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- Publicada em 23 de Novembro de 2017 às 22:38

Política, sexo e ficção científica

Detalhe da capa do livro

Detalhe da capa do livro


REPRODUÇÃO/JC
O conto da aia (Editora Rocco, 368 páginas, tradução de Ana Deiró), romance da internacionalmente consagrada escritora canadense Margaret Atwood, em síntese é, ao mesmo tempo, um exercício insuperável de ficção científica e uma história moral de significado profundo. A arrepiante narrativa tornou-se mais vital e atual que nunca e ilumina com alta competência as ligações entre política e sexo.
O conto da aia (Editora Rocco, 368 páginas, tradução de Ana Deiró), romance da internacionalmente consagrada escritora canadense Margaret Atwood, em síntese é, ao mesmo tempo, um exercício insuperável de ficção científica e uma história moral de significado profundo. A arrepiante narrativa tornou-se mais vital e atual que nunca e ilumina com alta competência as ligações entre política e sexo.
Margaret Atwood já recebeu alguns dos mais importantes prêmios internacionais, como o Man Booker Prize (por O assassino cego, 2000) e o Príncipe de Astúrias pelo conjunto da obra, em 2008. Ela escreve contos, poemas e ensaios, e se destaca por publicações na área da ficção científica, em obras como Oryx e Crake, e O ano do dilúvio, ambas publicadas no Brasil pela Editora Rocco.
O conto da aia narra a trajetória da protagonista Offred, 33 anos, que vive na esquisita República de Gilead. Ela é apenas uma aia na casa de um enigmático comandante de alto escalão do Exército e de sua esposa. Ela pode fazer compras em mercados cujos letreiros foram trocados por desenhos. Em Gilead, as mulheres são proibidas de ler. Ela pode rezar, fechada em seu quarto, sem ninguém saber. Ela também pode se lembrar do tempo em que tinha marido, filha e um emprego, antes de perder seu nome próprio. A única função real para as aias: procriar. Depois de uma guerra e radiações, a maioria das mulheres no que outrora foram os Estados Unidos ficou estéril.
Se Offred não engravidar, se tornará uma Não Mulher, aquelas que não podem engravidar, as homossexuais, viúvas, adúlteras e feministas, condenadas a trabalhos forçados nas colônias, lugares onde a radiação é fatal. Se não seguirem as regras, as aias podem ser fuziladas e expostas no Muro, o mesmo destino dos criminosos comuns.
Em meio ao terrível Estado teocrático e totalitário, Offred se agarra à esperança de saber o paradeiro da filha e do marido.Nem o poder de Gilead vai matar o desejo de Offred, na narrativa de Margaret, que trata de liberdade, direitos civis e outras fragilidades atuais.
O conto da aia está sendo considerado um clássico como Admirável mundo novo e 1984, mas com perspectiva original e feminina, e já mereceu adaptações para cinema, teatro, ópera e agora para uma aclamada série de TV.

lançamentos

  • Ética protestante muda caráter conformista do brasileiro - 500 anos da Reforma Protestante (Editora Algo Mais, 140 páginas), do consagrado jornalista e economista Silvio Lopes, que atuou nos jornais O Globo, ZH, Jornal do Brasil, Correio do Povo e Diário de Notícias, mostra, com fundamento e brilho, como a ética protestante pode ajudar os brasileiros a serem mais trabalhadores, felizes e prósperos, como, aliás, ocorreu em outros países que atingiram o topo.
  • Felicidade é o que conta (L&PM, 198 páginas), do médico, professor, doutor e escritor J.J. Camargo, traz 60 crônicas sobre medicina, vida e momentos cruciais, mostrando como não se pode praticar a medicina sem respeitar o indivíduo medroso e inseguro que aguarda o diagnóstico. J.J. Camargo diz que, já que estamos na mesma jornada, por que não fazer a diferença e procurar viver bem? No final, a felicidade é o que conta.
  • O caçador de demônios (Harper Collins, 318 páginas, tradução de Ligia Azevedo) é a primeira obra de ficção do roteirista e dramaturgo norte-americano Ray Norman, escrita em conjunto com o ator norte-americano Wesley Snipes. Lauryn Jefferson trabalha num hospital público de Chigago. Dezenas de pacientes aparecem sob o feito de uma poderosa droga desconhecida. Ninguém consegue explicar os sintomas e mutações. O guerreiro Talon é convocado para ajudar.

