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Cinema

- Publicada em 05 de Outubro de 2017 às 23:10

A invasão

Os absurdos e os exageros contidos em Mãe!, o novo filme do diretor Darren Aronofsky, resumem uma tendência do cinema atual, aquela na qual muitos realizadores, procurando esconder sua incapacidade em criar personagens e suas deficiências em tentativas de esclarecer aspectos da realidade, apelam para a deformação e para a simplificação. No caso de Aronofsky, o realizador do superestimado Cisne negro, tal orientação é clara em todos os momentos da narrativa, marcada por excessos que, em vez de causar impacto, terminam gerando desinteresse e monotonia. O filme padece, também, do grave defeito de procurar quase sempre o grande momento, esquecendo seu realizador que o equilíbrio entre as cenas é algo necessário para que um filme se mantenha como peça capaz de prender a atenção do espectador. Assim, o que pretende ser um relato de suspense termina se constituindo numa sucessão de situações filmadas com aquela ênfase que procura esconder o vazio da proposta. O realizador, que no citado Cisne negro havia colocado em cena a figura da mãe opressora, numa tentativa frustrada de realizar um novo Psicose, esqueceu a lição fundamental de Hitchcock e outros mestres do gênero, aquela que ensina que a grande ameaça está contida na realidade e que é no cotidiano que o drama impactante deve ser procurado e transformado em matéria dramática, sem a utilização de recursos visivelmente artificiais e que atualmente estão disponíveis a qualquer um que obtenha condições de realizar um filme.
Os absurdos e os exageros contidos em Mãe!, o novo filme do diretor Darren Aronofsky, resumem uma tendência do cinema atual, aquela na qual muitos realizadores, procurando esconder sua incapacidade em criar personagens e suas deficiências em tentativas de esclarecer aspectos da realidade, apelam para a deformação e para a simplificação. No caso de Aronofsky, o realizador do superestimado Cisne negro, tal orientação é clara em todos os momentos da narrativa, marcada por excessos que, em vez de causar impacto, terminam gerando desinteresse e monotonia. O filme padece, também, do grave defeito de procurar quase sempre o grande momento, esquecendo seu realizador que o equilíbrio entre as cenas é algo necessário para que um filme se mantenha como peça capaz de prender a atenção do espectador. Assim, o que pretende ser um relato de suspense termina se constituindo numa sucessão de situações filmadas com aquela ênfase que procura esconder o vazio da proposta. O realizador, que no citado Cisne negro havia colocado em cena a figura da mãe opressora, numa tentativa frustrada de realizar um novo Psicose, esqueceu a lição fundamental de Hitchcock e outros mestres do gênero, aquela que ensina que a grande ameaça está contida na realidade e que é no cotidiano que o drama impactante deve ser procurado e transformado em matéria dramática, sem a utilização de recursos visivelmente artificiais e que atualmente estão disponíveis a qualquer um que obtenha condições de realizar um filme.
No filme anterior, o realizador mostrava seu interesse por Hitchcock. Agora, ele provavelmente procurou inspiração em O bebê de Rosemary. Mas basta comparar um filme com outro para que se verifique os equívocos do atual. O acerto de Polanski estava justamente na encenação realista, algo que alguns costumam chamar de cinema narrativo. O suspense emanava de situações cotidianas, uma escolha que permitiu a criação de muitas obras-primas do gênero. Um exemplo mais recente, e que talvez também seja do conhecimento de Aronofsky, é o de Funny Games, de Michael Haneke, filme que não tem equivalentes na capacidade de criar mal-estar no espectador. Naquela obra, duas vezes filmada, por sinal, o terror surgia de onde menos se esperava e a invasão do cotidiano de uma família não necessitava de recursos confusos e figuras deformadas. A focalização da agressividade humana era feita de forma a configurar na tela todo o horror que formas culturais - as peças musicais ouvidas no carro, na cena inicial, são um símbolo claro - ocultam, mas não dominam completamente. São temas que em Mãe! reaparecem, mas de forma superficial e caricatural.
No meio de tanta confusão é possível verificar que o diretor procurou colocar na tela uma crise vivida por um casal sem nome. Isso fica claro na cena inicial, quando o marido se afasta da mulher sob o pretexto de que precisa tomar um banho. Quando a invasão começa, primeiro por um médico desconhecido, depois por sua esposa e mais tarde pela chegada dos bárbaros, essa separação ainda é mais evidente, pois o homem, um poeta em crise criativa, está evidentemente mais interessado em seu sucesso junto ao público do que no seu casamento e mesmo na integridade material da casa, tão pacientemente reconstruída após um incêndio. O problema é que a encenação é tão artificial e confusa, e a alegoria colocada de forma tão canhestra em cena, que tudo se transforma numa espécie de festa macabra, através da qual o realizador procura mostrar o que pensa do mundo em que vive. Essa invasão de bárbaros, espécie de baile carnavalesco dançado por figuras grotescas, muito distantes, por exemplo, dos motociclistas na cena final de Roma, de Fellini, não passa de um exemplo de como não se deve filmar uma crise civilizatória. Infelizmente, no momento, há muitos realizadores como Aronofsky, incapazes de encenar o real e dispostos a viver de alegorias. Se houver qualquer dúvida sobre o significado de um filme como este é só contemplar sua cena final, um recurso visivelmente artificial, que nada acrescenta e apenas complementa um desfile de deformações sem maior significado, além de ser assinalado por cenas tão pobres quanto espalhafatosas.
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