestões, cobrar posturas, fiscalizar. Mas isso também depende do grau de conscientização dessa sociedade. E é claro que, quanto mais uma marca estiver vinculada a ações que visem o bem-estar de todos, certamente ela será melhor vista pelas pessoas.
JC - O Tema Norteador dessa edição é Equidade de Gênero, tendo como base os Princípios para o Empoderamento das Mulheres, lançado pela ONU Mulheres e Pacto Global. Na sua opinião, quais os principais desafios nessa questão: violência doméstica, preconceito, igualdade no mercado de trabalho?
Pretto - Difícil colocar um grau de hierarquia quando estamos falando de várias formas de agressão e violência, pois uma sempre leva a outra. O desafio maior é a mudança de postura e de entendimento daqueles que são os principais responsáveis por essa injustiça, que são os homens. É com eles - e com os meninos que estão formando seu caráter - que devemos conversar, insistir, mostrar que o não de uma mulher é não; mostrar que a mulher tem todo o direito de estar onde ela deseja estar; mostrar que a cultura machista é um mal. Mas no momento que a classe empresarial entender como é grande a injustiça de se pagar salários menores a mulheres que ocupam o mesmo cargo que homens ou não procurarem a equidade nos postos de comando e decisão, acredito que esta será uma grande contribuição a um processo que envolve ainda a aplicação das leis, a organização social e, na minha opinião a mais importante, a conscientização para a igualdade de gênero na sociedade.
JC - Nos projetos apresentados, vimos muitas iniciativas interessantes de empresas, universidades e entidades que buscam mais respeito às mulheres. Que políticas e iniciativas o Legislativo gaúcho está tomando para mudar essa realidade de discriminação e violência contra as mulheres?
Pretto - A Assembleia Legislativa, com as 16 bancadas partidárias, é a representação da nossa sociedade. No Parlamento estão homens e mulheres eleitos pelo povo e que são um retrato dessa multiplicidade de opiniões. E por isso mesmo temos também grande responsabilidade nesse processo. O Parlamento gaúcho foi o primeiro legislativo brasileiro a ter constituído uma Frente Parlamentar dos homens pelo fim da violência contra as mulheres. Também foi o primeiro parlamento a aderir ao Movimento ElesPorElas (HeForShe) da ONU Mulheres, e temos a Procuradoria Especial da Mulher que foi criada na Casa. Estamos criando ainda uma ouvidoria especial para receber denúncias e tratar de casos de assédio - seja ele verbal, físico ou sexual - contra as mulheres que por ventura venham a acontecer no âmbito do Parlamento. O próprio tema - a violência de gênero - foi objeto de uma grande campanha de mídia no início da gestão dessa presidência e foi uma das causas que nortearam os ciclos dos grandes debates realizados pela Casa nesse ano em inúmeras regiões do Estado, com o apoio de instituições e, principalmente, todas as universidades do Rio Grande do Sul. Estamos provocando o debate, realizando ações e tratando de forma séria essa problemática que não respeita classe social, religião ou etnia.
JC - O senhor acredita que a sociedade está avançando nestas questões?
Pretto - Se formos comparar com duas ou três décadas atrás sem dúvida que tanto a percepção como o tratamento dado à questão hoje é outro, avançou, principalmente a partir de 2006 com a criação da Lei Maria da Penha. Por outro lado, estamos chegando na segunda década do século 21 e milhares de mulheres ainda são mortas, agredidas ou mutiladas pelo simples fato de serem mulheres, são vistas como propriedade de alguém, que ganham menos em termos salariais ou são preteridas profissionalmente por serem do sexo feminino. Sim, avançamos. Mas ainda tem muito a ser feito, muito terreno a ser conquistado. E se agregarmos à questão o tema racial veremos que as mulheres negras são ainda mais discriminadas. Se trata de um processo que ao meu ver precisa caminhar mais rapidamente.
JC - Para o senhor, o que significa uma empresa ter responsabilidade social hoje em dia?
Pretto - Atualmente vejo como um conjunto de posturas que traz consigo diferentes relações que devem possibilitar ações que dialoguem com temas como meio ambiente, direito do consumidor, consumo consciente, salário justo, condições de trabalho, direitos humanos e igualdade. A responsabilidade social vai além do que pode ser feito para o público externo. Ela deve estar presente no dia a dia da empresa e nas relações com seus trabalhadores e trabalhadoras.
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