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Trabalho

- Publicada em 29 de Outubro de 2017 às 21:30

Governo vai esperar reações para regulamentar reforma trabalhista

Segundo o ministro Ronaldo Nogueira, texto aprovado está pronto

Segundo o ministro Ronaldo Nogueira, texto aprovado está pronto


VALTER CAMPANATO/VALTER CAMPANATO/ABR/JC
O governo federal optou por uma estratégia arriscada no processo de regulamentação das novas normas trabalhistas: vai esperar as reações e, só então, decidir sobre decretos e portarias com detalhamento dos temas mais polêmicos. A julgar pelo acúmulo de dúvidas de patrões, empregados e advogados desde a tramitação da reforma, aprovada em julho pelo Congresso Nacional, muitos pontos permanecem obscuros.
O governo federal optou por uma estratégia arriscada no processo de regulamentação das novas normas trabalhistas: vai esperar as reações e, só então, decidir sobre decretos e portarias com detalhamento dos temas mais polêmicos. A julgar pelo acúmulo de dúvidas de patrões, empregados e advogados desde a tramitação da reforma, aprovada em julho pelo Congresso Nacional, muitos pontos permanecem obscuros.
As mudanças na legislação trabalhista entram em vigor no próximo dia 11. Um integrante do governo que participa das discussões sobre a reforma confirmou que o plano é "ver primeiro como o mercado vai se comportar". O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, sustenta que a legislação está pronta para entrar em vigor com as alterações feitas no Congresso. "Todas as modificações feitas ao projeto apresentado pelo Ministério do Trabalho foram debatidas pelos parlamentares e discutidas nas várias comissões, seguindo o rito estabelecido em um regime democrático", afirmou. O ministério informou que "a lei é autoaplicável e não exige regulamentação".
Enquanto defensores da reforma, como o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra, afirmam que ela reduzirá disputas judiciais, alguns especialistas apostam que, sem regulamentação, as mudanças tendem a aumentar os confrontos entre trabalhadores e empresas no Judiciário. Alguns sindicatos já tentam incluir nos acordos com as empresas uma "cláusula de salvaguarda", para se protegerem de normas que consideram prejudiciais em relação ao que vale hoje. "A discussão da lei foi açodada. Há vícios que precisam ser corrigidos", diz o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Guilherme Feliciano.
Ainda há dúvidas em questões como a necessidade de aditivos contratuais, a participação de sindicatos em negociações e sobre o trabalho intermitente e em home office. A declaração de juízes trabalhistas de que não seguirão algumas determinações da lei colocou ainda mais lenha na fogueira.
Há duas semanas, a Anamatra divulgou uma lista com 125 enunciados contendo recomendações de como os magistrados devem interpretar as novas regras - algumas foram, inclusive, consideradas inconstitucionais, e o entendimento é que não serão seguidas. "É muito preocupante, porque ainda não sabemos como os juízes vão encarar várias situações", diz o advogado Giancarlo Borba, sócio da área trabalhista do escritório Siqueira Castro. Para os especialistas, os pontos mais polêmicos da reforma só serão pacificados depois de dois ou três anos em análise no Judiciário, alguns deles só quando o Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestar.
Mesmo antes de entrar em vigor, o texto da nova legislação deverá passar por mudanças, o que tem causado ainda mais insegurança. O presidente Michel Temer prometeu fazer ajustes acordados com a base aliada.

Sindicatos tentam se blindar de normas prejudiciais

Trabalhadores com data-base neste fim de ano, período em que precisam negociar com as empresas índices de reajustes e benefícios sociais, tentam incluir nos acordos uma "cláusula de salvaguarda" para se protegerem de normas da reforma trabalhista que consideram prejudiciais em relação ao que vigora atualmente.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista foi o primeiro a garantir essa cláusula nas negociações com empresas de sua base na semana passada. "A cláusula estabelece que qualquer mudança precisa ser negociada com o sindicato", diz Wagner Santana, presidente da entidade. "É uma espécie de vacina para evitar medidas que prejudiquem os trabalhadores."
Até sexta-feira, dos 73 mil metalúrgicos do ABC, 59 mil trabalham em empresas que concordaram com a medida ou já têm acordo para os próximos dois anos com esse tipo de garantia, como as montadoras. "Nas empresas em que não há acordo, os trabalhadores estão parando a produção, e muitas já voltaram atrás", informa o sindicalista. Para José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com a inflação em baixa, as negociações neste fim de ano se voltam mais para garantias contra itens da reforma do que aumentos salariais.
Na base dos metalúrgicos de São Paulo, as empresas ainda estão inseguras em relação a posições divulgadas recentemente por membros do Judiciário sobre a constitucionalidade de pontos da reforma e aguardam para iniciar negociações, disse Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. A entidade representa 150 mil trabalhadores, dos quais 27% são filiados. "Também estamos trabalhando com a cláusula de salvaguarda, mas as empresas, por enquanto, não querem falar disso", afirma.
Os químicos de São Paulo conseguiram manter, em acordo fechado na última sexta-feira, as cláusulas sociais previstas em convenções anteriores, como proibição do trabalho de gestantes em locais insalubres. Também conquistaram repasse integral da inflação para os 150 mil trabalhadores da base, segundo Sergio Luiz Leite, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar).
Por precaução, os comerciários paulistas deixaram para fevereiro as discussões com as empresas, quando esperam já haver maior entendimento sobre a aplicação da reforma. A data-base dos 400 mil trabalhadores do setor foi em setembro.
A maior preocupação do presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, é com a manutenção dos serviços prestados pela entidade após o fim da cobrança do imposto sindical. "Hoje, temos orçamento de R$ 90 milhões, mas, sem o imposto, esse valor vai cair para R$ 20 milhões e teremos de adaptar estruturas e serviços." Segundo ele, o quadro de 600 funcionários será reduzido em 15%, e a qualidade dos serviços prestados mensalmente a 20 mil trabalhadores no complexo médico e odontológico, que conta inclusive com equipamento para mamografia, poderá cair. Entre as medidas que serão adotadas para melhorar a arrecadação da entidade, que tem 52 mil associados, está o aluguel de quatro dos 13 andares do prédio que abriga o sindicato, no Centro de São Paulo, e a terceirização ou venda do clube de campo em Cotia (SP).
Nesta semana, Patah, que preside a União Geral dos Trabalhadores (UGT), estará em Brasília para retomar conversas com o presidente Michel Temer sobre alternativas à cobrança do imposto sindical, entre elas, uma taxa substituta de contribuição negocial.
Wagner Santana diz que também haverá corte de custos e de pessoal na sede do sindicato em São Bernardo do Campo, e uma campanha mais forte de sindicalização. Hoje, dos 73 mil trabalhadores da base, 35 mil são filiados. A entidade continuará cobrando taxa negocial de 4% de um salário mensal de todos os trabalhadores, valor devolvido aos sócios. Os metalúrgicos de São Paulo também farão campanha mais forte de sindicalização e avaliam até propaganda na mídia, afirma Miguel Torres.
 

