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literatura

- Publicada em 19 de Outubro de 2017 às 08:49

Mario Corso estreia em crônicas com o livro 'O lacaniano de Passo Fundo'

Corso puxa o leitor para uma boa conversa e convida ao riso, ao suspiro e à reflexão

Corso puxa o leitor para uma boa conversa e convida ao riso, ao suspiro e à reflexão


MAURICIO CAPELLARI/DIVULGAÇÃO/JC
Atualizada em 22/10/2017.
Atualizada em 22/10/2017.
Impossível não identificar nas páginas do novo livro do psicanalista e escritor Mário Corso aqueles tipos que povoam a fila de qualquer supermercado, uma mesa de bar ou uma fila de teatro, para citar alguns exemplos. Publicado pela Arquipélago Editorial, O lacaniano de Passo Fundo (208 páginas, R$ 39,90), foi lançado nesse sábado, no Baden Cafés Especiais (Jerônimo de Ornelas, 431).
É a primeira vez que Corso reúne em livro suas crônicas. O lacaniano de Passo Fundo é um prato cheio de ironias para enfrentar, com bom humor, a miséria cotidiana do homem. O autor puxa o leitor para uma boa conversa e convida ao riso, ao suspiro e à reflexão. "É o que falta hoje. Um pouco de paz, de bom humor. Está todo mundo dividido entre não e sim, e não existe meio-termo", avisa Corso.
O título é uma óbvia homenagem a outro psicanalista famoso da literatura gaúcha - O analista de Bagé, de Luis Fernando Veríssimo. Corso publica, no livro, uma fictícia entrevista com o lacaniano, considerado por ele um discípulo do colega bageense. Ele também brinda o leitor com uma afiadíssima versão politicamente correta do clássico Chapeuzinho Vermelho - além de brincar com a figura do "tudologista", aquele amigo ou conhecido com PhD em absolutamente tudo. "É bom nunca contrariar um tudologista", avisa ele, bem-humorado.
Corso aconselha, ainda, apreciar as redes sociais com moderação; entender que as melhores perguntas não têm resposta e sugere não amar quem não aceita conhecer outros jeitos de ver a vida. Entre outras figuras simbólicas e acontecimentos diretamente conectados à nossa realidade, O lacaniano de Passo Fundo, em suas mais de 200 páginas, abre espaço para o Diabo que foi superado em malvadeza pelos internautas do ódio e a sigilosa associação de mães que inventou as selfies. É impossível separar o lado psicanalista na análise do rotineiro, do dia a dia, admite Mário Corso. "É involuntário, tu olha o mundo por outro prisma. Mas não é um livro de análise, que fique claro", explica.
Natural de Passo Fundo, Mário Corso também é autor de Monstruário; inventário de entidades imaginárias brasileiras (Tomo, 2002), com menção honrosa no Prêmio Jabuti, e A história mais triste do mundo (Bolacha Maria, 2014), vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura como melhor livro infantil.
Em coautoria com sua esposa, Diana Corso, publicou Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis (Artmed, 2005) e Psicanálise na Terra do Nunca: ensaios sobre a fantasia (Artmed, 2011), ambos finalistas do Prêmio Jabuti, além de Adolescência em cartaz (Artmed, 2017). Este último tema, aliás, volta em novo livro, escrito em parceria com Diana, e que terá lançamento nos próximos meses.

Petisco literário (trechos do livro)

Obra será publicada pela Arquipélago Editorial

Obra será publicada pela Arquipélago Editorial


ARQUIPÉLAGO/DIVULGAÇÃO/JC
O tudologista e o churrasco
Para quem ainda não sabe, o tudologista é o especialista em tudo. Se você perguntar: tudo, mas como assim? Em qual área? Já são sinais de que não entendeu o conceito. Tudo é tudo mesmo. O verdadeiro tudologista tem resposta ou opinião sobre qualquer assunto.(...)
Esses dias, tive a felicidade de ter um tudologista ao meu lado, na churrasqueira. Ele me ensinou a essência do processo do cozimento da carne e a transcendência dos pequenos gestos. Precisei de humildade e calma, ainda mais tendo uma faca de carne na mão, pois o mestre me apontou falhas imperdoáveis na condução do preparo da refeição.
Todo torcedor é bipolar
Os psiquiatras não desenvolveram o conceito da bipolaridade observando pacientes, e sim torcedores. Só depois perceberam que ela poderia ser útil para pensar o comportamento de algumas pessoas.
A lógica do torcedor é simples e direta: só se move pela hipérbole, pela grandiosidade, pelos extremos. Ou ele está rumo a disputar o mundial interclubes, ou sente que o chicote do destino o empurra para a segunda divisão. O meio-termo não faz parte de seu sistema classificatório. Para a esquadra amada só existem o céu e o inferno. Ou tomará cerveja gelada com batatinha frita junto a São Pedro, ou engolirá leite de soja morno com petiscos de tofu na companhia do medonho.