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Escândalo na aviação

- Publicada em 10 de Outubro de 2017 às 21:04

Corrupção faz Airbus prever 'tempos turbulentos'

Apesar de problemas estarem na área de aviões militares, o caso afeta a imagem de toda a companhia e pode reduzir venda de grandes jatos

Apesar de problemas estarem na área de aviões militares, o caso afeta a imagem de toda a companhia e pode reduzir venda de grandes jatos


/S. OGNIER/AIRBUS/DIVULGAÇÃO/JC
A gigante aeroespacial europeia Airbus, que divide o mercado mundial de aviões comerciais de grande porte com a norte-americana Boeing, está em apuros devido a um escândalo de corrupção que analistas temem ser tão grande quanto o que quase quebrou a alemã Siemens em 2006. Seu executivo-chefe, Tom Enders, previu "tempos turbulentos" devido ao caso, que pode gerar "multas substanciais" à empresa.
A gigante aeroespacial europeia Airbus, que divide o mercado mundial de aviões comerciais de grande porte com a norte-americana Boeing, está em apuros devido a um escândalo de corrupção que analistas temem ser tão grande quanto o que quase quebrou a alemã Siemens em 2006. Seu executivo-chefe, Tom Enders, previu "tempos turbulentos" devido ao caso, que pode gerar "multas substanciais" à empresa.
Ele fez os comentários em comunicado aos 134 mil empregados da Airbus após uma semana em que a mídia alemã revelou detalhes de uma investigação sobre a suspeita de pagamento de propina para garantir a venda de 18 caças avançados Eurofighter Typhoon para a Áustria.
A apuração começou há alguns anos, mas a revista Der Spiegel revelou que os investigadores de Munique estão prontos para indiciar os executivos da Airbus. O caso também é apurado por autoridades anticorrupção da França e do Reino Unido e, segundo a revista alemã, poderá atingir também uma série de negócios civis da empresa - em lugares como a China ou a Indonésia.
O caso da Áustria começou em 2003, quando o país decidiu trocar sua frota de caças. A sueca Saab era a favorita para vender o Gripen, o mesmo modelo escolhido pelo Brasil em 2013, que é um avião mais barato em custo e na operação. Surpreendentemente, o caro Eurofighter foi o escolhido, em um negócio de cerca de US$ 2 bilhões.
Não deu muito certo: em janeiro deste ano, o governo austríaco anunciou que irá trocar sua frota por algum modelo mais barato e de operação mais eficaz, sendo acusado pela Airbus de estar jogando politicamente. O país está investigando o contrato e seus detalhes. A apuração na Alemanha levou a três empresas suspeitas de serem laranjas de diretores da Airbus, cuja atual divisão de defesa era então chamada de EADS, abertas em 2014.
A principal delas fica em Londres e se chama Vector Aerospace, tendo dois funcionários e depositária de uma remessa de 114 milhões da gigante europeia. Oficialmente, eles receberam por negociar programas de "offset", ou seja, as compensações industriais que a Áustria receberia ao topar comprar o Eurofighter.
Só que, inicialmente, os programas seriam feitos dentro da estrutura da Airbus/EADS, sujeitos a multas se não fossem cumpridos, e não por terceiros, o que levou a suspeitas sobre o direcionamento do dinheiro. A Der Spiegel também localizou um contador romeno que teve contatos com a Airbus/EADS enquanto trabalhava numa escola em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Já de volta à Romênia, ele recebeu US$ 5 milhões por serviços de "offset" com a Áustria. Ele diz que nunca viu o dinheiro.
A combinação de empresas suspeitas, laranjas e propinas traumatizou a Europa em 2006, quando foi revelado que a gigante industrial alemã Siemens pagou a corruptos mundo afora. A empresa acabou condenada a US$ 2 bilhões em multas e foi submetida a um processo de compliance (conformidade com boas práticas) com a presença de auditores estrangeiros.
Há dezenas de casos semelhantes no mundo da venda de armamentos, em especial para países com baixo nível de controle de corrupção. Historicamente, França e Reino Unido são campeões em práticas do gênero no Oriente Médio e na Ásia, com escândalos famosos em sua conta. No ano passado, a brasileira Embraer fez acordo com o Departamento de Justiça dos EUA e pagou US$ 206 milhões para não ser punida por propina na venda de Super Tucano à República Dominicana, entre outros negócios.
A Airbus afirma que abriu voluntariamente seus arquivos aos investigadores sobre o caso apurado e que sua própria checagem não teria encontrado nenhuma irregularidade. Segundo o jornal econômico alemão Handelsblatt, o investigadores de Munique irão indiciar os executivos da Airbus, mas não o chefão, Tom Enders.
Sua posição, contudo, está ameaçada. É CEO, ou executivo-chefe, do grupo desde 2012, mas estava ocupando justamente cargos estratégicos na antiga EADS desde 2000. Invariavelmente, o grau de conhecimento dele do que for comprovado ou não estará em discussão.
O tombo ético vem em mau momento para a Airbus. A empresa saiu do famosos Paris Air Show com menos encomendas do que a rival Boeing pela primeira vez desde 2012 (346 x 571), e a venda de aviões comerciais no mundo está em baixa desde a crise global do final dos anos 2000.
A Airbus faturou US$ 78,6 bilhões em 2016, dos quais US$ 13 bilhões vieram de sua área de defesa. Seus ganhos antes de juros e impostos foram de US$ 4 bilhões. A Boeing, que tem um portfólio de defesa bem maior do que o da Airbus, teve ganho de US$ 5,8 bilhões e faturou US$ 94,6 bilhões no mesmo ano.
Desde o início das revelações, há duas semanas, as ações do grupo europeu vêm registrando queda - passaram de 82, no dia 5 deste mês, para 78 na terça-feira passada. Para complicar, sua estrutura acionária inclui os Estados alemão (11,1%), francês (11,1%) e espanhol (4,2%), o que, segundo a imprensa europeia, já está gerando uma troca feroz de acusações entre os governos nos bastidores.
 

