Evento inspirado na promoção norte-americana, que ocorre um dia após o feriado de Ação de Graças (Thanksgiving) - celebrado nos Estados Unidos na quinta-feira da quarta semana de novembro -, a Black Friday já é a data comercial que mais cresce em faturamento no mercado brasileiro. "De todas as ações promocionais do comércio brasileiro, esta é a única que tem crescido dois dígitos por ano", comenta o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e Pesquisador da Fundação Instituto de Administração (FIA), Alberto Guerra. Em 2016, as vendas da Black Friday cresceram 17% em relação ao ano anterior, e a estimativa é de que a edição de 2017 aumente entre 15% e 20% no faturamento. "Enquanto houver consumidores em potencial, o evento deve crescer. E cerca de um terço da população economicamente ativa ainda não comprou nesta data", mensura Guerra.
Especialista no tema da Black Friday no cenário nacional e internacional, ele palestrou ontem à noite em evento ocorrido na FGV Decision, que contou com a participação do presidente do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (Sindilojas Porto Alegre), Paulo Kruse. Na ocasião, Guerra apresentou a lojistas e estudantes das áreas de gestão, varejo e serviços os resultados de sua pesquisa inédita com as principais práticas e dicas para empresários se planejarem melhor para o evento.
De acordo com o especialista, a ação promocional - que, neste ano, ocorre, no Brasil, no dia 24 de novembro - gera efeitos positivos, como alavancagem de vendas e ganho de escala, mas também é responsável pelo represamento da demanda nas duas primeiras semanas de dezembro (quando, segundo ele, acontece uma espécie de ressaca dos consumidores). "É neste período que os varejistas precisam se organizar para atrair clientes, o que pode ser feito com aumento de prazos nas compras de dezembro", ou com outras formas de indução, de acordo com o especialista. "Muitos lojistas optam por oferecer brindes ou descontos para compras em outras lojas (através de parcerias) ou entregam vouchers de desconto para as duas primeiras semanas de dezembro", exemplifica.
Também as compras pela internet, com a busca dos produtos direcionada para as lojas, ajudam a aumentar o interesse dos consumidores para outras demandas, no momento que circulam pelo espaço físico das empresas. "Costumamos aproveitar o apelo de consumo da primeira parcela do 13º salário, inclusive não sentimos esse represamento da demanda, pelo contrário, a Black Friday representa sempre um ganho em vendas", contrapõe Kruse. O dirigente afirma que esta é mais uma data importante do calendário do varejo, principalmente em tempos de crise. Kruse comenta que o sindicato incentiva que os pequenos empresários participem do evento, para não ficarem à margem. "Os descontos são interessantes, e é uma oportunidade das pessoas comprarem presentes de Natal com preços mais acessíveis."
De acordo com o dirigente do Sindilojas Porto Alegre, a Black Friday vem crescendo ano a ano em faturamento e em adesão de empresas: "Esperamos um aumento de vendas entre 10% a 15% na edição deste ano." Segundo o pesquisador da FIA, o evento é uma ótima oportunidade para os lojistas escoarem estoques. "Aliás, os consumidores que procuram lançamentos nesta data, em geral, se frustram. É uma ação para venda de produtos mais obsoletos, pois os fabricantes liberam lotes de coleções antigas, que negociam com preços mais baixos para os varejistas." De acordo com o especialista, os produtos mais vendidos durante a Black Friday são utilitários (mais de uso pessoal do consumidor do que como alternativa de presentes). "Em geral, a procura é por eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Mas a categoria moda - principalmente os tênis - também está crescendo em demanda."
Somente no e-commerce, a Black Friday movimentou R$ 1,9 bilhão no mercado brasileiro em 2016, e a estimativa é de que, neste ano, o evento represente R$ 2,2 bilhões somente em vendas pela internet.