Empresas demonstram otimismo com nova lei

Para a montadora Mercedes-Benz, haverá mais segurança jurídica

Para a montadora Mercedes-Benz, haverá mais segurança jurídica


/NELSON ALMEIDA/AFP/JC
Indústria, comércio e empresas de serviços demonstram otimismo com a reforma trabalhista, apesar das incertezas das últimas semanas com reações contrárias por parte de alguns juízes. "Precisamos de um período para compreender e identificar o que se altera e o que reforça conceitos que já adotamos, mas, sem dúvida, a reforma trabalhista trará mais segurança jurídica para as empresas, o que é bastante positivo", informa a direção da Mercedes-Benz.
A montadora tem pouco mais de 8 mil funcionários e responde a cerca de 3 mil ações trabalhistas. A empresa informa que as equipes das áreas de recursos humanos e do jurídico estão em treinamento para interpretar as novas normas.
O diretor da área de Recursos Humanos da ThyssenKrupp, Adilson Sigarini, diz que a empresa fez várias palestras para explicar a reforma aos funcionários e acredita em redução de ações trabalhistas no médio e longo prazos. "Se tiver alguma medida inconstitucional, como alegam alguns grupos, certamente o Tribunal Superior do Trabalho vai corrigir isso."
Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, acredita que haverá aumento de empregos em geral. A rede, por exemplo, vai reforçar o número de funcionários nas lojas para horários e dias de pico por meio de contratos intermitentes. No fim do ano, também contratará de 8 mil a 10 mil temporários, "processo que agora será menos burocrático". Rocha acredita que podem ocorrer alguns "inconvenientes" no início da aplicação das novas normas, "mas logo as partes vão entender que a reforma é boa para os dois lados".
Algumas empresas estão se antecipando às novas normas. O grupo Sá Cavalcante, dono de vários shopping centers, publicou anúncios de abertura de 70 vagas para trabalho intermitente em Vitória (ES). O salário é de
R$ 4,45 por hora para jornada de cinco horas aos sábados e domingos em lojas do shopping local. Empresa e sindicato foram procurados, mas não comentaram.
Paulo Canoa, diretor da filial brasileira da Gi Group, empresa de trabalho temporário, diz que "a lei permitirá que se crie um ambiente mais seguro para contratar". Segundo ele, desde abril, o grupo tem notado aumento no recebimento de currículos e no número de vagas. "Houve aumento de 40% de vagas em relação a 2016", diz.
Para a Ethics, especializada em segurança e vigilância, o compasso é de espera. "O mercado está apreensivo porque ainda não há uma decisão de como proceder com as reformas. Alguns juízes trabalhistas defendem a permanência da legislação anterior, e estamos acompanhando as notícias", diz Waldemar Pellegrino Júnior, sócio do grupo.

'Rei' das ações prevê 'tsunami' de processos

Um dos maiores escritórios que atua exclusivamente na área trabalhista, o Agamenon Martins Sociedade de Advogados, com sede em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, não teme por uma eventual queda no número de ações na Justiça, uma das metas dos formuladores da reforma trabalhista.
"Haverá brutal aumento de demandas trabalhistas", prevê Agamenon Martins Oliveira, sócio do escritório criado há 25 anos. Hoje, ele e os mais de 80 advogados que trabalham no escritório abrem, em média, 2 mil ações por mês.
Agamenon acredita que nos setores de serviços, comércio e construção civil "haverá um tsunami" de demandas. Segundo ele, são setores de alta sazonalidade e "turnover" e "alguns empregadores mal orientados vão adotar procedimentos engenhosos, seja para contratação ou demissão, imaginando que a partir de 11 de novembro quase tudo poderá (ser feito) no campo das relações laborais".