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Teatro

- Publicada em 08 de Outubro de 2017 às 18:03

Caio de corpo e alma

Mal encerradas as atividades do Porto Alegre em Cena, a cidade recebeu, a partir do último dia 27 de setembro, o Festival Caio entre nós, homenagem ao escritor Caio Fernando Abreu, natural de Santiago, que escreveu durante muito tempo em Porto Alegre, onde atuou também como jornalista, mudando-se depois para São Paulo. Caio Fernando Abreu foi, basicamente, contista. Mas produziu algum romance e, sobretudo, por questão de sobrevivência, dedicou-se à crônica, atividade, aliás, que, desde a segunda metade do século XIX tem se apresentado como alternativa de sobrevivência e projeção/popularização de boa parte de nossos escritores.
Mal encerradas as atividades do Porto Alegre em Cena, a cidade recebeu, a partir do último dia 27 de setembro, o Festival Caio entre nós, homenagem ao escritor Caio Fernando Abreu, natural de Santiago, que escreveu durante muito tempo em Porto Alegre, onde atuou também como jornalista, mudando-se depois para São Paulo. Caio Fernando Abreu foi, basicamente, contista. Mas produziu algum romance e, sobretudo, por questão de sobrevivência, dedicou-se à crônica, atividade, aliás, que, desde a segunda metade do século XIX tem se apresentado como alternativa de sobrevivência e projeção/popularização de boa parte de nossos escritores.
O espetáculo O tempo é só uma questão de cor tem dramaturgia e direção de Antonio Gilberto, diretor também sul-rio-grandense que, não obstante, migrou para o Rio de Janeiro há muito tempo, onde vem desenvolvendo sua carreira. Gilberto fez cuidadosa leitura dos textos em prosa de Caio - contos e crônicas - e buscou literalmente costurá-las, de modo que o final de uma situação, desenvolvida num texto, permite a abertura para uma outra situação e um outro texto. Assim, o roteiro final a ser interpretado pelo ator carioca Maurício Silveira não é um simples recital, mas de certo modo um monólogo que se desdobra à frente do público, como que provocado a partir de fragmentos de memória, na verdade, fragmentos de textos originais de Caio Fernando Abreu que ganharam novos sentidos quando na composição de um terceiro texto.
No relativo aconchego da sala do Sesc, da avenida Alberto Bins, Maurício Silveira como que encarna o escritor. O espetáculo é absolutamente natural: o personagem em cena reflete em voz alta, rememora acontecimentos, reflete a respeito de situações, expressa desejos e frustrações: é, acima de tudo, um personagem vivo. E este é o grande mérito do espetáculo, que estreará sua temporada nos próximos dias, no Rio de Janeiro. Não é mais o ator Maurício Silveira, que vislumbramos no palco, mas a figura do personagem, seja ele Caio Fernando ou qualquer outro nome que se lhe queira dar.
O tempo é só uma questão de cor tem como referência pelo menos dois diferentes textos do escritor sul-rio-grandense, um deles encerrando um conto e o outro, parece-me, trazida em uma crônica. Esta cor tem a ver com a vitalidade do personagem: a passagem do tempo faz a cor esmaecer e perder-se, tornando-se memória, apenas. Talvez por isso mesmo, a intimidade e a naturalidade buscadas pela direção emocionam e contagiam o espectador: sua altíssima comunicabilidade cria como que uma espécie de conivência entre personagem e público, como se o personagem estivesse conversando exclusivamente apenas comigo, o que permite uma empatia entre aquilo de que ele fala (experiência) e aquilo que já experimentamos ou imaginamos que poderíamos experimentar.
Maurício Silveira, por certo, não é Caio, nem pretende ser, mas é como se fosse, e é esta evidência que nos aproxima do personagem, aliás, criado com eficiência, sobretudo por sua naturalidade, para o que competiu a preparação vocal (Rose Gonçalves) e corporal (Lovie Elizabeth), permitindo esta incorporação do personagem pelo intérprete. Num palco nu, ocupado apenas por dois cubos vazados que sugerem diferentes espaços e o próprio ator/personagem, com figurino escuro (Colmar Diniz, em ambos os casos), o que como que o projeta num espaço infinito e aberto, como se flutuasse entre nós, os sentimentos do personagem soam em alto e bom tom, obrigando-nos a ouvi-los e a refletir sobre eles, necessariamente. A experiência final é de um encontro com o personagem. Saímos do espetáculo com a clara sensação da solidão do personagem, de sua sensibilidade superior e de sua absoluta consciência quanto a estes sentimentos verbalizados. O teatro ganha enquanto valorização da voz, do diálogo entre personagem e plateia, do movimento físico desenvolvido num determinado espaço (o do palco) universalizado. Bela experiência, fazendo-nos torcer para que o espetáculo tenha boa acolhida no Rio de Janeiro.
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