A retrotopia segundo Zygmunt Bauman

Hoje, se fala muito, se filma e se escreve um monte sobre essa tal distopia. Distopia, lugar ruim, infeliz, espécie de antiutopia. Aliás, a palavrinha surgiu em 1868 no Parlamento britânico, num discurso de Gregg Webber e John Stuart Mill. A ideia de fim do mundo, do apocalipse e do fim dos tempos é mais velha que andar a pé e já está lá no último livro canônico do Novo Testamento, publicado em 95 ou 96 d. C, com revelações feitas a João Evangelista na Ilha de Patmos.
Retrotopia (Jorge Zahar Editor, 164 páginas, R$ 49,90 impresso e R$ 37,90 e-book, tradução de Renato Aguiar), de Zygmunt Bauman (1925-2017), o grande pensador da modernidade, autor do best-seller Amor líquido, trata da retrotopia, uma busca no passado de elementos que nos deem uma perspectiva de futuro, ainda que ilusória. O livro vem em boa hora.
Bauman é fundamental para a compreensão das relações afetivas de hoje. Sociólogo e filósofo, com mais de quarenta livros publicados no Brasil pela Zahar, responsável pelo conceito de relações sociais líquidas, Bauman analisou com perspicácia e humanismo a sociedade atual.
Retrotopia foi o último livro escrito por Bauman e mostra que a esperança por um mundo melhor deu lugar ao medo de perder o emprego, a casa, o lugar social e mostra como o futuro se transformou num pesadelo e hoje é visto como o caminho para o fracasso e a decepção. A utopia buscava um Estado soberano, com estabilidade e segurança. A retrotopia busca, no passado, elementos capazes de nos dar uma perspectiva de futuro, mesmo ilusória.
Desde Thomas More até a retrotopia, Bauman percorre os caminhos da utopia e mostra como a retrotopia é fruto do fosso cada vez mais profundo entre poder e política e do desencanto generalizado quando ao futuro e às utopias. Movimentos nacionalistas extremos, nacionalismos exacerbados e desejo de pertencer a uma comunidade com memória coletiva viraram epidemia global.
Bauman explica que não há atalhos para represar rápida e habilmente as correntes que pretendem "de volta para", e ensina que é longo e árduo o caminho para que os humanos se deem as mãos e busquem bons caminhos. Se não se derem as mãos, os humanos voltarão para suas valas comuns, diz o autor de Retrotopia. Bauman alerta que passaremos por um período com mais perguntas do que respostas e mais problemas que soluções. O filósofo enfatiza que precisaremos atuar em meio à sombra de chances muito equilibradas de sucesso e derrota. No fim do volume, Bauman cita palavras do Papa Francisco, que propõe novas divisões dos frutos da terra e do trabalho humano e a implantação de modelos mais inclusivos e equitativos, com a mudança de uma economia líquida para uma economia social. Papa Francisco prega por mais empregos, especialmente para os jovens, através de modelos econômicos que não favoreçam apenas minorias e que sejam capazes de servir melhor à sociedade como um todo.

a propósito...

Impossível voltar ao passado. Os humanos não acreditam em utopias. Uns acreditam em distopias, outros em retrotopias. Muitos não acreditam em nada. O passado foi, o futuro virá. No presente, onde realmente vivemos, precisamos fazer o melhor. Um vídeo com as últimas palavras de Steve Jobs, criador da Apple, diz muito. No leito de morte (a cama mais cara do mundo), no escuro onde brilhavam as luzes do respirador artificial, ele fala que a fortuna, a glória e a fama lhe davam pouca felicidade. Pensando na vida, no fim, refletiu que, em vez de buscar só dinheiro e honrarias, deveria ter pensado mais em coisas importantes como histórias de amor, arte e sonhos de infância. Steve soube que levaria apenas as recordações fortalecidas pelo amor, que o melhor na vida é amar o cônjuge, a família e os amigos, e ajudar o próximo.