Setor de jatinhos tem queda na demanda para a próxima década

Uma projeção para o setor de jatos executivos mostra um panorama "modesto" para as novas encomendas, graças a incertezas econômicas e ao ambiente político, bem como ao mercado "muito competitivo" de aeronaves usadas, afirma a Honeywell. Em projeção para o setor, a companhia prevê que sejam encomendados até 8.300 novos jatos executivos, no valor de US$ 249 bilhões, entre 2017 e 2027.
O número representa uma queda de 2 a 3 pontos percentuais na comparação com a projeção para o período entre 2016 e 2026. "O recuo nos preços das aeronaves usadas, os preços prolongadamente baixos das commodities e incertezas econômicas e políticas em muitos mercados de jatos executivos permanecem como preocupações no curto prazo para as novas compras, o que leva a um crescimento modesto em 2018", afirma no comunicado Ben Driggs, presidente da Americas Aftermarket, Honeywell Aerospace.
Segundo ele, ainda assim, há vários novos modelos no mercado, o que deve levar a um "crescimento sólido" nas compras no médio e no longo prazos. O levantamento da Honeywell aponta para entre 620 e 640 entregas de jatos executivos em 2017, com uma queda de cerca de 30 na comparação anual.
A companhia afirma que a projeção para o mais longo prazo, até 2027, aponta para um crescimento anual médio de 3 a 4 pontos percentuais ao ano, apesar da perspectiva mais baixa no curto prazo. Devem colaborar para isso a entrada de novos modelos e a melhora no desempenho econômico projetada. O levantamento mostra que o Brasil continua a ser um ponto positivo, com mais compras de novos jatos, embora os planos gerais de compras, que incluem aviões maiores, tenham recuado na comparação anual.
A Honeywell diz também que houve recuo nos planos de compras de Brasil, Rússia, Índia e China como um grupo, graças a uma queda significativa de China e Rússia. A América Latina, por sua vez, aparece como a única região com mais planos de compras em 2017 do que no ano passado. Os planos um pouco menores no Brasil ante 2016 são compensados pelo avanço significativamente maior dos planos do México, segundo a pesquisa.