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A crescente popularidade dos aplicativos de transporte particular, como Uber, Cabify e 99Pop, é um dos aspectos mais perceptíveis de uma profunda transformação, já em pleno andamento, na maneira como os consumidores se relacionam com os automóveis. Um dos produtos tradicionalmente mais cultuados no universo do consumo, o carro segue importante, mas começa a despertar uma atração diferente, especialmente entre o público mais jovem - que não deixa de usar os veículos, mas já não sente tanta necessidade de possuí-los. No mundo dos seguros, isso se reflete na necessidade de adaptação das modalidades já existentes e no surgimento de novos produtos - como a recente categoria de carros por assinatura.
É uma proposta relativamente simples: pagando uma mensalidade, o cliente tem direito a usar um veículo zero quilômetro por um tempo determinado - um ou dois anos, via de regra. Nesse período, não é necessário pagar os impostos ou lidar com a documentação do carro. Custos de manutenção e de seguro já estão incluídos na tarifa, com direito a assistência 24 horas e franquia para caso de sinistros. Terminado o contrato, o cliente pode iniciar um novo ciclo, com outro carro.
Uma das principais vantagens do serviço é evitar as perdas decorrentes da depreciação do veículo próprio. "Com essa opção, não é preciso investir em um carro. A depreciação é alta, o carro sai da concessionária e já tem uma depreciação de 20%. E às vezes, (o importante) não é só o custo financeiro, mas também o tempo envolvido com a burocracia e a manutenção de um carro próprio. O tempo é valor", resume Claudir Couto, gerente da sucursal da Porto Seguro no Rio Grande do Sul, que oferece a modalidade Carro Fácil desde o ano passado.
Em Porto Alegre, por exemplo, estão disponíveis veículos de marcas como Audi, Chevrolet, Ford, Hyundai, Jeep e Nissan. Segundo Couto, os mais procurados são modelos populares, como o HB20 e o Onix - para os quais a mensalidade fica em torno de R$ 1,4 mil. "Em média, saem um a dois carros por semana. Vendemos no site, e os corretores divulgam e comercializam também", explica o gerente. O produto tem inspiração nos modelos de leasing europeus, e busca oferecer mais benefícios do que o aluguel nas locadoras tradicionais. "A cobertura de quilometragem e de danos a terceiros é maior, e também se oferece carro reserva por tempo indeterminado", compara Couto.
Um dos pioneiros no uso do serviço em Porto Alegre foi justamente um dos corretores encarregados de comercializar o Carro Fácil. Breno Kor, 67 anos, percebeu que a novidade poderia suprir suas necessidades. "Eu estava para vender o carro que eu tinha e resolvi experimentar o projeto como usuário. Eu tinha um Audi que saiu da garantia. Quis um veículo mais urbano e econômico, aí optei pelo de assinatura, um Onix completo. Mas há modelos maiores também", explica o corretor.
A avaliação é positiva. "Foi útil e oportuno. No momento de fazer a revisão, por exemplo, eu não precisei me deslocar (à oficina). Normalmente, (com o carro próprio), tu tens que agendar a revisão e se deslocar. E o carro veio, por exemplo, com sensor para facilitar o acesso em estacionamentos de shoppings. É um detalhe que nem sempre a gente lembra", observa Kor.
O corretor usou o produto por um ano, até julho de 2017, e já planeja fazer novos contratos mais adiante. Ao mesmo tempo, ele percebe que a modalidade vem despertando interesse dos clientes. "Há perfis diversos, uns se interessam pela dificuldade de comprar um carro novo, outros por curiosidade. (A novidade) chama a atenção dos jovens, mas também de quem faz um planejamento financeiro. Pega todas as faixas", observa Kor.
"Creio que seja uma tendência. As pessoas querem a experiência, e muitas não estão mais preocupadas com a posse. Não se fala da compra (do carro), mas da despesa do uso do veículo que decorre da propriedade. Pode-se aplicar (de outras formas) o valor que seria usado em um carro novo. Em vez de depreciar, ganha. E também é uma comodidade", analisa Kor.
O momento é novo, concorda Couto: "O mercado de carros está se restringindo. Há os carros elétricos, os automatizados e o compartilhamento de veículos, que é cada vez mais forte em São Paulo, por exemplo. Está mudando a questão de ter o carro. Tentamos fazer com que o cliente enxergue este novo mundo de uma nova maneira, fazê-lo ver que pode usar esse dinheiro para outros investimentos".
Empresas lançam novas modalidades e aplicativos
Entre as novidades, há um seguro de automóveis com preços enxutos
MIGUEL SCHINCARIOL/MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/JC
Também no vasto mercado dos seguros de automóveis para quem tem carro próprio, as novidades tecnológicas e econômicas vêm determinando mudanças nas estratégias das seguradoras. Um efeito disso é o surgimento recente de modalidades de seguro mais compactas, como resposta ao contexto de recessão e desemprego dos últimos anos. "Com a crise, surgiram produtos mais leves (em seguros de automóveis), voltados para carros populares, por exemplo. Há muito roubo de carro, as pessoas não querem deixar desprotegido", ressalta o corretor Breno Kor.
Entre esses novos produtos, está a linha de seguros Aliro, da Liberty Seguros. O primeiro deles é um seguro de automóveis mais básico, com coberturas e preços mais enxutos. "A comercialização começou em setembro em todo o País, e superou as expectativas de vendas", informa Pedro Moreira Garcia, gerente de filial da Liberty em Porto Alegre e também diretor do Sindicato das Empresas de Seguros Privados, de Resseguros e de Capitalização no Estado do Rio Grande do Sul (Sindseg-RS). Segundo ele, em breve, produtos com o mesmo perfil serão disponibilizados em modalidades de seguros de vida e residência.
Outra novidade da Liberty é destinada aos smartphones. O aplicativo Direção em Conta monitora o desempenho do carro e do condutor e, em 60 dias, estabelece um perfil do cliente - permitindo, conforme as características verificadas, oferecer descontos no seguro do carro. "O grande desafio é criar alternativas de produtos", resume Garcia. "O mercado está mudando, temos que mudar junto. É preciso ter criatividade e se adaptar às mudanças tecnológicas e de comportamento. E também à capacidade econômica do consumidor", concorda Kor.