Cinco dias para a comunidade de Bagé e região celebrar a cultura. De quarta-feira até domingo, o município recebe a programação do 9º Festival Internacional de Cinema da Fronteira. O evento apresenta uma mostra competitiva de longas-metragens (cuja lista é composta principalmente por filmes inéditos no Estado) e duas seleções de curtas - uma nacional e outra local. A programação acontece no Centro Histórico Vila de Santa Thereza (Visconde Ribeiro de Magalhães, s/nº), com sessões comentadas, shows e oficinas em horários variados.
Entre os destaques está a produção gaúcha Yonlu, de Hique Montanari. Há cerca de uma semana, na Mostra de São Paulo, o trabalho recebeu o prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema de melhor filme dirigido por um estreante. A narrativa é baseada na tragédia real de um músico adolescente que cometeu suicídio na década passada. O intérprete responsável pelo papel principal, Thalles Cabral (da novela Amor à vida), e o diretor participam da atividade, às 14h de quarta-feira, em sessão de abertura.
Yonlu está na mostra competitiva ao lado de outros nove títulos: Açúcar, de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira; Aurora 1964, de Diego Di Niglio; A terceira margem, de Fabian Remy; Bio, de Carlos Gerbase; Histórias que nosso cinema (não) contava, de Fernanda Pessoa; Guarnieri, de Francisco Guarnieri; Homem livre, de Alvaro Furloni; Quando o galo cantar pela terceira vez renegarás tua mãe, de Aaron Salles Torres; e Quem é Bárbara Virgínia, de Luísa Sequeira.
Os temas são variados. O último citado acima, por exemplo, foi filmado entre Brasil e Portugal e acompanha a diretora em busca da personagem-título, a primeira cineasta portuguesa a realizar um longa-metragem e a única a fazer um filme na época da ditadura de seu país. Já Histórias que nosso cinema (não) contava busca promover uma releitura dos anos 1970 no Brasil através de imagens e sons de filmes populares da época, muitos deles considerados pornochanchadas. Entre outros tópicos, há produções que debatem questões raciais (Açúcar), totalitarismo (Aurora 1964) e intolerância religiosa (Homem livre). Outro participante é bem conhecido. Bio recebeu o prêmio do júri popular e um prêmio especial do júri em Gramado neste ano. O filme é um falso documentário sobre um biólogo cuja biografia é contada por 39 pessoas.
A curadoria dos longas foi feita pela jornalista luso-moçambicana Carla Henriques e pelo cineasta Zeca Brito. Ela cumpre o eixo lusófono, selecionando os filmes de língua portuguesa que não são brasileiros. Já Brito, diretor artístico do festival, atuou como curador em regime de urgência devido ao falecimento do crítico Cid Nader - que vinha desempenhando a função nos últimos anos. Um dos homenageados desta edição, Nader não chegou a participar efetivamente da escolha das obras para 2017, mas colaborou com o norte temático do programa. "Nós sempre falamos da lusofonia, latinidade, da questão da fronteira. Neste ano, o Cid nos fez olhar para o Brasil de uma forma crítica - para apontar filmes que nos façam refletir sobre o País em que estamos vivendo", afirma o diretor, apontando que há, também, três obras convidadas. Uma delas é um exemplar da rara produção de São Tomé e Príncipe: Serviçais, de Nilton Medeiros.
Outro momento muito aguardado pela comunidade, de acordo com Brito, é a mostra regional, na noite de sexta-feira. A expectativa de público chega a 4 mil pessoas - já que são cerca de 30 filmes inscritos. Familiares e amigos dos realizadores da região costumam comparecer a essas sessões, que são vistas pelos organizadores como um ponto alto das edições. "É um festival muito democrático. E tem esses dois lados: de trazer a produção contemporânea e de fomentar a cena local", explica o diretor artístico.