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Teatro

- Publicada em 09 de Novembro de 2017 às 22:48

Ideia boa, péssima concretização

Um festival de lugares comuns que se torna cansativo, ainda que o espetáculo não dure mais que uma hora cheia. Este pode ser o resumo de Além do que os nossos olhos registram, produção carioca dirigida por Fernando Philbert, a partir de texto original de Fernando Duarte. O curioso é que, se o dramaturgo não é um nome de maior repercussão, ainda que seus textos anteriores tenham sido interpretados por Marília Pêra, o diretor Philbert assinou, recentemente, O topo da montanha, uma das últimas peças escritas por Arthur Miller.
Um festival de lugares comuns que se torna cansativo, ainda que o espetáculo não dure mais que uma hora cheia. Este pode ser o resumo de Além do que os nossos olhos registram, produção carioca dirigida por Fernando Philbert, a partir de texto original de Fernando Duarte. O curioso é que, se o dramaturgo não é um nome de maior repercussão, ainda que seus textos anteriores tenham sido interpretados por Marília Pêra, o diretor Philbert assinou, recentemente, O topo da montanha, uma das últimas peças escritas por Arthur Miller.
Se é verdade que, se o texto é extraordinário, registrei também que a direção tinha alguns equívocos, acentuando demasiadamente o tom hilariante do texto em detrimento de seu fundo dramático e mais reflexivo. Talvez estes dois dados, acrescidos do fato de as três intérpretes serem atrizes televisivas, explique este festival de equívocos que, infelizmente, põe fora uma ideia que, a princípio, se apresentava interessante, inclusive pela situação climática escolhida: uma jovem da alta sociedade descobre-se lésbica, rompendo o noivado para relacionar-se com a antiga amiga de infância.
A avó vai ser seu apoio, até porque esta avó também teve uma experiência de preconceito social, pois havia se casado com um negro. Já a mãe da jovem, portanto, filha desta avó, é uma mulher aparentemente volúvel, interessada na situação economicamente estável de que desfruta, com um marido rico e em ascensão na carreira política, candidato a governador, que pretende ser; mas tem uma vida infeliz, tendo sido inclusive obrigada a praticar dois abortos depois do nascimento da primeira e única filha.
Este resumo dá todos os indicativos do melhor e do pior do espetáculo. Os temas são oportunos e presentes na nossa sociedade, necessariamente questões a serem discutidas no País. Mas a dramaturgia de Fernando Duarte acaba por juntar tudo isso num pacote só, sem quaisquer nuances ou aprofundamentos. Por exemplo, fica mal explicada a relação da avó com o marido, pai da hoje mãe intolerante que, no decurso do diálogo, revela-se ressentida por ter sido obrigada a viver numa família pobre, já que a mãe se sacrificava em nome da carreira artística musical do pai (que, como se disse, além do mais, era negro).
Veja-se que isso poderia render uma reflexão interessante e importante, dessas que, justamente, um Arthur Miller seria capaz de apresentar, mas que, infelizmente, Fernando Duarte não tem nenhuma condição de desenvolver. Assim, ficamos apenas no anedótico. Mesmo as pretendidas nuances no caráter da mãe (geração intermediária), em que, primeiro, é acusada pela filha de nunca ter sido carinhosa para com ela, mas depois, em plena cena, recebe-a no colo e fica acarinhando a filha, torna-se incongruente no desenvolvimento da trama.
Também a questão de suas pretensas preocupações com o futuro da mãe, que além de idosa, tem uma doença que exige gastos razoáveis com remédios, tudo financiado pela filha, agora rica etc. Duarte mostra que tem sensibilidade para situações do momento, sabe transformar pequenas situações em possibilidades dramáticas, como o fato de ao resolver criar uma biblioteca comunitária no seu apartamento. Mas nada disso acaba sendo desenvolvido e aprofundado. É como se a gente tivesse um figurino a ser cumprido, um manual a ser seguido, mas tudo ligeirinho, sem densidade, só para constar.
O diretor Fernando Philbert também parece ter embarcado neste equívoco. Estamos diante de um espetáculo do chamado teatrão: cenário muito cuidado e acabado, atrizes de popularidade indiscutível, produção bem concretizada, mas faltou o principal no teatro: humanidade densa, contradições que traduzam, de fato, os dramas da humanidade, sobretudo neste momento presente, em que tanto precisamos discutir estas coisas, na medida em que a sociedade brasileira vem se colocando cada vez mais intransigente e violenta.
O elenco vai bem: Letícia Birkheuer, como a mãe (Violeta), é a melhor em cena. A avó Delfina é interpretada por Luiza Tomé, personagem cuja densidade dramática poderia ser melhor explorada tanto por ela quanto pelo texto. O mesmo se pode dizer de Priscila Fantin, enquanto Sofia, a jovem que enfrenta seus desafios cotidianos. É pena que, a partir de situações tão potencialmente produtivas, tenha-se chegado a um resultado pífio.
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