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Empresas & Negócios

- Publicada em 22 de Novembro de 2017 às 15:10

Cidadania em sala de aula

Alunos da Escola Florinda Tubino Sampaio aprendem a ser indivíduos atuantes na democracia

Alunos da Escola Florinda Tubino Sampaio aprendem a ser indivíduos atuantes na democracia


/MOBIS/DIVULGAÇÃO/JC
Samuel Lima
A Constituição Federal estabelece como interesse público promover e incentivar o exercício da cidadania, no artigo 205. Mesmo assim, todos os anos, 2,1 milhões de estudantes brasileiros se formam no Ensino Médio sem ter acesso ao conteúdo, descrito como um conjunto de metodologias, atividades e ferramentas utilizadas para preparar indivíduos a serem participantes ativos e informados em uma democracia. A educação para a cidadania não faz parte do currículo escolar brasileiro, nem como disciplina, nem como conteúdo obrigatório.
A Constituição Federal estabelece como interesse público promover e incentivar o exercício da cidadania, no artigo 205. Mesmo assim, todos os anos, 2,1 milhões de estudantes brasileiros se formam no Ensino Médio sem ter acesso ao conteúdo, descrito como um conjunto de metodologias, atividades e ferramentas utilizadas para preparar indivíduos a serem participantes ativos e informados em uma democracia. A educação para a cidadania não faz parte do currículo escolar brasileiro, nem como disciplina, nem como conteúdo obrigatório.
A questão é que esse tipo de abordagem tem reflexos em como a sociedade encara a participação política e, no fim das contas, os governantes que a representam. Estudo realizado com mais de 1,2 mil norte-americanos em 2003, por exemplo, aponta que jovens que tiveram formação em cidadania se mostram duas vezes mais propensos a votar, buscar informações sobre o governo e entrar em contato com servidores públicos.
No Brasil, uma das oito democracias do mundo que não têm educação para cidadania na escola, reina o descrédito com a politicagem - ainda que também haja influência marcante de sucessivos escândalos de corrupção e desvios éticos de políticos brasileiros nos anos recentes. Pesquisa da World Values Survey de 2014 mostra, por exemplo, que 83% dos brasileiros não confiam em partidos políticos, e 77% não acreditam no Congresso Nacional. Será que a situação não seria outra se o brasileiro de fato tivesse acesso, desde cedo, a informações de como uma democracia funciona e a importância das instituições?
A gaúcha Diana Engel Gerbase levou a sério esse problema. Após formar-se em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e trabalhar em consultorias estratégicas e desenvolvimento de negócios na iniciativa privada, viajou aos Estados Unidos, em 2013, para mestrado em Administração Pública na Universidade de Columbia. Já nessa época, tinha em mente investir num projeto de impacto social no País.
Foi lá que surgiu a Mobis, uma startup-ONG sem fins lucrativos que procura inserir no ambiente escolar brasileiro conteúdos como o funcionamento do Estado e da democracia. "É uma demanda social brasileira", garante Diana, que tem na ponta da língua outro dado esclarecedor: 64% dos jovens brasileiros gostariam de ter aprendido sobre política na escola, conforme a pesquisa Sonho Brasileiro da Política, da agência gaúcha Box1824. "O nosso grande objetivo é criar uma sociedade que dialogue mais sobre os problemas, com um discurso menos de ataque e mais de solução de problemas comuns. Queremos um diálogo mais profundo e baseado na confiança social (nas instituições democráticas), que é parte maior. Ninguém é dono da razão", afirma.
Em 2015, ela levantou recursos com três instituições de fomento internacionais para fazer um projeto piloto no Colégio Estadual Florinda Tubino Sampaio, do bairro Petrópolis, em Porto Alegre. "Vários professores da escola já estavam querendo trabalhar projetos nessa área", lembra a professora Soraia Bertin do Valle, que lecionava a disciplina de seminário integrado àquela época na escola. Hoje, dá aulas de história. Foram então selecionadas cinco turmas do 1º ano do Ensino Médio, todas do turno da manhã, impactando 104 alunos.
As primeiras aulas enfrentaram alguma resistência entre os alunos, preocupados em dar conta de mais conteúdo em sala de aula, mas aos poucos deslanchou. Com base no que aprendiam, as turmas tiveram que encontrar saídas para problemas da própria comunidade escolar e do entorno, por meio do diálogo e de modo democrático. Houve até votações em dois turnos para criar, por exemplo, regras de convivência.
Resultado: ao final do projeto, 53% deles disseram que se sentiam responsáveis pelo Estado e dispostos a interagir com seus entes; 35% declararam conseguir pensar mais em ações para resolver problemas na volta; e 89% ficaram satisfeitos com o programa.
Ânimos renovados com a experiência positiva, a Mobis começou a ganhar corpo. Primeiro, foi incubada, por alguns meses, no Columbia Startup Lab, em Nova Iorque, para então chegar ao Brasil, em outubro de 2016. Foi fundada neste ano, por Diana e outros quatro jovens - Ana Luiza Cardoso (Gang), Chico Baldini (W3haus), Melissa Baruffi (Instituto Proteger) e Bruno Paim (Minha Porto Alegre), recebendo, mais tarde, o apoio de Tobias Chanan (Body Store, Urban Farmcy) como associado. A startup está hoje no Parque Científico e Tecnológico da Pucrs (Tecnopuc).
A ideia da Mobis agora é montar uma plataforma on-line que disponibilize gratuitamente materiais didáticos a professores de todo o Brasil. Em outras palavras, seria uma plataforma de recursos educacionais abertos. Ela teria filtros de assunto, faixa etária e duração, e incluiria planos de aula, materiais para alunos (como lições de casa) e ferramentas multimídia. Por causa do projeto-piloto, a startup já tem 50 horas de conteúdo pedagógico prontos para serem distribuídos, mas a ideia é ter, pelo menos, mais 100 horas em 2018. E, mais tarde, o espaço seria aberto para qualquer educador submeter trabalhos próprios, sob curadoria da equipe.
Para financiar a ideia, a startup criou uma campanha de crowdfunding (“vaquinha” virtual) no site Benfeitoria, que tem como primeira meta arrecadar R$ 74,4 mil até 22 de dezembro. Com esse valor, a Mobis conseguiria criar e colocar no ar a plataforma online. As recompensas pelas doações variam entre adesivos, cartas e mensagens de agradecimento, copos, camisetas, posters, quadros e jantar de apresentação do projeto no Urban Farmcy. Até semana passada, a campanha estava em 50% do primeiro valor, com apoio de 83 pessoas.
Caso atinja o número antes da data, a startup ainda tentaria conseguir R$ 132 mil para atender, presencialmente, mais duas escolas da rede pública de Porto Alegre no próximo ano, e R$ 156 mil para contratar um profissional especializado para revisão pedagógica e editorial dos conteúdos a serem produzidos. Diana diz que a intenção é que, após o pontapé inicial, a Mobis se sustente não apenas com doações, mas principalmente com a prestação de serviços educacionais em escolas particulares.
A depender da professora Soraia, o interesse no meio é imenso. “O cotidiano do professor é uma coisa muito complicada. Ele acaba abordando esses assuntos muito pontualmente, e não de forma articulada, pela falta de tempo, pela estrutura da escola, pela visão geral que é preciso focar no vestibular. Qualquer ferramenta de qualidade direcionada à sala de aula, com faixa etária e objetivo bem definido, me parece sensacional”. O endereço da campanha virtual é benfeitoria.com/mobis.
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